Quando surge a pergunta sobre quem é o melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos, a resposta fica normalmente dividida entre dois nomes: Ayrton Senna e Michael Schumacher. O brasileiro morreu antes de conseguir quebrar todos os recordes, atingir todas as marcas e tornar-se o maior de sempre mas deixou um estatuto de lenda; o alemão alcançou tudo o que o ídolo tinha deixado por fazer. Schumacher é o maior e o melhor de todos os tempos e faz esta quinta-feira 50 anos. 50 anos de uma vida vivida a mais de 300 km/h e há cinco a cumprir a corrida mais longa.

Viveu uma vida de super herói. Desafiou os limites da física, foi mais rápido do que o imaginável e deixou números gigantescos para os sucessores terem algo que almejar. Foi melhor do que qualquer um tinha sido antes dele e ainda mais ninguém conseguiu ser tão bom quanto ele. Ainda assim, garantia que nunca tinha chegado ao limite pessoal. “Não sou uma lenda, sou só um tipo com sorte que tem estado onde tinha de estar no momento oportuno”, chegou a dizer. A sorte ter-se-á esgotado em dezembro de 2013, quando um acidente de esqui o deixou demasiado perto da morte e demasiado longe da vida. Os relatos e as confidências sobre o estado de saúde de Schumacher nada mais são do que rumores, tentativas e autênticas suposições: a família, liderada pela mulher Corinna, adotou o exemplo que o piloto tinha dado durante toda a carreira e fechou as portas de casa aos fotógrafos, aos jornalistas e a todos aqueles que poderiam utilizar informação privada para benefício próprio.

Cinco anos depois do acidente, o que é feito de Michael Schumacher?

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Esta quarta-feira, um dia antes do 50.º aniversário do alemão, a família Schumacher emitiu um comunicado que é, sem tirar nem pôr, uma versão resumida da imagem e da posição mantida durante cinco anos de silêncio e reclusão. “Podem ficar descansados. O Michael está em boas mãos e estamos a fazer todos os possíveis para o ajudar. Por favor, entendam que estejamos a seguir os desejos do Michael ao manter um tema tão reservado quanto a sua saúde na esfera privada”, podia ler-se na declaração da família do piloto alemão. Ainda assim, e sempre de maneira a levantar uma ponta do véu que não revela nada daquilo que os fãs querem realmente saber, a família de Schumacher anunciou que a Keep Fighting Foundation, a fundação criada pelo piloto, vai inaugurar um museu virtual onde os êxitos e as vitórias do alemão poderão ser recordados através de uma aplicação. Já no início do mês de novembro, como forma de arrancar a comemoração dos 50 anos de Schumacher, foi divulgada no site oficial do piloto uma entrevista dividida em dez perguntas que este tinha dado dois meses antes do acidente que o afastou da vida pública.

O aniversário de Michael Schumacher deu azo a declarações, elogios e palavras simpáticas de muitos daqueles que se cruzaram com ele nas garagens das corridas de Fórmula 1 ao longo dos anos. Um dos mais efusivos, como já vem sendo hábito, foi Jean Todt, antigo CEO da Ferrari e uma das pessoas mais próximas de Schumi durante o período que o piloto passou na scuderia italiana. “Repito que já vi muitas corridas de Fórmula 1 em casa dele e sei que verei muitas mais”, disse o francês, em referência a revelações anteriores que causaram muita polémica: na altura, garantiu que assistia a provas da modalidade com Schumacher, o que levou a comunicação social a escrever que o piloto estaria já consciente e com a capacidade de reconhecer pessoas. Em declarações ao El Mundo, Todt não se alargou, não confirmou se Schumacher o reconhece e limitou-se a dizer que espera continuar a assistir às corridas da prova rainha do automobilismo na companhia do alemão. Felipe Massa, piloto brasileiro que correu ao lado de Schumacher na Ferrari, garantiu que o alemão era um “professor” e Luca Cordero di Montezemolo, antigo presidente da equipa italiana, defendeu que sabe que o piloto “vai continuar a lutar porque tem uma grande determinação”. Todt, Massa e Montezemolo cumpriram os desejos de Corinna e da restante família Schumacher e pouco ou nada disseram – mas nem todos concordam com essa premissa.

Com Felipe Massa, que o considera um “professor”, em 2006 quando faziam equipa na Ferrari

Willi Weber, antigo manager de Schumacher, foi uma das pessoas excluídas por Corinna do grupo restrito que está autorizado a visitar Michael. “Acho muito infeliz que os fãs não possam saber tudo sobre a saúde dele. Porque é que não lhes dizem a verdade?”, desabafou o alemão ao Telegraph, confessando-se magoado por não poder estar perto do homem cuja vida geriu durante dez anos. Mas para o auto-denominado maior fã de todos, não há qualquer problema. Reiner Ferling vive perto da cidade onde Schumacher nasceu, nos subúrbios de Colónia, e é o presidente do clube de fãs oficial do piloto alemão. Ferling é conhecido no mundo da F1 e começou a atrair atenção desde que se empenhou em assistir a todas as corridas do Mundial da modalidade – sempre com um chapéu com um busto de Schumacher. Desde 2013, ano do acidente, os esforços de Reiner Ferling têm-se dedicado à manutenção do legado do piloto e no passado dia 29 de dezembro, cinco anos depois da queda do alemão nos Alpes franceses, juntou-se a outros membros do clube de fãs na Gran Canaria para construir uma gigantesca escultura de areia em homenagem a Schumacher. Esta quinta-feira, dia do 50.º aniversário, o clube vai organizar uma festa e gravar todas as mensagens de melhoras num CD, para depois o enviar à família.

Com Jean Todt, considerado um dos obreiros dos feitos de Michael Schumacher na Ferrari

“O nosso clube de fãs tem 3.500 membros e todos respeitam a opinião da família. O Michael é um perfecionista, não deixa nada ao acaso. De certeza que tinha escrito tudo o que devia ser feito caso alguma coisa lhe acontecesse, como precaução. Na altura apropriada, vamos saber mais, mas até lá, garantimos que o Michael tem a sua paz. O Michael sempre protegeu a sua família. Agora a família protege-o a ele”, disse Reiner Ferling ao Telegraph.

Mas entre todas as mensagens simpáticas e repetitivas surgiu uma, quiçá, mais iluminada. Nico Rosberg, antigo campeão de Fórmula 1 que decidiu reformar-se repentinamente dias depois de conquistar o Campeonato do Mundo, alertou para a pressão extrema que está a ser colocada nas costas de Mick Schumacher, o filho mais novo do heptacampeão que venceu em 2018 o Campeonato Europeu de Fórmula 3. “Já é duro o suficiente que toda a Alemanha tenha os olhos postos nele. É importante que não perca o entusiasmo ao volante. Desejo que alcance tudo aquilo que se proponha a alcançar, e se um dia isso for a Fórmula 1, então será muito bonito”, disse o antigo piloto da Mercedes à Dpa. Afinal, Rosberg sabe do que está a falar: numa modalidade que assenta em gerações e dinastias, Nico e o pai, Keke, tornaram-se apenas os segundos pai e filho da história a sagrarem-se campeões do mundo de F1 (um em 2016, o outro em 1982). Antes, apenas os britânicos Graham e Damon Hill o tinham conseguido (1962/68 e 1996).

Mick deixou os “pseudónimos”, mostrou os genes de Schumacher mas não abdica de escrever a sua história

No dia do aniversário do pai, Mick limitou-se a partilhar no Instagram o vídeo promocional da aplicação que vai suportar o museu virtual. Já Gina-Marie, a filha mais velha do piloto alemão, publicou várias fotografias de Schumacher e escreveu “parabéns ao melhor pai”. Cinco anos depois do acidente, pouco ou nada se sabe sobre o estado de saúde do maior piloto de sempre da Fórmula 1; mas 50 anos depois do nascimento de Michael Schumacher, o mundo sabe que o legado de um dos melhores da história do desporto está vivo e vai perdurar.

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