A 8 de dezembro de 2018, Chaim Teller, de 12 anos, e Yante Teller, de 14, foram raptados perto de sua casa em Nova Iorque. Só foram encontrados três semanas depois a quase 4.000 quilómetros de distância, num hotel na Cidade do México. Este é o mais recente escândalo da seita Lev Tahor, uma seita judia ultraortodoxa fundada em Israel e assente recentemente no México e na Guatemala. Os quatro homens envolvidos no sequestro aguardam agora julgamento nos Estados Unidos, arriscando-se a uma pena que pode ir até prisão perpétua.

Segundo o El País, tudo começou quando Sara, a mãe das duas crianças, fazia parte da seita, mas decidiu fugir porque as regras começavam a ser demasiado extremas e havia o receio de um suicídio coletivo. Sara é também a filha de Shlomo Helbrans, o fundador da seita, e irmã do novo líder, Nachman Helbrans. Numa viagem sem retorno da Guatemala até Nova Iorque, Sara passou a viver em Woodridge, a cerca de 140 quilómetros de Manhattan, nos Estados Unidos.

Os dois irmãos saíram de casa no dia 8 de dezembro, caminharam uns metros, entraram num carro e nunca mais foram vistos até serem encontrados três semanas depois. O plano de sequestro envolvia carros alugados, passagens de avião, telemóveis pré-pagos e passaportes para passarem o controlo de imigração.

De acordo com a Procuradoria-Geral de Nova Iorque, que consultou as câmaras de vigilância do aeroporto de Scranton, na Pensilvânia, o rabino Helbrans — chefe do culto — mandou substituir o traje clássico de judeus que levavam as crianças. O kipá de Chaim foi substituído por um gorro do super-homem e o seu casaco substituído por uma sweat cinzenta. Dois dias depois, os agentes do FBI identificaram uma das crianças num hotel na Cidade do México.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A partir dos Estados Unidos, Aron Rosner, um dos homens envolvidos no sequestro, ficou encarregado de controlar todos os gastos, desde comida a bilhetes de autocarro, voos e reservas de hotéis. Três dias depois do rapto, Rosner foi detido quando estava num veículo alugado e é agora acusado de planear o rapto. O seu filho Jacob estava encarregado de comprar as roupas, tinha 20 anos e era casado com a pequena Yante, que tinha apenas 14 anos.

As crianças sequestradas foram resgatadas no dia 28 de dezembro, num hotel em Tenango del Aire, a 40 quilómetros da capital mexicana, e receberam apoio psicológico, tendo sido entregues à sua mãe uns dias mais tarde.

A seita Lev Tahor (que em hebraico significa “coração puro”) foi fundada nos anos 80 em Israel e é caracterizada por ter padrões de vida muito rigorosos, tais como códigos extremistas de vestiário, o controlo total da vida dos seus membros e o consumo de alimentos produzidos apenas pela comunidade. Desde a sua criação, a seita é também acusada de organizar casamentos forçados e exercer maus tratos e abuso infantil.

No início dos anos 90, a seita passou a ter base nos Estados Unidos, numa altura em que Sholmo Helbrans estava a cumprir dois anos de prisão pelo sequestro de um jovem de 13 anos. Foi na década seguinte que o grupo se mudou para Montereal, no Canadá, até chegarem as acusações de maus tratos e abusos de menores. Em 2014, estabeleceram-se na Guatemala.