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O estranho caso de um futebol onde Dr. Jekyll e Mr. Hyde coabitam em 20 metros (a crónica do Sporting-Moreirense)

Este artigo tem mais de 5 anos

Sporting chegou ao habitat natural, marcou e criou mais oportunidades; depois, o Moreirense reduziu e esse futebol leonino caiu. A crónica de um triunfo (2-1) que levanta tantas dúvidas como certezas.

Nani e Bruno Fernandes marcaram os golos do Sporting frente ao Moreirense ainda dentro da primeira meia hora de jogo
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Nani e Bruno Fernandes marcaram os golos do Sporting frente ao Moreirense ainda dentro da primeira meia hora de jogo

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Nani e Bruno Fernandes marcaram os golos do Sporting frente ao Moreirense ainda dentro da primeira meia hora de jogo

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Os treinadores têm tendência para passarem ao lado da questão de jogarem antes ou depois dos adversários diretos em cada uma das jornadas do Campeonato. E faz sentido com o discurso que utilizam, onde é sempre colocado como chavão o foco naquilo que se consegue e não naquilo que os outros podem ou não conseguir. No entanto, apesar de estarmos ainda na primeira jornada da segunda volta, o Sporting já não fica alheio a essas situações e, com os triunfos de FC Porto, Benfica e Sp. Braga, qualquer ponto perdido seria não só o hipotecar da luta pelo título como um pequeno atraso na corrida ao segundo lugar. Por muito que o jogo e postura dos leões no clássico da semana passada tenha sido elogiada, o resultado foi mais penalizador do que na altura parecia porque a margem de manobra no comboio do G4 que segue na luta pelo topo ficou mais reduzida.

Sporting vence Moreirense por 2-1 e mantém distância para as três equipas da frente

Coincidência ou não, o discurso de Marcel Keizer ganhou tanto pragmatismo como perdeu romantismo. O holandês continua na senda do “ganhar jogos a jogar bem” com que chegou a Alvalade mas também vai percebendo que aquela ideia de jogo ofensiva que apaixonou os adeptos verde e brancos de início funcionou sobretudo porque a bola entrava na baliza. Aliás, e com a mesma volatilidade, quando a bola deixou de entrar os elogios foram-se transformando em incógnitas. É por isso que, nesta fase, quer ganhar. Com quantos golos marcados ou sofridos, não interessa; é ganhar e ir melhorando em termos coletivos.

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O maior desafio do técnico nesta fase de calendário mais apertado com jogos de três em três dias no limite das 72 horas habituais de recuperação é a gestão física de um plantel com alguns pontos diminutos na quantidade e na qualidade. Mas, em paralelo, há uma outra missão que tenta cumprir de forma discreta: a gestão de expetativas. Quando ganhou sete jogos seguidos no arranque, houve uma tendência interna para se apagar todas as dificuldades de uma das pré-temporadas mais surreais das últimas décadas; quando perdeu em Guimarães e Tondela, houve a tentação de se esquecer desse mesmo período de preparação da época. Algures no meio está a realidade. Como em tudo, é lá que está a virtude. E é esse equilíbrio que Keizer ainda procura, sobretudo nos 20 metros onde se concentram as unidades mais defensivas e atacantes do meio-campo.

Ficha de jogo

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Sporting-Moreirense, 2-1

18.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

Sporting: Renan Ribeiro; Ristovski, Coates, Mathieu, Acuña; Gudelj, Wendel (Petrovic, 85′), Bruno Fernandes; Diaby, Nani (Raphinha, 68′) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Jefferson, Francisco Geraldes e Luiz Phellype

Treinador: Marcel Keizer

Moreirense: Jhonathan; D’Alberto, Iago dos Santos, Halliche, Rúben Lima; Loum, Fábio Pacheco (Texeira, 83′); Chiquinho, Pedro Nuno (Bilel, 68′), Arsénio (Nenê, 68′) e Heriberto

Suplentes não utilizados: Trigueira, Bruno Fonseca, Alan Schons e Patito Rodríguez

Treinador: Ivo Vieira

Golos: Nani (3′), Bruno Fernandes (26′) e Heriberto (34′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Chiquinho (54′), Gudelj (55′), Iago dos Santos (84′) e Ristovski (90+2′)

O futebol do Sporting tem um ADN marcadamente ofensivo. É com bola, em velocidade e no meio-campo contrário que a equipa encontra o seu habitat natural durante um jogo. É nessa condição que se cruza também com o seu Dr. Jekyll, Bruno Fernandes, o cérebro com instinto finalizador de avançado que consegue assumir um papel omnipresente na forma de estar do conjunto verde e branco, ande a bola pelos corredores laterais ou pelo meio. No entanto, quando uma equipa consegue passar as zonas de pressão mais altas e os períodos de três/cinco segundos de maior agressividade na reação à perda, surge um lado de Mr. Hyde que muitas vezes aparece pessoalizado na figura de Gudelj sem que o sérvio tenha propriamente culpa nas facilidades que a equipa concede em lances de saídas rápidas (não tem as características para a posição, que necessitam de tempo para serem adquiridas). Assim se explica que a vitória frente ao Moreirense por 2-1 tenha registado uma primeira parte tão interessante e um segundo tempo tão insípido – faltando o equilíbrio necessário para ter um futebol total, a aposta passa pela conquista dos três pontos. E essa postura de maior controlo na defesa da vantagem acabou por condicionar e muito o plano da equipa em termos ofensivos.

Com uma única alteração no onze inicial em relação à equipa que começou o jogo em Santa Maria da Feira com o Feirense para a Taça de Portugal, com Diaby no lugar de Raphinha, o Sporting dificilmente poderia ter um melhor arranque: canto na esquerda do ataque batido com a trajetória contrária do normal a fugir ao guarda-redes e cabeceamento de Nani ao primeiro poste a inaugurar o marcador (3′). A defesa do Moreirense estava sobretudo preocupada com Dost, a grande referência ofensiva dos leões, e com os centrais mas falhou na marcação e não teve direito perdão. Pelo menos aí porque, dois minutos depois, novo erro teve menos consequências: quando todos esperavam um remate à baliza de Bruno Fernandes, houve novo cruzamento na sequência de um livre mas o cabeceamento de Diaby saiu ao lado da baliza de Jhonathan.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-Moreirense em vídeo]

Os cónegos vinham a Alvalade para jogar de forma aberta. Ivo Vieira até podia ter a tendência de colocar mais uma unidade no meio-campo com Loum e Fábio Pacheco, criando assim redobradas dificuldades a Bruno Fernandes (e se o médio não joga, é complicado o Sporting jogar), mas preferiu manter as quatro unidades mais móveis na frente como ganhou ao Benfica na Luz. E Arsénio deu o primeiro sinal de perigo, numa jogada em que os visitantes ficaram a protestar uma falta na área de Acuña – que o VAR não avaliou mas onde houve de facto contacto do argentino sobre o avançado contrário (8′). No entanto, a forma como o conjunto verde e branco pressionava mais alto limitava e muito as saídas contrárias, ao mesmo tempo que permitia um maior número de unidades em zonas de finalização. E foi assim que o Sporting chegou ao segundo golo, num lance de insistência após duas grandes defesas de Jhonathan antes do tiro decisivo de Bruno Fernandes (26′). Os leões encontravam outra confiança no conforto do resultado e só não chegaram ao 3-0 porque Dost falhou o que não costuma perdoar (31′).

Havia mais Sporting mas o Moreirense deixava bons indicadores sempre que conseguia colocar o primeiro passe para sair em transição. Até porque, e isso também pareceu ser devidamente estudado, o balanceamento ofensivo dos verde e brancos tem em alguns momentos o outro lado de deixar a equipa demasiado exposta e incapaz nas transições defensivas, uma debilidade que foi aproveitada da melhor forma por Heriberto: após um lance onde os leões ficaram a pedir falta sobre Bas Dost (que parece existir mas fora da área), os cónegos saíram em velocidade, Chiquinho ganhou espaço para o cruzamento e o Sub-21 português só teve de encostar ao segundo poste perante uma defesa que ficou sem reação ao movimento do avançado (34′).

Se a primeira parte teve muita qualidade das duas equipas, o segundo tempo desceu a pique. O Sporting surgiu com uma postura de maior controlo sem ter as linhas tão avançadas, muitas vezes quase que chamando o Moreirense para encontrar os espaços entre linhas que não conseguia encontrar em ataque organizado; já os minhotos avançaram no terreno mas nunca sem aquela criatividade e mobilidade que tanta mossa têm conseguido fazer nas defesas contrárias ao longo da presente temporada. Com isto, os minutos iam passando. Cinco, dez, 20. Até aos 65′, houve apenas dois remates e sem perigo.

Ivo Vieira e Marcel Keizer mexeram mas as substituições tiveram um efeito quase nulo, sobretudo no Moreirense que nunca tirou partido da unidade mais de área que tinha em jogo (Nenê). Enquanto os cónegos tentavam resolver algo que não tinha solução, o Sporting continuava à procura de um equilíbrio entre um novo ADN marcadamente ofensivo que começa muitas vezes a ficar preso na necessidade de olhar para o resultado. Com mais ou menos dificuldades, a vantagem foi gerida mas a qualidade de jogo na saída e em termos ofensivos eclipsou-se. E houve apenas um lance de perigo, em que Raphinha chegou a colocar a bola na baliza de Jhonathan mas o golo acabou por ser anulado por fora de jogo num lance de complicada análise (80′).

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