Num período de cerca de 24 horas, Pedro Henriques Figueiredo terá matado a sogra e a filha de dois anos no Seixal, no dia em que era suposto entregar a criança em casa dos avós e da mãe. Chegou a avisar o INEM sobre a localização de Lara, esteve em fuga e foi encontrado morto em Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, a mais de 200 quilómetros de onde terá cometido o primeiro crime. Pelo meio, sabe-se que o suspeito estava em guerra com a ex-mulher por causa da guarda da filha, mas existia também um passado ligado a queixas por coação e ameaça.

A linha do tempo dos dois crimes foi sendo definida ao longo desta segunda e terça-feira, mas ainda há questões que estão por responder, num caso que já está a ser analisado pela Polícia Judiciária (PJ).

O que já se sabe sobre os crimes

Segunda-feira, 6h00: a ameaça ao sogro na pastelaria

Por volta das 6h00 desta segunda-feira, Pedro Henriques terá ido à pastelaria dos sogros, que estão casados há mais de 30 anos, para insultar e ameaçar o sogro de morte. Acabou por afastar-se. Não se sabe, exatamente onde terá estado de seguida, mas teria a filha com ele. A criança tinha passado o fim-de-semana com ele e segunda-feira era o dia em que deveria entregá-la, de novo, à mãe.

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8h00: a morte da sogra e o rapto da filha

Pedro Henriques dirigiu-se, de seguida, à casa da sogra, onde deveria ter deixado a filha de dois anos, tendo em conta que Lara vivia com a mãe e com os avós maternos num prédio situado na Rua do Minho, no Seixal. No entanto, o suspeito acabou por não entregar a criança e, mal a sogra abriu a porta, matou-a à facada, atingindo-a na zona do peito e do pescoço.

Depois do assassinato, e de acordo com o relato de várias testemunhas, o suspeito abandonou o local na viatura, juntamente com a filha menor. Os vizinhos dizem que ainda viram a criança dentro do carro, naquele momento, sentada no banco da frente, ao lado do condutor. Foram os moradores do prédio, aliás, que, depois de ouvirem barulho, alertaram as autoridades. O óbito da vítima foi declarado no local.

10h: a audiência marcada no Tribunal por causa da guarda da filha

No mesmo dia em que o suspeito terá matado a sogra, o Tribunal de Família e Menores do Seixal tinha marcada uma audiência para regular as responsabilidades parentais sobre a criança, tendo em conta que não existia um entendimento entre o pai e a ex-mulher em relação ao tempo que a filha deveria passar com cada um. Ambos tinham a guarda partilhada. A mãe da criança quereria, porém, ficar com a guarda exclusiva da melhor. No portal da Justiça Citius, a audiência continua marcada com a indicação de que seria uma “Conferência de Interessados”, num processo entregue juiz 1 do Juízo de Família e Menores do Seixal.

Por esta altura, as autoridades já tinham confirmado também que o suspeito não tinha entregue a filha na creche, como ainda foi admitido que fizesse.

13h: PJ termina perícias no local do primeiro crime

Por esta altura, o trabalho da Polícia Judiciária dividia-se em dois planos — o mais urgente era o de encontrar o fugitivo e a criança que levara com ele, sem que houvesse qualquer indicação de onde poderiam estar. Ao mesmo tempo, outros inspetores, com técnicos do Laboratório de Polícia Científica, recolhiam na casa da família Cabrita todos os indícios possíveis do homicídio que tinha acontecido horas antes. Essa perícia só ficou concluída por volta das 13h.

Terça-feira, 8h25: depois da morte da filha, suspeito ligou para o INEM

Esta terça-feira, e a apenas quatro quilómetros de distância do primeiro crime, o corpo da criança de dois anos foi encontrada dentro do porta-bagagens do carro, junto ao McDonald’s de Corroios e num parque de estacionamento em frente a uma escola secundária. A informação sobre a localização de Lara terá sido dada pelo próprio pai, que ligou para os serviços de emergência por volta das 8h25.

Fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) confirmou à agência Lusa ter recebido uma chamada pelas 8h25 do “presumível pai” da criança a dar conta da localização do carro onde a menina estaria.

10h00: suspeito é encontrado morto em Castanheira de Pera

Depois de estar em fuga durante cerca de 24 horas, Pedro Henriques foi encontrado morto a mais de 200 quilómetros do local onde começou toda a história. O corpo foi encontrado na zona de Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, local de onde o suspeito é natural, num cenário de aparente suicídio com arma de fogo.

Ex-mulher barrica-se em banco por medo

Ainda durante a manhã, e depois de saber o que aconteceu, a mãe da menina de dois anos recusou sair de uma dependência bancária na Quinta do Conde, em Sesimbra, por medo de ser perseguida pelo ex-marido, diz o Jornal de Notícias. A GNR teve de ser chamada ao local e terá sido nesse momento que Sandra Cabrita soube que o ex-marido foi encontrado morto.

A queixa por coação e a ameaça

A ex-mulher de Pedro Henriques chegou a apresentar queixa por coação e ameaça contra o pai da criança, mas acabou por desistir do processo, avançou o jornal Público e confirmou o Observador junto da Procuradoria-Geral da República. Segundo o Ministério Público (MP), “foi localizado um inquérito em que se investigou um crime de coação e ameaça” no Tribunal do Seixal”, mas “o mesmo foi arquivado por desistência de queixa da ofendida” e não estava classificado como violência doméstica.

O que falta saber

O que aconteceu entre o homicídio da sogra e o aparente suicídio

Para compreender todo o caso e fechar a investigação, a Polícia Judiciária quer também saber, com detalhes, como foram as horas de Pedro Henriques desde o momento em que fugiu da casa dos sogros, depois de assassinar a mãe da ex-mulher, até ter ser encontrado morto em Castanheira de Pêra. Com certeza, sabe-se apenas que pelas 8h25 desta manhã estava vivo — a confirmar-se que foi mesmo ele a fazer a chamada para o INEM com a localização do carro onde tinha deixado o corpo da filha. Mas o que aconteceu durante quase todo o dia de segunda-feira. Ficou sempre na zona do Seixal ou tentou uma outra fuga? E esteve sempre apenas com a criança ou teve o apoio de alguém?

O que levou ao duplo homicídio

Tendo em conta o alegado passado de ameaças e violência e a luta pela guarda da filha, uma das hipóteses em cima da mesa para os dois homicídios será a de vingança. No entanto, as autoridades ainda têm de investigar e confirmar os verdadeiros motivos que levaram ao homicídio da sogra e da filha de dois anos.

As causas da morte da criança de dois anos

Depois de ser encontrado dentro do porta-bagagens do carro, o corpo de Lara foi levado para o Instituto de Medicina Legal, onde será feita uma autópsia para apurar as causas da morte. Uma das causas poderá ter sido asfixia. Também não se sabe o momento exato em que a menina de dois anos morreu, uma informação que também deverá ser confirmada pela autópsia.

Como o suspeito chegou a Castanheira de Pera

Entre Corroios e Castanheira de Pera são cerca de 2h30 de viagem de automóvel. No entanto, ainda não há informações sobre qual o transporte que o suspeito utilizou para chegar à localidade, nem se teve algum tipo de ajuda de terceiros. Uma das hipóteses de transporte utilizado é o comboio, tendo em conta que há uma linha férrea perto do local.

Como morreu o suspeito

Apesar de o suicídio ser a causa mais apontada, as autoridades estão também a investigar quando e em que circunstâncias Pedro Henriques morreu.