Um mês, dois meses, três meses. Um ano, quase dois. Nada o faria prever numa primeira análise mas, 637 dias depois, Sandro Rosell, empresário e antigo presidente do Barcelona entre 2010 e 2014, continua em prisão preventiva acusado dos crimes de branqueamento de capitais e associação criminosa. No final do ano de 2017, admitiu que tinha ido para a bancarrota; agora, em nova intervenção pública à RAC1 a partir de Can Brians (não gravada), onde está detido, volta a considerar-se inocente de todas as acusações e volta a atacar o Ministério Público espanhol pelos desenvolvimentos que todo o processo.

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“Sou inocente a 100%. Não há caso. Dizem que fugirei [n.d.r. o perigo de fuga foi um dos motivos invocados para ficar em prisão preventiva], é uma coisa absurda. Congelaram-me todo o património e quero defender a minha inocência. Como estou? Estou indignado. Passei por situações de dúvidas e surpresas. Roubaram-me dois anos ao lado dos meus pais quando mais precisavam porque são idosos. Dá-me pena pelas minhas filhas. Nem posso comprar um pão à minha mulher. Tenho toda a minha vida bloqueada. A minha mulher, Marta, está a aguentar tudo como uma campeã”, explicou o ex-líder dos blaugrana durante quatro anos, antes de detalhar algumas das partes da acusação que considera não fazerem sentido.

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“Tudo começou em 2006. Uma empresa árabe, a ISE, pediu-me para negociar a compra dos direitos de jogos particulares. Mas também da Tailândia e de Portugal. Negociámos a compra de 24 particulares. Na minha empresa, a Uptrent Developments, 50% pertence-me a mim e 50% ao Joan Besolí. A minha empresa foi intermediária entre a empresa árabe a a Confederação Brasileira de Futebol. Nesse momento, o Brasil tinha um acordo com a Traffic para a transmissão dos seus jogos. Cobrava 650 mil dólares por jogo, os árabes ofereceram mais de 850 mil. Como a Traffic tinha direito de preferência, igualou mas recomendei aos árabes que fizessem uma oferta de mais de um milhão porque sabia que duplicariam os ganhos. Perante isso, a Traffic já não podia acompanhar e tive a minha percentagem de comissão, de 20%”, começou por contar.

Sandro Rosell na apresentação de Neymar, em 2013 – outro negócio investigado pelas autoridades (JOSEP LAGO/AFP/Getty Images)

“Não paguei nenhuma comissão ao Teixeira [Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol]. E mesmo que tivesse pago, não era ilegal. Mas não paguei. O Ministério Público acha que é ilegal e acusa-me de branqueamento de capitais. Bati o recorde de prisão preventiva em Espanha por um alegado delito económico ainda que não há lesados”, destacou, antes de referir que Romário mentiu “porque quer ser presidente da Confederação Brasileira de Futebol”; porque, quando ficou de fora da convocatória para o Mundial de 2002, “viu recusado o pedido para fazer um contrato como embaixador da Nike para o Brasil”; e porque “queria que o filho entrasse nas camadas jovens mas os treinadores disseram que não tinha nível”.

Explicando que, no dia a dia em Can Brians, faz desporto de manhã, responde a cartas, joga xadrez, vê futebol “graças à Movistar” e está a pensar escrever um livro quando sair da prisão, Sandro Rosell relativizou a reabertura do caso do transplante de Abidal, confessou vontade em estar de novo com Jordi Sánchez e Jordi Cuixart (que estão agora em julgamento) e falou sobre o momento do Barça. “Continuamos a ser melhores e o Real Madrid terá de fazer uma grande inversão. A minha teoria é que todas as posições precisam de ter boas alternativas e agora estamos com falta disso nos avançados e na lateral esquerda. Messi? É um jogador impossível de substituir, o melhor da história. Nem percebo o debate sobre isso”, concluiu.

A ascensão e queda de Rosell, ex-presidente do Barcelona preso e com família na bancarrota

De recordar que o antigo número 1 do Barcelona, de 54 anos, que antes passou por Comité Organizador dos Jogos Olímpicos de Barcelona, ISL, Nike (primeiro responsável pela Península Ibérica, depois no Brasil) e Bonus Sports Marketing (empresa que criou em 2002), terá alegadamente desviado através de uma empresa em Andorra 8,4 milhões para Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, e 6,6 milhões para si, num esquema que envolvia comissões ilegais para a venda dos direitos de imagem de 24 jogos particulares da seleção brasileira à International Sports Events.

“A família vive da caridade de outros familiares, se dependessem apenas deles não teriam sequer para comer. Hipotecaram-lhes tudo, até os carros em nome do Sandro levaram. É uma perversão e um abuso do conceito de prisão preventiva, não se passa em mais nenhum sítio. Há mil formas de privar a liberdade de alguém que alegadamente cometeu um delito. Seis meses de prisão é um drama para as famílias quando se pode colocar uma pulseira eletrónica, tirar o passaporte, obrigar a apresentações periódicas”, tinha comentado o advogado do catalão, Pau Molins, em novembro de 2017, também à RAC1.