O documentário Leaving Neverland, que revela crimes de abuso sexual de crianças que o cantor Michael Jackson terá cometido, com depoimentos de duas alegadas vítimas, estreou-se no domingo à noite nos Estados Unidos, prosseguindo esta segunda-feira a segunda parte.

O cantor norte-americano, que morreu em 2009 aos 50 anos, começou nessa altura a recuperar da má reputação que durante anos o perseguiu, de ter molestado crianças, com fãs em todo o mundo a celebrar o artista pop.

Dez anos depois da morte sua morte, um documentário de quatro horas, com depoimentos e provas de que o cantor terá abusado sistemática e reiteradamente de crianças, estreou-se na televisão nos Estados Unidos, no canal HBO (a segunda parte será transmitida esta segunda-feira), depois de ter tido antestreia em janeiro, no Festival Sundance de Cinema, nos Estados Unidos.

O documentário centra-se no doloroso testemunho de dois homens, Wade Robson e James Safechuck, que dizem ter sido abusados durante anos por Michael Jackson, desde muito jovens.

O coreógrafo australiano Wade Robson, agora com 36 anos, revelou que o músico abusou sexualmente dele desde os 7 anos de idade e que o violou até aos 14 anos, enquanto James Safechuck, de 40 anos, declarou que Michael Jackson abusou dele “desde os 10 até perto dos 14”, segundo revelaram à BBC. Os dois homens responderam ainda afirmativamente à pergunta sobre se os abusos haviam ocorrido “centenas e centenas de vezes”.

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Robson, que, segundo o jornal The Guardian, conheceu o “rei da Pop” durante uma digressão pela Austrália, contou que “cada vez que estava com ele, cada vez que ficava à noite com ele” era abusado, acrescentando que o cantor o acariciava, “tocando-lhe no corpo todo” até que aos 14 anos o violou.

Michael Jackson “abusou de nós centenas de vezes”, repetem duas alegadas vítimas

“Esta foi uma das últimas experiências de abuso sexual que tivemos”, disse Wade Robson ao programa de Victoria Derbyshire, da BBC.

O australiano revelou ainda que o cantor lhe fez crer que entre eles havia amor e que lhe chegou a dizer: “se alguém descobre alguma vez o que estamos a fazer, tu e eu poderemos ir parar à prisão para o resto das nossas vidas”.

Tudo isto era aterrador para mim. A ideia de me separar de Michael, este homem, esta figura de outro mundo, este deus para mim, que agora se havia tornado o meu melhor amigo, de maneira nenhuma eu iria fazer algo que nos afastasse”, acrescentou, sublinhando que o músico era um “mestre em manipulação”.

Por seu lado, James Safechuck disse que os abusos começaram quando Michael Jackson lhe ensinou como se tinham relações sexuais, quando tinha 10 anos, e que depois disso muitos outros atos sexuais se sucederam.

A família do músico já veio, entretanto, afirmar que não há quaisquer “provas” que confirmem estas acusações contra o cantor, enquanto os gestores do seu património encetaram uma guerra contra Leaving Neverland.

Segundo o The New York Times, além de uma série de declarações inflamadas feitas na altura da estreia do filme em Sundance, os gestores patrimoniais — cujos beneficiários são a mãe de Michael Jackson e três filhos, bem como instituições de caridade para crianças – entraram com uma petição no Tribunal Superior de arbitragem de Los Angeles, pedindo 100 milhões de dólares de indemnização à HBO.

Os responsáveis criticam o facto de todo o documentário ser suportado apenas pelos testemunhos destes dois homens, que acusam de “mentirosos”.