A ligação entre José Mourinho e Real Madrid funciona como mais um exemplo de como uma coisa pode ser a perceção e outra a realidade. Olhando para a passagem do português pelo conjunto espanhol, ganhou um Campeonato (com recorde de pontos), uma Taça do Rei e uma Supertaça em três épocas, caindo sempre nas meias-finais da Liga dos Campeões. Não era propriamente um palmarés de sonho – até à luz do que Zinedine Zidane viria mais tarde a conseguir, como o tricampeonato europeu; contudo, não sendo uma figura unânime, o antigo técnico de FC Porto, Chelsea, Inter e Manchester United deixou marca em algumas franjas do clube, a começar talvez por aquela que, no final, é a mais importante: o presidente, Florentino Pérez.
Depois da saída de Julen Lopetegui do comando técnico a meio da temporada, naquela que foi uma escolha falhada (e a todos os níveis) para fazer esquecer o reinado vencedor de Zizou, foram várias as notícias vindas de Espanha que davam contar de uma tentativa de aproximação do líder dos merengues ao português, na altura vinculado ao Manchester United. Esse era, aliás, um dos obstáculos a um possível regresso – o facto de haver uma cláusula a pagar para libertar o treinador. Houve fogo, não houve fumo. Pelo menos branco, da decisão final. Mas percebeu-se aí que Florentino continua a olhar para Mourinho como alguém com uma característica particular que quer ver no clube a breve prazo: alguém com pulso no balneário.
Na passada terça-feira, depois da queda com estrondo do Real Madrid da Liga dos Campeões após mais de 1.000 dias como campeão europeu, o nome de Mourinho foi logo associado a um possível regresso, admitindo-se até que Solari pudesse sair ainda antes do final de uma temporada onde, no início de março, o único objetivo da equipa passa apenas por terminar no melhor lugar possível o Campeonato. Digerido o desaire frente ao Ajax, Mourinho e Real continuam a surgir juntos nos títulos dos jornais espanhóis e ingleses. Ainda assim, com verbos e adjetivos quase opostos, como se foi vendo esta quinta-feira.
O The Telegraph é o mais “otimista” (e que mais arrisca) a propósito de um regresso do treinador português a Madrid. Segundo a publicação, que cita várias fontes que foi contactando, a possibilidade de haver acordo está certa “quase a 100%”, existindo já contactos avançados entre partes para a volta de alguém com quem Florentino manteve sempre uma boa relação.
O As, sendo mesmo taxativo do que o jornal inglês, fala em contactos entre responsáveis blancos e Jorge Mendes, representante do treinador que está agora sem clube, e fala em dois temas que causarão alguma renitência a Mourinho: a relação com os seus jogadores (do plantel que deixou em 2013 continuam sete elementos, alguns pesos pesados do balneário como Sergio Ramos ou Marcelo) e a convivência com uma parte da cúpula diretiva do clube. Ainda assim, a publicação escreve também que a primeira opção de regresso era Zidane, que terá rejeitado por não querer ser o protagonista da revolução no plantel.
A realidade ficou preta no mundo blanco e o Real prepara uma revolução no seu 117.º aniversário
Já a Marca aposta tudo no regresso do francês ao Santiago Bernabéu, dizendo que Mourinho está descartado como opção para o Real Madrid. O jornal acrescenta que Zidane, que continua a viver na capital espanhola, já terá sido contactado para dizer de sua justiça em relação a um regresso aos merengues mas que existem várias situações por resolver antes de uma tomada de decisão final do técnico tricampeão europeu, que joga também com outros possíveis clubes interessados no final da temporada, casos de Juventus (se Allegri falhar a Champions) ou PSG, que voltou a falhar nos oitavos da Liga dos Campeões.
“Pagas-me e vou-me embora”: a discussão no balneário do Real entre Ramos e Florentino
“Guardo recordações fantásticas na globalidade dos tempos que passei em Espanha. Trabalhar no Real Madrid foi para mim uma experiência única e diferente de todas as outras que tive, e que foram grandes experiências. Fizemos coisas fantásticas, ganhámos uma Liga de forma única e tivemos também momentos maus. Cometi erros e melhorei muito como treinador e como pessoa depois dessa experiência no Real. Voltar? Não tive problema em voltar ao Chelsea, assim como não teria de voltar a Madrid, ao Porto, ao Inter ou a todos os clubes onde estive. Se alguém te quer, é um sentimento bom”, disse Mourinho à Deportes Cuatro no início da semana, numa ideia que confirmou por mais do que uma vez depois.