Mais de 70 autocarros com enfermeiros viajaram de todo o país para a marcha branca pela enfermagem que decorre esta sexta-feira em Lisboa, segundo o movimento que organiza a iniciativa. Estão presentes milhares de enfermeiros, num desfile que pretende “mostrar a união da classe”. O Movimento Nacional de Enfermeiros avançou ao Observador um primeiro número: dez mil enfermeiros na “marcha branca”. A PSP, para já, não confirma nem avança outros números.
Sónia Viegas, do Movimento Nacional de Enfermeiros, tinha dito ao início da tarde à agência Lusa que ao longo do dia era esperada a chegada de cerca de cinco mil pessoas vindas de fora de Lisboa, além dos enfermeiros da capital que se juntaram ao desfile.
[Vídeo: O adeus ao velho cartão como forma de protesto]
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, que desde o início apoiou esta iniciativa, foi recebida à chegada à “marcha branca” como muitos aplausos e gritos de euforia. Para a bastonária, este desfile veio mostrar que a sua missão está cumprida.
Os enfermeiros têm hoje uma identidade e um sentido de pertença”, apontou Ana Rita Cavaco em declarações à Lusa.
Pelas 14:30, largas centenas de enfermeiros estavam já concentradas no Parque da Bela Vista, em Lisboa, de onde partiram em direção ao Hospital de Santa Maria, onde vai terminar o desfile, que conta com o apoio da maioria dos sindicatos do setor.
Uma larga maioria de participantes respondeu ao apelo do movimento e enverga t-shirts e roupa branca, exibindo ainda cravos da mesma cor. No local, estão a ser distribuídos folhetos de protesto que imputam à ministra da Saúde “falsear e manipular números”, apesar do “caráter [à partida] não reivindicativo” da marcha.
O desfile coincide com o Dia da Mulher e será também uma forma de assinalar “uma das figuras centrais da enfermagem”, Florence Nightingale, enfermeira que no século XIX mudou o paradigma da profissão, tendo sido considerada pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Crimeia.
Alguns sindicatos, como a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), convocaram para esta sexta-feira uma greve nacional de enfermeiros para permitir a participação de mais profissionais no desfile.
Esta marcha ocorre depois de um período de especial contestação por parte dos enfermeiros, que se traduziu em duas greves em blocos operatórios e a um braço de ferro com o Governo, sobretudo depois de ter sido decretada uma requisição civil com o objetivo de travar a segunda paralisação.
Ao início do dia, a organização esperava que pelo menos 4 mil enfermeiros chegassem à concentração em autocarros pagos pela Ordem. Alguns sindicatos do setor decretaram greve para garantir maior adesão ao que se propunha ser uma marcha pela dignidade da enfermagem.
“É para isto que se pagam quotas”, defendeu a bastonária dos Enfermeiros ao Diário de Notícias, jornal que avança (em conteúdo só para assinantes) que a ordem suporta os custos dos 70 autocarros que irão transportar enfermeiros de todo o país até à capital. Segundo Ana Rita Cavaco, “o estatuto permite que a ordem apoie este tipo de iniciativas desde que não tenham cariz sindical”. Por isso mesmo, foram feitos apelos aos manifestantes para que não usassem bandeiras ou outro tipo de símbolos relacionados com os diferentes sindicatos de setor e também para que não usem o momento para fazer reivindicações laborais.
A ausência de reivindicações, porém, parece não ter sido inteiramente conseguida, dada a distribuição de folhetos de protestos e as tarjas erguidas contra o Governo.
Ao que o Observador apurou, alguns enfermeiros pretendiam entregar as suas cédulas profissionais quando a marcha passar pela Ordem dos Enfermeiros, como forma de protesto.
Dress code: roupa e cravos brancos
Num poster da Marcha Branca para a Enfermagem lia-se um aviso: “Dress code: roupa e cravos brancos.” Segundo Sónia Viegas, porta-voz do Movimento Nacional de Enfermeiros, impulsionador do desfile, disse ter a expetativa de reunir milhares de enfermeiros em Lisboa e sublinhou que todas as estruturas sindicais do setor estarão presentes. Aliás, foi por isso mesmo que algumas estruturas sindicais optaram por fazer um pré-aviso de greve para sexta-feira. Para abril, está marcada uma greve geral que, segundo o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), será “prolongada e muito dura”.
O anúncio foi feito na quinta-feira, depois de uma reunião com o Governo que marcou o início de um período de negociações.