O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, qualificou esta terça-feira como “uma incursão militar” a chegada de soldados russos à Venezuela, no domingo, a bordo de dois aviões que aterraram no aeroporto de Caracas.
“Esta é uma incursão militar em território venezuelano, a qual não contou com a autorização da Assembleia Nacional, como estabelece a Constituição da Venezuela”, disse o responsável do país vizinho, durante a intervenção no fórum “Grande jornada de reflexão sobre a Venezuela: transição política e reconstrução económica”, organizado pelo jornal El Tiempo e a Universidade de Rosário.
Por isso, Trujillo expressou, em nome da Colômbia, a “mais profunda preocupação e rejeição” à chegada das duas aeronaves militares russas num momento “em que o país atravessa uma grave crise multidimensional”. Na sua opinião, “o regime de Nicolás Maduro recusa-se a enfrentar” essa crise e “perante as evidências, não hesita em usar a repressão para perpetuar-se” no poder.
Segundo o jornal El Nacional, os soldados comandados pelo major-general Vasili Tonkoshkurov, chefe do Estado Maior do Exército de Terra russo, chegaram ao aeroporto de Maiquetía a bordo de dois aviões militares que transportavam também 35 toneladas de material não especificado.
A Rússia é um dos maiores aliados e apoia publicamente o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, perante o desafio do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, o autoproclamado e reconhecido por meio centena de países como o presidente interino da Venezuela.
O Governo de Maduro costuma referir-se à Rússia, que fornece armamento, tecnologia e outros recursos, como um “aliado estratégico” da sua política multilateral. Neste sentido, e perante o processo de transição que considera que deve começar na Venezuela, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia enunciou que “o regime abusou da boa fé e boas disposições dos seus interlocutores e atores internacionais para se perpetuar e frustrar a vontade democrática dos venezuelanos”.
Por isto, sublinhou que para que aconteça “o fim da usurpação” que considera que Maduro está a fazer no Governo venezuelano, deve ocorrer, como “condição necessária”, o processo de transição democrática e a realização de “novas eleições verdadeiramente democráticas”.
A crise política na Venezuela agravou-se a 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro. Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos. A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes. Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU. Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
Guaidó afirma que presença de militares russos na Venezuela viola a Constituição
Também Juan Guaidó disse esta terça-feira que a presença de quase uma centena de militares russos no país “viola a Constituição”. “Parece que (no Governo, do Presidente Nicolás Maduro), não confiam nos seus militares, porque estão a importá-los, violando a Constituição novamente”, disse.
Juan Guaidó falava em Caracas, durante uma sessão parlamentar convocada para analisar a chegada, no fim de semana, de dois aviões russos à Venezuela e um grupo de 99 militares da Rússia, e o pagão que desde segunda-feira afeta o país.
Esses aviões não trouxeram geradores, nem técnicos para intervir (na barragem de) El Guri, nem geradores para substituir os danificados, trouxeram militares estrangeiros para solo venezuelano, esquecendo a crise que temos na Venezuela”, disse.
Guaidó frisou que o Governo venezuelano “não tem como solucionar” a crise elétrica “que criou” no país, e que inventa motivos, recomendando à população que compre velas e lanternas, perante uma falha técnica provocada pelo “mau funcionamento e a corrupção” no sistema elétrico venezuelano.
Segundo Juan Guaidó a presença de militares russos no país deveria ser autorizada pelo parlamento venezuelano, o único poder público controlado pela oposição no país. Entretanto, através de um comunicado a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiro de Rússia, Maria Zajarova, explicou que o envio de tropas militares russas para Caracas faz parte de um acordo de cooperação técnico-militar assinado entre a Venezuela e a Rússia em 2011, o que dispensa “aprovação adicional”.
“A presença de especialistas russos em território da Venezuela está regulada pelo Acordo de Cooperação Técnico-Militar assinado em maio de 2011, pelo Governos da Rússia e da Venezuela, e que foi ratificado, em seu momento, por ambos países”, explica o documento divulgado pela imprensa venezuelana e agências de notícias internacionais.