Produzir conteúdos televisivos que só ali tinham espaço. Foi com essa vontade que a 29 de Março de 2010, o Canal Q apareceu na televisão por cabo nacional, com distribuição do MEO. A TV por cabo crescia a cada ano e as Produções Fictícias, de Nuno Artur Silva – fundador e diretor geral do Canal Q – acharam que existia uma carência de produtos portugueses nesse segmento: “Propusemos que a partir da rede das Produções Fictícias e dos novos talentos que sempre apareceram em seu torno se criassem estes conteúdos e o MEO aceitou. E curiosamente foi nessa altura que eles estavam a desenvolver a tecnologia da interatividade, portanto o Q foi o primeiro canal interativo, havia um botão onde se carregava e que permitia ver o que se queria às horas que se queria, foi precursor do ponto de vista tecnológico”, garante Nuno Artur Silva.

Agora, a partir de dia 2 de Abril, terça-feira, o Canal Q lança uma plataforma de streaming com os seus conteúdos. Chama-se Qplay e custa 2,99 por mês através da aplicação ou de qualquer browser, bem como gratuitamente no MEO. A isto junta-se uma nova grelha de programação que arranca esta segunda-feira dia 1 de Abril.

Convém, antes de avançar para as novidades, recuperar mais um pedaço da história do Q, perceber-lhe melhor as ambições iniciais à boleia de Nuno Artur Silva: “O espírito era o de fazer um canal laboratório, o que sentimos é que havia um espaço para aquilo que nas empresas tecnológicas se chama research & development, pesquisa e desenvolvimento, que em Portugal, na área dos conteúdos, não havia. Justiça seja feita, a SIC Radical, no seu início, abriu esse espaço, mas quando o Canal Q surgiu já a Radical era mais um canal de conteúdos estrangeiros e esse espaço estava novamente em aberto”.

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Nuno Artur Silva faz questão de referir que este sempre foi um canal de promoção de “novos talentos em convivência com gente já lançada no meio”: “Há 9 anos o Canal Q lançou muita gente, posso dar vários nomes que se estrearam em televisão no Canal Q, por exemplo, o Vasco Palmeirim, Inês Lopes Gonçalves, Joana Marques, Salvador Martinha, e muito mais gente. Também há uma série de pessoas que não se estrearam no Canal Q, mas que vieram aqui fazer programas que só podiam fazer no Canal Q, programas experimentais, loucos”.

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O que aí vem

O cunho distinto do Q – uma escolha que faz deste um lugar de nicho, que não serve audiências, antes devaneios, jogadas arriscadas – enquadra-se agora na lógica de consumo televisivo em que já todos vivemos. Já não é só aquela conversa dos anti-TV, que optam por ter livros e computador ao invés de televisão na sua sala de estar, é a evidente transformação de agora sermos donos do nosso menu, de podermos faltar ao trabalho para ver uma série num dia – pausa apenas para ir aos lavabos e para encomendar comida – de fazermos o que nos apetece.

A todos os serviços internacionais já conhecidos, e a alguns modelos semelhantes dos distribuidores de televisão, junta-se agora o Qplay. Que coleciona quatro novidades fresquinhas, exclusivas da plataforma – isto é, não vão ser emitidas no Canal Q Linear – e que se unem também a praticamente todo o arquivo do Q.

A primeira é uma parceria entre o Canal Q e a Shortcutz para a emissão de várias curtas-metragens, num formato que conta ainda com uma pequena apresentação de Filipe Homem Fonseca.

Há também a série “Um Alienígena Perto de Si”, uma série de humor e ficção que, segundo Nuno Artur Silva, é “uma espécie de doc, um fake-doc, que é um pouco na linha daqueles programas que dizem que os extraterrestres já cá estão”. Tudo escrito por Susana Romana, João Lima, André Dias e Miguel Lambertini.

[a apresentação do novo Inferno:]

“A vida e obra de um desanimado” é uma série criada por Francisco Correia, da autoria do próprio com José Paiva e Mariana Garcia.

“As receitas do Chef Bernas” é uma sátira aos programas de culinária e tem como guionista e mente principal Miguel Lambertini.

Mas as novidades não chegam só no Qplay. No Canal Q linear há uma nova versão do “Inferno”, com apresentação de José Paiva e uma nova equipa com oito criativos e um cão, que vai passar às quintas-feiras, pelas 23h.

Dá-se também o regresso do “Baseado numa história verídica”, onde Aurélio Gomes volta a conversar com pessoas que “contam exatamente a sua vida com todos os pormenores das histórias de ficção, quem são os vilões, etc, a vida contada como se fosse uma série, por exemplo”, explica Nuno Artur Silva. Sextas às 23h.

Outra das novidades do canal é “Querido Diário”, que junta Nuno Artur Silva, Joana Stichini Vilela e Pedro Vieira, descrito assim pelo primeiro: “O ‘Querido Diário’ é um programa que vai ter um convidado novo todas as semanas, onde vamos falar um bocadinho sobre estas formas de auto-representação que são os diários contemporâneos, tanto podem ser escritos como antigamente ou mais atuais como o Instagram, ou Facebook”. Vai ser transmitido às segundas-feiras, já esta segunda-feira, dia 1, às 23h.

Para ver terças às 23h, “Freuda-se”, com Hugo Van der Ding e Manuel Moreira, que depois de terem passado pelo “Super Swing”, voltam agora ao ecrã, num registo onde recuperam o antigo consultório de Freud para praticarem psicanálise nos seus convidados semanais: “É um sítio onde as pessoas vão e se sentam no divã, falam dos seus sonhos e das suas inquietações”, refere Artur Silva.