O bastonário dos Médicos acusa o ministro das Finanças, Mário Centeno de ter feito manobras para empurrar médicos para fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ao atrasar a abertura de concursos para recém-especialistas. Acusa ainda o Ministério de andar meses a “empatar situações” e que a mudança de ministro da Saúde foi pior para o setor.

Miguel Guimarães entende que o Governo se tem “habituado a poupar na saúde” e considera que o ministro das Finanças empurrou vários médicos para o privado ou para trabalho no estrangeiro.

“Repare nas manobras que o ministro Centeno fez para não se contratarem médicos em Portugal. Os atrasos que provocou nos concursos, de quase um ano. Porque sabe que se os médicos estiverem muito tempo à espera [de concurso] têm outras opções e solicitações”, disse o bastonário, em entrevista à agência Lusa.

Miguel Guimarães referia-se ao concurso para mais de 700 médicos especialistas que concluíram o internato em 2017 e estiveram 10 meses à espera, um atraso que na altura o bastonário classificou como uma “vergonha e drama nacional”.

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“[Centeno] Empurrou os médicos para outras opções, ou para o privado ou para fora do país. Se demoro 10 meses a fazer um concurso, alguns médicos não ficam à espera e tomam outras opões”, insiste o bastonário.

A este propósito, Miguel Guimarães elogiou o PCP, que apresentou um projeto de lei, entretanto aprovado, que obriga à abertura de concurso para médicos recém-especialistas no prazo de 30 dias.

O bastonário volta ainda a alertar para os constrangimentos financeiros do setor e para o subfinanciamento. Miguel Guimarães defende que o SNS “não consegue continuar a ter uma boa capacidade de resposta com uma afetação de 4,8% do PIB [Produto Interno Bruto]”.

Bastonário dos Médicos afirma que mudança de ministro da Saúde foi pior para o setor

O Bastonário dos Médicos considera que a mudança do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes para a ministra Marta Temido piorou a situação do setor, Miguel Guimarães frisa que os médicos “não podem continuar a ser o bode expiatório”.

“A ministra da Saúde tem de ser responsabilizada pelo que está a fazer e pelo que não está a fazer. Os médicos não podem continuar a ser o bode expiatório do Ministério, que não funciona, que não se interessa pelos profissionais e pelos doentes. Isto já ultrapassou a linha vermelha”, declara o bastonário em entrevista à agência Lusa.

Miguel Guimarães diz que “são vários meses a tentar empatar as situações, graves, que fazem com que os doentes continuem a estar demasiado tempo à espera de cirurgia, de consulta, que fazem com que os doentes não tenham acesso a médico de família”.

“Temos uma situação complexa e temos promessas da ministra para resolver algumas situações depois de outubro, depois das eleições, o que não é sério”, lamenta.

Miguel Guimarães assume ainda que a mudança de ministro na área da Saúde, que ocorreu em outubro de 2018, não foi benéfica e que a situação piorou.

“Tínhamos acordado várias questões importantes e matérias fundamentais para a qualidade da Medicina com o anterior ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes. A maior parte dessas coisas que tinham sido acordadas, de repente, voltou à estaca zero. Isto não é possível. Até parece que mudou o Governo. É extraordinariamente difícil trabalhar sem qualquer estabilidade”, queixa-se o bastonário, em dia de Fórum Médico, reunião que esta quarta-feira junta em Lisboa a Ordem, sindicatos e associações do setor.

O representante dos médicos assume o “desconforto em relação à mudança de ministro”, com Marta Temido a substituir Campos Fernandes, alegando que passados “meses largos de atividade” a nova ministra não tem resolvido problemas nem dado andamento a processos que estavam em curso.

Miguel Guimarães recorda que a Ordem era também crítica do anterior ministro, mas estabelece diferenças:

“Apesar de tudo, quando [Campos Fernandes] tinha intervenções públicas, respeitava as pessoas. Raramente assumiu uma posição de falta de respeito perante os médicos ou enfermeiros. Esta ministra não. É muito complicado quando as pessoas que fazem o SNS todos os dias ouvem insinuações de que os médicos nem por 500 euros à hora trabalham, o que é uma falsidade, ou ouvem insinuações sobre vencimentos ou sobre os médicos serem responsáveis pelo que está a acontecer na saúde”.

Em relação aos médicos internos, o bastonário considera que Marta Temido criou uma “situação inédita no país” ao conseguir “tê-los a todos revoltados”.

Aliás, Miguel Guimarães estima que os médicos internos (jovens médicos em formação de especialidade) “vão ter um papel muito importante” no Fórum Médico desta quarta-feira.

“Estão com muita energia e querem fazer qualquer coisa mais forte”, disse.

A propósito dos jovens médicos, a Ordem decidiu que vai avançar com uma auditoria aos processos de atribuição de vagas para especialidade e de capacidade formativa dos serviços de saúde.

Lembrando que há médicos que em Portugal não têm acesso à especialidade, muito porque há jovens formados noutros países que tiram a especialidade em hospitais portugueses, o bastonário entende que é importante fazer uma auditoria sobre todo o processo que envolve a formação dos médicos para ver onde é possível melhorar.

Este era um dos projetos que a Ordem já tinha negociado com o anterior ministro da Saúde, mas que entretanto não avançou, lembra ainda Miguel Guimarães na entrevista à Lusa.