Os motores a gasolina e a gasóleo modernos emitem alguns poluentes, mas o maior problema é o excesso de CO2, e apesar de o dióxido de carbono não ser um poluente – os seres humanos expiram-no várias vezes por minuto –, a verdade é que o aquecimento global e as alterações climatéricas que provoca constituem um problema ainda mais grave.

Vem isto a propósito de um “detalhe” que tem passado despercebido, outro tipo de poluição que é particularmente perigosa e a que (quase) ninguém liga. Pelo menos, até agora: aquela que é libertada pelos sistemas de travagem. Quando um veículo acciona os travões, transforma basicamente energia cinética em calor, através da fricção das pastilhas de travão nos discos. O desgaste é obviamente maior quanto mais elevados forem a velocidade e o peso do veículo, mas o problema está naquele pó preto que tanto suja as jantes.

Estudos provam que, em ambiente urbano, 55% das partículas PM10 (Partículas de Matéria com menos de 10 mícrons de diâmetro), não relacionadas com gases de escape, são originadas pelo desgaste dos travões, representando 21% do total, se incluirmos o resultado da combustão dos motores. Com a poeira dos pneus a ser igualmente uma importante (mas não tanto) fonte de partículas. Como seria de prever, a emissão é menor em estrada e, sobretudo, em auto-estrada, em virtude do menor uso dos travões por quilómetro percorrido.

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As partículas emitidas pelo desgaste dos discos e pastilhas são essencialmente de metais como ferro, cobre e manganésio. Mas, até ao estudo publicado em Janeiro de 2017 pela Environmental Science & Technology, não era evidente como é que estes metais entravam na corrente sanguínea, provocando enormes problemas de saúde. Sabe-se agora que a responsabilidade recai nos sulfatos que existem no ar, resultantes dos ácidos sulfúrico e nítrico, que diluem essas partículas metálicas sólidas, que depois são “respiradas” pelos seres humanos, entrando na corrente sanguínea através dos pulmões.

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Posto isto, é do maior interesse os testes que a Volkswagen está a levar a cabo, basicamente instalando filtros de partículas nos travões. Para já, estão montados em cada uma das quatro rodas de um protótipo de Golf GTD que circula na Alemanha, país onde são emitidas 10.000 toneladas de partículas de travão por ano. Os filtros recorrem a uma rede especial para capturar até 80% das partículas (PM10 e maiores), sendo ainda resistente a altas temperaturas e desenhado de forma a que os travões (discos e partilhas) não ultrapassem a janela ideal de funcionamento, acima da qual o desgaste é ainda superior.

Quando estiverem prontos para ser montados em série nos veículos novos, o que segundo o fabricante Mann+Hummel acontecerá já em 2021, os filtros de travões vão igualmente poder ser montados em veículos antigos, ainda em circulação, pois só assim se consegue uma melhoria acelerada do ar que se respira. O ideal seria que, entretanto, fosse possível encontrar uma solução para montar sistemas similares nos comboios e sobretudo metropolitano, onde a concentração de partículas tende a ser ainda mais elevada.