O sushi, os desenhos manga e o origami dispensam apresentações. Há muito que passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia, o que não significa que a cultura japonesa se resuma a três expressões perfeitamente fundidas num modo de vida globalmente estabelecido. Da poesia à dança, das flores às meticulosas formas de embrulhar e de remendar, a língua japonesa tem uma palavra e, consequentemente, uma arte para tudo — este ano, está ainda mais sob foco, com uma histórica mudança no trono de Crisântemo, com o veterano imperador Akihito a ceder oficialmente o lugar ao filho Naruhito no dia 30 de abril. Entre Lisboa e Porto, com paragem absolutamente obrigatória no Museu do Oriente, reunimos dez cursos e workshops onde, por muitos quilómetros que nos separem do Japão, é possível encurtar a distância entre Portugal e a terra do sol nascente.

Ikebana

Mais do que pôr flores numa jarra, a arte japonesa dos arranjos florais tem como missão trazer a beleza e a harmonia da natureza para dentro de casa, numa peça meticulosamente composta por mãos humanas e equiparada a uma pintura ou escultura. A história do ikebana remonta ao século VI, altura em que as composições florais eram oferendas comuns aos espíritos, dentro dos templos budistas. Não admira, por isso, que a arte se tenha disseminado, em primeiro lugar, entre os monges. Hoje, não há elementos proibidos — flores, folhas, ervas, ramos, musgo, frutos e rebentos –, tudo pode ser misturado tendo em conta a inspiração direta da própria natureza, o ambiente a que se destina a obra final e, claro, o cunho autoral de cada profissional. Os componentes naturais não são tudo. Um bom especialista tem em conta a estética assimétrica a que o ikebana obedece, bem como a importância dos espaços vazios e do recipiente do arranjo. A arte é cheia de preceitos, mas o Museu do Oriente dedica-lhe um workshop de duas horas, orientado pelo mestre Yuko Kase. A sessão de 24 de maio já esgotou, mas há uma segunda no dia 3 de junho. Custa 45 euros.

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Haiku

Depuração e simplicidade são duas das palavras mais comuns nas diferentes manifestações culturais e artísticas japonesas. A escrita não é exceção, embora no caso dos poemas haiku haja uma dose de engenho considerável por detrás de cada palavra e verso. A fórmula não é fácil de entender, muito menos de pôr em prática — as sílabas por verso estão contadas e existem palavras chave já estabelecidas em função da estação do ano. Soa a complicado, mas não é impossível. O Museu do Oriente dedica-lhe um workshop nos dias 23 e 30 de maio. Custa 27 euros.

Shodō

Shodō é o nome pelo qual é conhecida a caligrafia japonesa. Mais do que uma forma prática de comunicar através da escrita, é uma arte, vinda da China no século V e incorporada na cultura do país. O pincel, a tinta e o papel de arroz são os utensílios indispensáveis. Ainda hoje, no Japão, as crianças aprendem esta arte logo na escola, através da reprodução dos ideogramas. No século XX, vários calígrafos começaram a questionar o ato de simplesmente copiar modelos, fazendo nascer de uma arte ancestral uma nova forma de expressão, muito mais autoral e subjetiva. A caligrafia japonesa é um dos temas mais recorrentes na agenda do Museu do Oriente. No dia 29 de maio, volta a dedicar-lhe um workshop. O preço é 20 euros.

Encadernação japonesa

Dos rolos para os livros desdobráveis, das páginas em ziguezague para a estrutura de livro que é hoje mais comum, com folhas presas pela mesma extremidade e numa única lombada — a evolução do livro a Oriente fez com que o objeto assumisse várias formas ao longo dos séculos. Para os japoneses, encaderná-lo é um ofício próprio que abarca diferentes técnicas. O yotsumi toji, ou ponto à vista, é um dos traços mais distintivos da encadernação japonesa. Não que a Ocidente os livros não tenham sido também costurados, mas os fios como elementos estético são uma marca nipónica. Ainda assim, o método é replicado um pouco por todo o mundo. Em Portugal, uma marca de estacionário criada em 2012, resgatou a memória dos primeiros europeus a chegar ao país mais longínquo do extremo oriente. Cosidos à mão, os cadernos da Namban variam entre os sete e os 24,50 euros. Se preferir fazer com as próprias mãos, saiba que o Museu do Oriente tem um workshop programado para a tarde de 17 de maio. Dura três horas e tem um custo de 35 euros, já com os materiais incluídos.

Furoshiki

Pode não ser a mais disseminada das técnicas tradicionais japonesas, mas é certamente uma das mais úteis. Começou por ser uma forma de evitar que as roupas dos japoneses se misturassem nos banhos públicos. No século XX, o método de embrulho terá sido adotado por comerciantes, primeiro em mercadorias e depois em presentes. Com o engenho certo, tudo se pode embrulhar seguindo os preceitos do furoshiki. Susana Domingues, responsável pelo projeto Hands on heArts, dedica-se ao ensino desta e de outras técnicas japonesas há mais de uma década. Além de ser uma questão de sustentabilidade ambiental (usa-se tecido, perfeitamente reutilizável, em vez de papel), é fácil de aprender e de aplicar no dia-a-dia. Ao mesmo tempo, Susana especializou-se noutros saberes — sashiko, a arte de reforçar costuras e remendos em tecidos com pontos decorativos, mizuhiki, uma corda feita a partir de papel de arroz entrançado, orikata, a arte de embrulhar em papel, kumihimo, uma corda feita com vários fios entrançados por um tear circular, e hana kanzashi, a arte de fazer as flores que adornam os penteados tradicionais japoneses. Atualmente, a agenda de workshops de Susana divide-se entre a Biblioteca Municipal da Amadora (25 de maio e 22 de junho) e a Câmara de Comércio e Indústria Luso-japonesa (29 de junho). Os preços variam entre os 5 e os 25 euros.

Washoku

Sabia que a washoku, nome dado à cozinha tradicional japonesa, foi considerada Património Imaterial da Humanidade em 2013? Há uns anos diríamos que o sushi era, de facto, o elemento central da cozinha japonesa. Hoje, já não temos desculpa para cometer tal atrocidade com o património gastronómico do país do sol nascente. O cardápio aumentou (neste caso, o conhecimento que temos dele) e abriu-se ao ramen, às carnes cozinhadas a baixas temperaturas e às okonomiyaki. Ainda assim, a preparação do peixe cru e do arroz continuam a despertar a curiosidade de muitos. A Orienta-te, Cozinhas Asiáticas proporciona viagens pelas diferentes ementas da Ásia e, todos os meses, organiza workshops dedicados a pratos japoneses. O sushi é a receita mais recorrente (há uma Sushi Class marcada para dia 27 de abril, em Carcavelos, com o valor de 45 euros por pessoa), embora tenha havido sessões dedicadas ao ramen. Na Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal, o nível é outro. Em parceria com o Tokyo College of Sushi and Washoku, a escola criou o curso de sushi e street food. São 156 horas de formação e um investimento de 1.950 euros. Afinal, quem terminar, vai sair de lá um verdadeiro profissional.

Butoh

Esta não é mais uma expressão artística ancestral do Japão. Criada pelo coreógrafo Tatsumi Hijikata e pelo dançarino Kazuo Ohno, mais do que uma dança, o butoh é uma performance. O primeiro espetáculo aconteceu em 1959 e a partir daí a arte propagou-se através dos dois mestres. Os anos 80 trouxeram novos grupos, bem como os primeiros espetáculos fora do Japão. Esteticamente, a performance é marcada pela seminudez dos dançarinos, pela pintura total do corpo, cabeças rapadas, dedos das mãos contorcidos e pelos olhos revirados. No Porto, a companhia de butoh Anattabardo existe desde 2012. Atualmente, organiza aulas semanais e workshops, embora a finalidade do grupo seja a criação de performances que integram os alunos que concluem a formação. Uma aula custa 10 euros. Por 40 euros, pode ter seis aulas. Em Lisboa, o Museu do Oriente também programa um workshop de cinco sessões, que acontecerá nos dias 8, 15, 22 e 29 de maio e 5 de junho. “Olhar o Museu Através da Dança Butoh” conta com a orientação de Maria Reis Lima, bailarina, coreógrafa e discípula do próprio Kazuo Ohno. Custa 50 euros.

Língua japonesa

Arigatō e sayōnara (“obrigado” e “adeus” em japonês) são expressões universais que qualquer comum mortal saberia usar para se corresponder com um japonês. Ainda assim, o diálogo estaria condenado ao fracasso. Primeiro, porque um simples arigatō não chega — arigatō gozaimasu é a forma mais completa e educada de se agradecer, enquanto arigatō gozaimashita uma forma composta de dizer “obrigado” em jeito de despedida. E o adeus? Pode dizer-se jane em interações informais. Aprender japonês pode dar trabalho, mas também é uma forma de impressionar interlocutores e, quem sabe, de se desenrascar melhor numa possível ida ao Japão. É um dos idiomas disponíveis no ILNOVA, em Lisboa, quer no formato de programa semestral, quer no de curso intensivo. Um semestre de aulas fica por 270 euros.

Manga e anime

Dentro das caixas de uma banda desenhada ou em movimento num ecrã, o traço é sempre japonês. Mais do que um passatempo para geeks, o desenho manga é um símbolo universal da cultura pop japonesa. A arte desenvolveu-se no século XIX e atingiu uma enorme escala financeira na década de 50 do século passado. Há medida que se multiplicou por vários géneros e chegou a públicos de diferentes idades e interesses, a banda desenhada japonesa revelou-se uma indústria de milhões. No primeiro quartel do século XX chega a animação japonesa em movimento, mais tarde impulsionada internacionalmente pelo artista e produtor Osamu Tezuka. Quem não se lembra do Dragon Ball, série original da segunda metade dos anos 80? Ou da Sailor Moon, uma shōjo manga (a primeira expressão indica o público-alvo da banda desenhada, neste caso, raparigas adolescentes) adaptada à televisão no início da década de 90? Por cá, há mais uma edição do Iberanime a caminho. Nos dias 18 e 19 de maio, em Lisboa, o programa inclui workshops de desenho manga, de origami e de iniciação à língua japonesa e até um concurso de karaoke dedicado à j-pop. Há bilhetes diários a partir de 13 euros.

Origami

Há anos que ganhámos o gosto pela arte japonesa das dobras e do papel. Mas dentro do origami existem outras técnicas, como é o caso do tsuru, do sonobe e do kusudama. É um jogo de paciência, mas também de perícia manual. Criada em 2018, a Origami Factory, na Lx Factory, em Lisboa, dedica-se em exclusivo a este símbolo do Japão. A agenda de workshops é extensa (há sete marcados até ao fim de abril). Além de aulas pensadas para crianças e adolescentes, existem sessões dedicadas a aspetos específicos do origami e até às potencialidades desta arte enquanto ritual de meditação. Os preços variam entre os 10 e os 20 euros.