Não é todos os dias que uma marca de luxo europeia viaja de armas e bagagens para um destino paradisíaco. Mas afinal, para que é que serve uma coleção cruise, senão para explorar outras paragens. Na última segunda-feira, a Dior voou até Marraquexe. Com ela, levou um séquito de convidados — manequins, jornalistas, estrelas de Hollywood e os ditos influenciadores — e uma coleção, desenhada por Maria Grazia Chiuri, inspirada no continente africano. A cultura e a estética sempre a fascinaram, mas desta vez a diretora criativa da maison não trabalhou sozinha.
Especialista em moda e na tradição têxtil africana, a antropóloga francesa Anne Grosfilley foi uma espécie de guia na construção da coleção. A pesquisa levou Chiuri para a Costa do Marfim, até uma fábrica onde os tecidos são estampados à mão através de uma técnica que utiliza cera. “É a celebração da diversidade das velhas culturas africanas. Mas não é uma coleção africana. Tem a ver com a ligação entre as diferentes culturas e a promoção de um saber fazer africano”, referiu Grosfilley, citada pela Vogue britânica.
Mais do que inspirada em África, a própria execução da coleção cruise 2020 também passou por África. Entre os coordenados que desfilaram ao cair da noite, contornando o espelho de água do Palais El Badi, edificação imponente do século XVI, esteve uma reinterpretação do icónico new look de Christian Dior, resultado da colaboração com Grace Wales Bonner, designer britânica de origem jamaicana, e Mickalene Thomas, artista afro-americana. Pathé’O, o mestre sul-africano que chegou a vestir Nelson Mandela, desenhou uma camisa em homenagem ao herói da luta anti-apartheid. O atelier de chapelaria da Dior trabalhou com designers africanos, incluindo a chapeleira nigeriana Daniella Osemadewa. Na cenografia, mais uma colaboração, aí com Sumano, o projeto social que representa dezenas de tecelões e ceramistas da região do Anti-Atlas.
“O trabalho artesanal é parte da nossa herança e, como maison de alta-costura, temos de falar disso de uma maneira diferente, de uma maneira contemporânea”, afirmou Maria Grazia Chiuri à Vogue Brasil. “O meu objetivo não foi só falar de artesanato à volta do globo, mas percorrer o globo e olhar para os códigos da Dior de diferentes pontos de vista”, acrescentou a diretora criativa, que há um ano apresentava a coleção cruise 2019 montando um rodeo mexicano em Paris. Recorde-se ainda que, no final do ano passado, a inspiração mexicana da campanha da Dior, protagonizada por Jennifer Lawrence, foi alvo de críticas. Na origem da polémica esteve a questão da apropriação cultural.
Na segunda-feira à noite, Marraquexe chegou aos 36 graus (o que se revelou um verdadeiro desafio para a equipa de maquilhagem). A modelo portuguesa Maria Miguel desfilou, bem como a angolana Blésnya Minher. Para assistir ao desfile, juntaram-se estrelas de Hollywood como Lupita Nyong’o, Jessica Alba e Shailene Woodley, a manequim Karlie Kloss e uma mão cheia de it girls, entre elas Leandra Medine, Jeanne Damas e a brasileira Camila Coelho. Ainda assim, ninguém brilhou tanto como Diana Ross. Aos 75 anos, a cantora norte-americana não só ocupou um lugar na primeira fila, como atuou na after party, como pode ver no vídeo abaixo (ou neste).
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Na realidade, o desfile da Dior fez parte de um programa de dois dias. Na noite de domingo, depois de ter chegado num avião personalizado pela maison, os convidados foram recebidos num outro monumento emblemático desta cidade marroquina, o Palais Bahia. Das loiças nas mesas aos tesouros de arquivo que ocuparam várias salas do palácio, entre músicos, plantas e lanternas, o cenário criado foi puramente paradisíaco e repleto de referências ao universo Dior.
O mundo da moda abre oficialmente mais um calendário de apresentações, desta vez dedicado às coleções cruise. É certo que nem todas as marcas a têm, mas manda a tradição que esta coleção anual venha complementar os dois lançamentos sazonais que continuam a orientar a indústria: as coleções primavera-verão e outono-inverno. Historicamente, a cruise ou resort collection é apresentada no seguimento desta última. Enquanto fazem compras para a estação fria, os clientes mais abastados e socialites procuram também moda mais leve para poderem desfrutar de uma férias no hemisfério sul. O vestuário de verão, com uma atenção especial aos elementos balneares, é por isso central numa coleção cruise, expressão que deriva do facto de os cruzeiros serem programas recorrentes para umas férias num destino quente, isto quando não passam por uma embarcação própria.
O desfile da Dior, esta segunda-feira, marca o arranque de um calendário de desfiles que se estende até ao final de maio. A Prada voa até Nova Iorque já na próxima quinta-feira. A Chanel ocupa a sua segunda casa, o Grand Palais, no dia seguinte. No 8 de maio, a Louis Vuitton desfile no TWA Flight Center, em pleno Aeroporto Internacional John F. Kennedy, também me Nova Iorque.No final do mês, Giorgio Armani desfila em Tóquio. No dia 28, a Gucci abre as portas aos Museus Capitolinos, em Roma.
Na fotogaleria, veja alguns dos coordenados do desfile e ainda os convidados mais ilustres que voaram até Marraquexe a convite da Dior.