Quando o Benfica se deslocou a Amesterdão para defrontar o Ajax, ainda bem longe de alguém imaginar que se estava perante um futuro candidato à final da Liga dos Campeões (com um passo muito importante na primeira mão das meias), houve um gesto que colocou a Arena de Amesterdão rendida aos adeptos visitantes – a tarja “Stay Strong Nouri”, ou “Mantém-te forte Nouri”, em homenagem a Abdelhak Nouri, mais conhecido por Appie, jovem jogador holandês da formação do clube que colapsou num particular com o Werder Bremen na Áustria em julho de 2017 e sofreu “danos cerebrais sérios e permanentes” aos 20 anos.

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A notícia caiu como uma bomba no seio do clube. Foram feitas várias homenagens, incluindo uma mais simbólica com centenas e centenas de adeptos junto à casa do jogador onde estavam também os companheiros de equipa, e não mais o médio ofensivo foi esquecido pelo Ajax, em particular com quem privou mais de perto com a promessa que se tinha destacado no Campeonato da Europa Sub-19 um ano antes do sucedido. Entre eles, de forma inevitável, Donny Van de Beek, que ainda hoje é o representante do clube em tudo o que envolva Appie, como a atribuição do prémio Talento do Ano na academia do clube.

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Recuando a esse verão de 2017, o primeiro encontro dos holandeses depois do sucedido foi contra os franceses do Nice, na fase preliminar da Liga dos Campeões. Mario Balotelli adiantou os gauleses no marcador, o médio fez o empate no início da segunda parte. Até esse momento, Van de Beek tinha apontado apenas um golo pelos seniores do Ajax e até jogava numa posição mais recuada do terreno mas surgiu de forma oportuna na área para marcar e desenhar com os dedos um 3 e um 4, o número que Appie, o seu melhor amigo e com quem jogava desde os nove anos (têm apenas duas semanas de diferença na idade) costumava utilizar no clube. Essa memória voltou na vitória dos holandeses em Turim, nos quartos da Champions da presente temporada, de novo com mais um golo do número 6 que se fez muito mais goleador com o tempo.

Donny van de Beek foi à área, marcou e recordou Appie, o melhor amigo que colapsou em campo

“Quando marquei, olhei para o marcador e vi o tempo. Que belo momento para ser importante: o minuto 34. Isto não pode ser coincidência. É muito especial e inesquecível”, destacou na zona mista depois do triunfo frente à Juventus que deixou Cristiano Ronaldo e companhia fora das meias-finais da Liga dos Campeões, que arrancaram esta noite em Londres.

Nascido em Nijkerkerveen, Van de Beek começou a jogar no Veensche Boys (onde o pai tinha também sido jogador) mas cedo despertou a atenção do Ajax, onde chegou com apenas nove anos. Depois de cumprir todo o percurso na formação do clube, incluindo a passagem pelo Jong Ajax (equivalente à equipa B), chegou ao conjunto principal ainda com idade de júnior e a atuar numa posição mais recuada, na primeira fase de construção da equipa como um médio defensivo capaz de organizar. Com o tempo, foi subindo no relvado e, com Ten Hag no comando, afirmou-se como a unidade capaz de criar os desequilíbrios tendo atrás de si Schöne e Frenkie De Jong. Com isso, ganhou maior protagonismo, levando 16 golos em 53 jogos.

Esta noite, em Londres, o médio voltou a ser decisivo como já tinha acontecido em Turim, apontando o único golo do encontro frente ao Tottenham aos 15 minutos e tendo ainda a outra melhor oportunidade do Ajax no primeiro tempo, travada da melhor forma por Hugo Lloris, numa exibição que lhe valeu o prémio de Melhor Jogador em Campo.