Como é que o mundo pode aliviar a pressão sobre a necessidade de água no futuro, se cerca de 70% da água doce a nível global é usada para culturas agrícolas irrigadas e se, segundo as Nações Unidas, a população mundial avança para os 9 mil milhões de habitantes até 2050? Um estudo publicado na revista Nature Sustainability avança com a solução.
“Para produzir a nossa alimentação de forma sustentável e respeitando as necessidades ambientais, será necessário expandir a área de terra utilizada para agricultura em 100 milhões de hectares – aproximadamente 100 milhões de estádios de futebol – até 2050”, explica Amandine Pastor, autora do estudo e colaboradora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em comunicado, o centro da Faculdade de Ciências diz que o estudo tem em conta as necessidades globais de alimentos e água até 2050, e a forma como estes recursos se relacionam entre si, e quantifica o efeito da proteção dos ecossistemas aquáticos nas captações de água, na produção global de alimentos e nos fluxos comerciais.
Os investigadores usaram “cenários de mudanças climáticas e cenários de mudanças socio-económicas desenvolvidos pela comunidade científica para o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas”.
Amandine Pastor, que também integra o Instituto de Investigação para o Desenvolvimento, em França, entende que “será necessário reduzir as culturas intensivas em áreas secas, redistribuir a produção agrícola de alimentos em regiões abundantes em água” e aumentar o comércio internacional de alimentos.
“Os resultados do estudo indicam que será necessário um fluxo adicional de 10% a 20% de comércio desde regiões abundantes em água para regiões com escassez de água a fim de respeitar as regulações ambientais que asseguram a saúde dos ecossistemas”, adianta. Os principais fluxos vão da América Latina para o Médio Oriente e China.
Apesar da crescente poluição e dos impactos das mudanças climáticas, Amandine Pastor acredita que será possível manter a segurança alimentar e os requisitos de conservação dos ecossistemas de água doce até 2050. Mas apenas se forem adotadas “práticas sustentáveis e inovadoras, como cultivar em zonas agro-climáticas apropriadas”. Por exemplo, “plantar culturas menos intensivas em água em áreas secas -, desenvolver a agricultura urbana e vertical e reduzir o consumo de carne na dieta humana”, conclui a investigadora.