A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) vai realizar uma Oferta Pública de Venda (OPV) de 2,5% do capital através de 680 milhões de ações a três meticais (quatro cêntimos de euro) cada, anunciou esta segunda-feira a empresa pública.

Trata-se da primeira fase de venda de 7,5% do capital da HCB.

“A decisão dos acionistas coloca à disposição dos moçambicanos uma soberba oportunidade de adquirir ações de uma empresa próspera e saudável”, naquela que será a “maior operação em bolsa” jamais realizada em Moçambique, referiu Pedro Couto, presidente do conselho de administração da HCB.

A operação “vai certamente dar um impulso no mercado de capitais no país” e “mais importante que os números, a OPV dá um sinal concreto de empoderamento económico dos moçambicanos”, acrescentou.

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Esta será a quinta OPV da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) e será acompanhada de campanhas de divulgação destinadas a explicar ao público como funciona o processo e um mercado de ações.

A subscrição decorre de 17 de junho a 12 de julho e é dirigida a cidadãos e empresas moçambicanas, decorrendo o apuramento a 17 de julho e a liquidação no dia seguinte.

A admissão a cotação está marcada para 22 de julho e ainda não há data para dispersão dos restantes 5% de capital a levar para a bolsa.

A BVM existe há 20 anos, tem oito empresas cotadas e no primeiro trimestre deste ano transacionou o equivalente a 9,8 milhões de euros, atingindo no final do período uma capitalização bolsista total acumulada de 1,263 milhões de euros (cerca de 9% do Produto Interno Bruto de Moçambique).

A operação vai ser liderada por um consórcio constituído pelo Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e Banco BIG.

A HCB tem vendas fixas contratadas de 1.100 megawatt (MW) por ano à elétrica sul-africana Eskom, 300 à Eletricidade de Moçambique (EDM) e 50 à companhia elétrica estatal da Zâmbia (Zeza).

Entre os destaques recentes apresentados esta segunda-feira pela administração está o aumento de receitas em cerca de 43% em 2018, resultado da revisão em alta dos preços acordados com a África do Sul.

“A gestão empreendida” e a “negociação de sucesso” com a Eskom, permitiram “contrariar a redução de produção de energia com um aumento de receitas”, destacou o administrador, Manuel Gameiro.

Um cenário atrativo para investidores, referiu, sublinhando o histórico de lucros, o balanço praticamente livre de quaisquer ónus e uma política de dividendos que distribui 25% dos resultados pelos acionistas.

A dispersão em bolsa foi anunciada em 27 de novembro de 2017 pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, durante as celebrações do 10.º aniversário da reversão da hidroelétrica de Portugal para Moçambique, classificando a medida como “um ato de inclusão e transparência” financeira.

Situada no rio Zambeze, na província de Tete, centro de Moçambique, a barragem é a maior da África Austral, com construção iniciada em 1969, ainda no período colonial, e operação a partir de 1977.

A hidroelétrica abastece a África do Sul e o sul Moçambique com uma produção anual que tem rondado os 13.700 gigawats (GWh), afetada pela seca dos últimos anos na região austral, apontando para uma meta de produção de 14.809 GWh em 2019.

A empresa tem em curso um plano de modernização denominado CAPEX Vital 10 anos que ronda 500 milhões de euros e que prevê investimentos na barragem, central de geração, subestações do Songo e de Matambo e nas linhas de transporte de energia, visando aumentar a fiabilidade técnica e operacional.

O Estado detém 85% das ações da HCB, 7,5% pertencem à redes Energéticas Nacionais (REN), empresa de transporte de energia de Portugal e outros 7,5% são ações próprias.

A HCB foi uma das empresas afetadas pelo ciclone Idai, que destruiu várias infraestruturas e matou 603 pessoas no centro de Moçambique em março.

A tempestade danificou as linhas de fornecimento de energia elétrica ao sul de Moçambique e à África do Sul que seriam repostas no início deste mês.