O lince-ibérico passou de criticamente ameaçado para ameaçado de extinção e poderá ser espécie vulnerável em poucos anos e sem estatuto de ameaça dentro de décadas, graças à reintrodução de exemplares na Península Ibérica, admitiu esta sexta-feira um especialista.

“É possível que, dentro de poucos anos”, o lince-ibérico passe a ter estatuto de espécie “vulnerável” e “também é possível que, mais umas décadas, deixe de estar ameaçado e de ter qualquer estatuto de ameaça”, disse à agência Lusa Pedro Sarmento, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Pedro Sarmento, que faz parte da equipa do Projeto de Recuperação da Distribuição Histórica do Lince-Ibérico em Espanha e Portugal “LIFE+Iberlince”, lembrou que o estatuto de conservação da espécie era de criticamente ameaçada de extinção e, em 2016, “face à evolução da população”, conseguida após três anos de reintrodução de exemplares em Espanha e dois em Portugal, “baixou uma categoria”, para ameaçada de extinção.

Segundo Pedro Sarmento, que falava à Lusa em Beja, à margem do seminário “Conservação do lince-ibérico, estratégia e atuações presentes e futuras”, graças ao projeto, na Península Ibérica, o efetivo de lince-ibérico passou de “cerca de 90” animais em 2003 para “640”, segundo o último censo feito em 2018.

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“Também houve um aumento significativo da área ocupada” pela espécie na Península Ibérica, “sobretudo em Espanha, onde estava restrita à região da Andaluzia e, atualmente, está em mais duas regiões”, nomeadamente Extremadura e Castilla La Mancha, disse.

Atualmente, o ICNF estima que a população de lince-ibérico a viver na natureza em Portugal é constituída por 75 animais, espalhados pelos concelhos de Mértola, Serpa, Castro Verde e Almodôvar, no distrito de Beja, no Alentejo, e Alcoutim, no distrito de Faro, no Algarve. A estimativa resulta de 40 libertações, 55 nascimentos e 13 mortes em meio natural, exclui oito desaparecimentos registados até hoje em Portugal e um animal que dispersou para Espanha e inclui dois que dispersaram de Espanha para Portugal.

No âmbito “LIFE+Iberlince”, o ICNF começou a libertar exemplares de lince-ibérico na natureza em Portugal em dezembro de 2014, quando só existia um exemplar da espécie, o macho Hongo, em situação de isolamento na zona de Vila Nova de Milfontes, concelho de Odemira, distrito de Beja.

Hongo, que tinha nascido em 2011 e sido localizado pela última vez em 2012 em Espanha, dispersou para Portugal, onde foi detetado numa zona de caça de Vila Nova de Milfontes, em 2013, e encontrado morto, vítima de atropelamento, em 2015, na Autoestrada 23, perto de Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém.

Segundo Pedro Sarmento, desde 2014, o ICNF libertou 40 exemplares de lince-ibérico no Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG), sobretudo no concelho de Mértola, e monitoriza os exemplares que vivem em liberdade em Portugal.

Dos 40 exemplares libertados na natureza em Portugal, um dispersou para Espanha, oito estão desaparecidos e 13 morreram por várias causas, nomeadamente atropelamento, afogamento, envenenamento, debilidade/doença ou causas desconhecidas,

Em março de 2016, registaram-se os primeiros nascimentos comprovados da espécie em meio natural em Portugal desde a década de 80 do século XX e, em maio de 2018, ocorreu a primeira reprodução de linces já nascidos na natureza no PNVG. Desde março de 2016 e até hoje, o ICNF já contabilizou 55 nascimentos de lince-ibérico na natureza em Portugal, sendo que 45 foram registados até ao final da época de reprodução de 2018 e dez já este ano.

De acordo com Pedro Sarmento, o processo de reintrodução de lince-ibérico no PNVG deverá terminar quando haver 30 fêmeas reprodutoras em meio natural, o que poderá acontecer “em 2022”. “Quando atingirmos as 30 fêmeas reprodutoras, poderemos parar de libertar animais e fazer apenas libertações pontuais se for necessário corrigir situações de genética”, disse. “Daí para a frente, pode acontecer uma colonização natural a partir de linces nascidos no PNVG, que poderão começar a ocupar outros locais em Portugal e em Espanha” e “também se poderá começar a equacionar novas áreas de reintrodução” em Portugal, admitiu.