Os incêndios entre Vila de Rei e de Mação estão “dominados” e “já não têm frentes ativas”, confirmou em conferência de imprensa a Proteção Civil. Esta manhã, o comandante Luís Belo Costa tinha dado 90% do incêndio como “em fase de resolução”, mas agora esse é o ponto de situação em toda a área que estava a ser consumida pelo fogo. Ainda assim, as características do terreno e a exaustão dos bombeiros dificultaram os trabalhos ao longo da manhã, por isso ainda estão por extinguir as combustões lentas que podem provoca  reativações.

Durante a manhã, explicou o comandante, “os trabalhos durante a noite foram muitos frutíferos”: “A progressão do incêndio foi travada em zonas extraordinariamente difíceis. Usámos maquinaria pesada. Mas todos os dias este esforço tem sido fruto de um empenhamento bastante musculado e constante”, explicou o comandante Luís Belo Costa da Proteção Civil aos jornalistas na Sertã.

As autoridades já tinha previsto “situações menos agradáveis em termos de evolução do incêndio”: “Vamos ver se durante o período da manhã terminamos esta tarefa de controlo dos incêndios. Mas o dia, no que respeita aos indicativos meteorológicas, vai ser semelhante aos últimos, com temperaturas muito elevadas, vento a intensificar à hora de almoço e uma tarde que nos vai trazer dificuldades”, descreveu a Proteção Civil. Esses perigos permanecem, sublinha o comandante. E “pode dificultar os trabalhos” ao longo da tarde.

Os bombeiros estão prontos para enfrentar essas ameaças. Segundo o comandante, a Proteção Civil tenciona “intensificar o trabalho com maquinaria pesada” entre Vila de Rei e Carnidos, em Mação, porque foram as últimas frentes e serem contidas. Além disso, os bombeiros estão preparados para proteger as chamadas “ilhas”, isto é, as regiões florestais que ficam no meio de áreas consumidas pelos fogos. A GNR, a Cruz Vermelha e o INEM também estão alerta para evacuar aldeias, caso haja necessidade disso, e para ajudar a população.

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O ministro da Administração Interna está em Mação e elogiou a “capacidade” das entidades em “responder às prioridades estratégicas”: “Houve um cumprimento rigoroso daquelas que são as orientações estratégicas definidas no modelo de combate de incêndios rurais. A prioridade é a salvaguarda da vida humana, das populações, das aldeias, das zonas residenciais. As alterações climáticas e as características das florestas exigem uma resposta que já está a ser dada com os mecanismos de reforma de floresta. Esse é um trabalho de fundo que já esta a ser feito”, afirmou Eduardo Cabrita.

O ministro Eduardo Cabrita insistiu que “seria demagogia absoluta dizer que não vai haver mais incêndios de grandes dimensão”: “As alterações climáticas e as características da nossa floresta tornam inevitáveis incêndios de grandes dimensões”, afirma o ministro. Mas promete resposta nos próximos dias para quem perdeu casas ou terrenos agrícolas à conta das chamas.

Quatro horas para transportar uma vítima grave

Questionada pelos jornalistas sobre as vítimas resultantes deste incêndios, a porta-voz do INEM mantém que, das 41 pessoas assistidas por médicos e enfermeiros, 17 estão feridas. Entre esses feridos, 15 são bombeiros e dois são civis, um dos quais está em estado grave. O ferido grave foi assistido seis minutos depois do pedido de ajuda, afirmou o INEM, respondendo às queixas de que essa vítima tinha demorado quatro horas a ser socorrida durante os incêndios.

Comandante da Proteção Civil: “Infelizmente verificou-se o pior cenário”

Segundo o Expresso, o ferido grave dos incêndios de Mação, vítima de queimaduras de primeiro e segundo graus, precisava de ser transportado de helicóptero par ao Hospital de São José. No entanto, por ser de noite e por causa do fumo, a vítima teve de ser transportada de ambulância para o aeródromo das Moitas, a cinco quilómetros de Proença-a-Nova. O helicóptero do INEM de Santa Comba Dão foi ativado e levantou voo às 23h, escreve o Jornal de Notícias.

O problema é que a pista do São José está preparada para operar sobretudo durante o dia, salvo algumas exceções. Esta era uma dessas exceções, mas o helicóptero de Santa Comba Dão levantou voo sem saber se tinha autorização para aterrar ali. A pista, além do mais, não tem iluminação constante durante a noite e é necessário ligar um holofote, explica o Jornal de Notícias. Enquanto o CODU tentava falar com o diretor da pista e responsável pela Proteção Civil de Proença-a-Nova — que estava incontactável por estar a combater os incêndios –, o helicóptero ficou às voltas no ar a queimar combustível.

Em alternativa, o helicóptero teve de aterrar no campo de futebol Senhora das Neves. A partir daí, o ferido grave foi levado de ambulância para o Hospital de São José, onde agora está em coma induzido. Já eram três da manhã quando deu entrada nesse hospital.

Paula Neto, médica do INEM, garantiu à RTP que essa entidade seguiu todos os procedimentos. Na conferência de imprensa desta manhã, a porta-voz do INEM também garantiu que o atendimento foi feito em seis minutos. No entanto, admite que “houve algumas condicionantes que fizeram com que o transporte de helicóptero não fosse tão célere quanto seria desejável”.

Incêndios em Penedono e Penalva dominados

Já foi dominado, mas não extinto, o incêndio na freguesia de Beselga, concelho de Penedono, distrito de Viseu, avança a Agência Lusa. O fogo, que deflagrou no domingo mas que, depois de controlado, reacendeu ao longo de esta segunda-feira, foi dominado às 04h17 da madrugada de segunda para terça-feira. Ainda no distrito de Viseu, está também dominado o incêndio em Penalva do Castelo, que teve início às 17h26 de segunda-feira, em Antas e Miuzela.

“Apesar de dominado, vai ser ainda necessário efetuar um longo trabalho de consolidação e de rescaldo em todo o perímetro do incêndio”, explicou fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Viseu, contactada pelas 04h pela Lusa. Duas horas depois, quando ainda estavam 231 bombeiros e 66 viaturas em Penedono; e 121 operacionais com 35 veículos em Penalva do Castelo, estava ainda por dominar o incêndio na freguesia de Fundada, concelho de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, que estava a ser combatido por 1.025 operacionais, com o apoio de 328 veículos.

SIRESP a funcionar “sem falhas relevantes”

A rede SIRESP está a funcionar com normalidade e “sem falhas relevantes” que possam colocar em causa as comunicações entre as autoridades e a população, garantiu ao Notícias ao Minuto a Altice Portugal: “Relativamente à rede SIRESP, apesar da violência dos incêndios e das dificuldades que se verificam no terreno e da já vasta áreaardida, a mesma continua operacional e sem falhas relevantes”.

As declarações da empresa foram confirmados ao mesmo site pelo comandante do Agrupamento Distrital do Centro Norte, Pedro Nunes, durante uma conferência de imprensa na segunda-feira à tarde. Para a Altice Portugal, a estabilidade do SIRESP é resultado “resultado da patente e comprovada eficácia, já desde 2018, do Projeto da Redundância de Rede desenvolvido e implementado pela Altice Portugal”.

Fogos do fim de semana duplicam área ardida desde o início do ano

A área ardida desde o início do ano mais do que duplicou ao longo do último fim de semana por causa dos incêndios que estão a consumir área florestal no centro de Portugal, contabiliza o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), uma página que monitoriza os fogos que consomem pelo menos 30 hectares. Entre 1 de janeiro e 15 de julho, a área ardida em Portugal era de oito mil hectares. Com os fogos de 20 e 21 de julho, essa área aumentou para quase 17,5 mil hectares.

De acordo com os esquemas do EFFIS, que recolhe dados sobre grandes fogos florestais através da constelação de satélites Copernicus, a área ardida em Portugal desde o primeiro dia do ano até meio deste mês era de 8.731 hectares. Mas só os incêndios monitorizados pelo EFFIS queimaram 8.558 hectares de floresta no sábado, 20 de julho, e 209 hectares no domingo, dia 21. No total, os grandes incêndios do fim de semana consumiram 8.767 hectares — o que corresponde a um aumento um pouco superior a 50%.

Segundo as estatísticas do EFFIS, que contabilizaram as áreas queimadas dos países da União Europeia em percentagem da área desses países, neste momento Portugal é o segundo pior em matéria de áreas ardidas. Até agora, a área ardida em Portugal corresponde a 0,182% da área do país. À frente de Portugal só está a Roménia, com 0,254% da área do país dizimada pelos incêndios. Já em 2018, Portugal tinha sido o país com uma maior área do país destruída pelos fogos — 1,87% da área portuguesa. Em segundo lugar, mas muito longe do quadro português, estava o Chipre com 0,205% da área do país queimada por incêndios.