O ministro das infraestruturas e da habitação Pedro Nuno Santos visitou “um pavilhão que já foi muito importante na vida da EMEF e da CP”. A antiga oficina de manutenção em Guifões, Matosinhos, é agora um dos pontos fulcrais do plano do governo para recuperar a ferrovia, num investimento de 45 milhões de euros.
Não era o assunto da visita, mas o ministro não fugiu à questão noticiada esta quarta-feira pelo jornal Público sobre a possibilidade de se poder vir a separar a ferrovia da rodovia, terminando com a empresa Infraestruturas de Portugal. O ministro admitiu que “é uma ideia para se trabalhar.
A fusão da REFER [Rede Ferroviária Nacional] com as Estradas de Portugal aconteceu há quatro anos. Acho que é altura de fazermos uma avaliação sobre os resultados dessa fusão e começarmos a pensar sobre o futuro”, admite, deixando cair por terra “qualquer divergência interna” no Partido Socialista.
Rapidamente pediu concentração para que ali se ia passar. “Ali” é o pavilhão “agora vazio” mas onde outrora já muito ferro se bateu. “O que vamos fazer é reequipar este pavilhão e trazer para cá as dezenas de comboios que temos encostadas pelo país para recuperar e reintroduzir na rede ferroviária“, afirmou o ministro no espaço que “felizmente ainda está na posse da IP [Infraestruturas de Portugal]”, onde se espera vir a recuperar capacidade oficinal para a EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário.
Governo quer reabrir oficinas para recuperar comboios que estão parados
Nuno Freitas, presidente da Comboios de Portugal, antecipa que estas instalações devem estar a laborar “praticamente a 100%” até ao final deste ano. Ao longo de 18 meses vai ser aumentada a oferta com “dezenas de material que está encostado, entre locomotivas, automotoras, carruagem”, o que permitirá colocar 15 a 20 composições a circular. Para a linha de Sintra, esperam-se seis composições, outras irão para Viana do Castelo e para linha do Douro, o que permitirá libertar, “eventualmente”, segundo Nuno Freitas, comboios para as linhas de Beja e do Algarve.
Apesar da encomenda de 22 comboios novos, que chegará em 2023, Pedro Nuno Santos reitera que se tem de “agir rapidamente”, tendo sido esta a forma “mais inteligente” encontrada. O ministro não deixa de acusar os anteriores governos pelo “erro de ir encostando o material circulante ao longo de vários anos, num país que não é propriamente rico”.
Antes de ir embora, o ministro levou um reparo. “Não se esqueça do que prometeu”, diz António Pinto. Há 32 anos mecânico da CP, “que agora é EMEF”, corrige, refere-se à linha de comboios que liga Ermesinde e Leixões, atualmente eletrificada e segura, mas que só faz serviço de mercadorias.
Argumenta que a ativação dessa linha para o transporte de passageiros já tinha visto duas propostas, do PS e do PCP, em Assembleia da República, aprovadas por unanimidade em fevereiro do ano passado. As propostas foram apoiadas pela necessidade de cobertura na zona, que se aguça pelos núcleos habitacionais da Maia e de Matosinhos, bem como o Hospital de S. João. A linha cruza ainda com várias linhas dos STCP, bem como o Metro do Porto em três pontos: no Hospital de S. João, em Guifões e em Leixões.
A linha já existe desde 1938, mas desde 1966 está afeta apenas aos comboios de mercadorias. António, um dos trabalhadores mais antigos da oficina de Guifões, diz ao Observador que relembrou a questão a Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos. Por sua vez, a autarca prometeu interceder junto do governo. Hoje também o fez, mas apesar dos “passou-bem”entre ministro e mecânico, Pedro Nuno Santos salientou as dificuldades e a falta de material. “Tudo teorias baratas”, segundo António. “Basta duas composições, uma de reserva e uma a andar diariamente” e resolvia-se o problema.