Quando num concurso televisivo de cultura geral, o apresentador perguntar qual é a melhor escola da Europa a ensinar Ciências e Tecnologia, tenha a resposta na ponta da língua. É portuguesa e fica no distrito de Santarém. O nome? Agrupamento de escolas de Alcanena, dirigido pela professora Ana Cláudia Cohen.
A distinção vem do STEM School Label, um projeto financiado pela União Europeia lançado em 2017, e que tem como objetivo apoiar as escolas na educação de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (que juntas fazem a sigla inglesa STEM), motivando os alunos para estas áreas. Pelo caminho, dão às escolas as ferramentas necessárias para envolver a comunidade educativa em atividades ligadas a esta área. E definem que critérios deve uma escola ter para poder ter esse selo.
Este ano, segundo números divulgados pelo STEM School Label, um total de 1.100 escolas juntaram-se ao projeto. Destas, 300 escolas de 15 países diferentes, alcançaram o selo de Competentes no ensino da Ciência, 5 delas portuguesas. O nível seguinte, o Proficiente, foi entregue apenas a Alcanena. Por atribuir, fica o terceiro e mais alto nível desta cadeia, o de Expert ou Especialista.
E Alcanena pode já sonhar alto com uma distinção destas? “Seria fantástico receber essa distinção”, diz a diretora do agrupamento, Ana Cláudia Cohen, que vê este selo como um reconhecimento do trabalho das escolas do agrupamento e dos professores. “Estive a olhar para as evidências que tínhamos fornecido e agora já temos o triplo, portanto…”, sublinha, lembrando que no ano letivo que terminou a sustentabilidade e biodiversidade foram tema aglutinador de todos os projetos dos estudantes, num agrupamento que recebe crianças do pré-escolar ao 12.º ano. “Todos os projetos valorizaram a ciência, por isso só posso dizer que está em cima da mesa.”
Nesta escola, as salas de aulas não têm paredes. E os alunos não se queixam
Para decidir qual o selo atribuído a cada escola, o programa avalia a estratégia STEM seguida no estabelecimento de ensino a par de outros fatores. Uma escola Competente (e já há cinco portuguesas) corresponde à que tem uma prática mínima de estratégia STEM, uma Proficiente tem de ter uma abordagem mais avançada e uma Expert tem de o fazer de forma excecional.
Entre os vários critérios analisados estão, por exemplo, a personalização do ensino, a aprendizagem baseada em problemas e em projetos, o ensino interdisciplinar, se é feita ou não avaliação contínua e personalizada. Também são levados em conta a qualidade da equipa, a liderança e a cultura escolar.
Em Alcanena, essa cultura virada para o STEM sempre existiu, e segundo a diretora fortificou-se com o diploma que implementou a autonomia e flexibilidade curricular.
“Temos uma cultura enraizada em termos de projetos STEM. Com a flexibilidade tornaram-se mais robustos. O que tínhamos no passado eram projetos feitos fora da sala de aula, só para alguns alunos. Hoje em dia, os projetos são curriculares, são feitos na sala de aula e são para todos”, explica Ana Cláudia Cohen, que diz que também o plano vertical de ciências experimentais, que vai do pré-escolar ao 12.º ano, ganhou agora nova vida.
O agrupamento tem, por exemplo, uma parceria com o Centro de Ciência Viva do Alviela que engloba o programa XXS para as crianças do jardim de infância. “É muito gratificante vê-los a falar de coisas complexas de uma forma muito simples desde pequeninos”, diz a diretora do agrupamento.
Mais tarde, já no 3.º ciclo, para além da Ciência Viva, o agrupamento tem parcerias com universidades e politécnicos, e no secundário os próprios alunos começam a deslocar-se às Faculdades de Ciências e Tecnologia. “São elas que validam os nossos projetos e são os alunos que identificam os problemas, que contactam as universidades, que se deslocam lá quando os nossos laboratórios já não são suficientes para as experiências. É um grau de autonomia que é gradual e tem expoente máximo no secundário”, detalha a professora.
Para além do selo, o Agrupamento de escolas de Alcanena é também embaixador do projeto, juntamente com a Escola Secundária do Entroncamento e a Escola Secundária de Loulé e outros estabelecimentos de ensino estrangeiros. O que é que isso implica? “Implica mostrar ao mundo o que fazemos. Este fim de semana estaremos em Bruxelas e vamos ver quais são as novidades e aquilo que nos espera”, conclui Ana Cláudia Cohen.