Quase 20% dos médicos dentistas portugueses estão a exercer no estrangeiro, sendo já mais de 1 500 os que trabalham exclusivamente noutros países, enquanto duplicou em quatro anos o número de estudantes estrangeiros a estudar medicina dentária em Portugal.

Os dados constam de um estudo da Ordem dos Médicos Dentistas, que aponta para mais de 1.500 profissionais a trabalhar em exclusivo noutros países. Cerca de 9.300 dentistas portugueses trabalham em Portugal e há 327 que trabalham em simultâneo em Portugal e no estrangeiro.

“Fizemos um inquérito mais detalhado e o número de médicos dentistas a exercer fora de Portugal é substancialmente superior ao que era declarado nas estatísticas da Ordem. Pelo menos 1.500 teremos a exercer fora de Portugal (…). Significa que uns 20% dos nossos médicos dentistas estão a exercer no estrangeiro“, afirmou em entrevista à agência Lusa o bastonário dos Médicos Dentistas.

Orlando Monteiro da Silva indica que “Portugal não consegue reter os seus médicos dentistas porque não tem condições remuneratórias e de exercício da profissão para que fiquem no país”, além de ter um “problema de literacia e acesso à saúde oral”, com muitos portugueses sem acesso a cuidados.

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Inglaterra, França, Suíça ou Alemanha são alguns dos principais destinos dos dentistas portugueses e fora do espaço europeu começa a aumentar a emigração para os Estados Unidos ou os Emirados Árabes Unidos.

A par disto, o número de estudantes estrangeiros a estudar medicina dentária nas faculdades portuguesas tem aumentado de forma significativa, representando os estudantes estrangeiros já cerca de um terço do total, segundo os dados do novo estudo da Ordem, que será hoje divulgado com indicadores que reportam ao final do ano passado.

Os estudantes estrangeiros de medicina dentária de todas as faculdades portuguesas são já 33% do total, quando em 2015 representavam apenas 15%. Há mesmo uma das universidades que tem mais estrangeiros do que portugueses a frequentar o curso de medicina dentária – o Instituto Universitário de Ciências da Saúde, no Norte do país.

“Aumentou o número de estudantes nas faculdades. Diminuíram os portugueses e aumentaram os estrangeiros. Há alguns anos, os estudantes eram quase todos portugueses e iam ficar a exercer em Portugal. Em cinco ou seis anos tudo mudou radicalmente”, sublinha o bastonário dos Médicos Dentistas.

A maioria dos estudantes estrangeiros tem nacionalidade francesa, espanhola ou italiana, sendo que, terminado o curso, regressam ao país de origem para trabalhar.

Orlando Monteiro da Silva entende que se trata de uma mudança de paradigma nas universidades, que reflete o reconhecimento internacional do ensino da medicina dentária.

O bastonário recorda que Portugal tem já um rácio de médicos dentistas abaixo do que é determinado pela Organização Mundial de Saúde, que recomenda um dentista por 1.500 a 2.000 habitantes. O país apresenta um médico dentista a exercer por 1.058 habitantes.

“É um rácio que na prática é ainda mais baixo. Desses mil habitantes, cerca de 300 ou 400 não acedem regularmente à medicina dentária e à saúde oral”, sublinha o representante dos médicos dentistas.

A Ordem vai lançar uma campanha nacional em que pretende precisamente promover a literacia, recordando que a saúde oral é parte da saúde em geral e é também qualidade de vida.