Um grupo de cientistas espanhóis encontrou um planeta que coloca em causa, pela primeira vez, o modelo desenvolvido há dois séculos para explicar o nascimento dos sistemas planetários. A descoberta foi publicada esta sexta-feira na revista Science. GJ3512b é um gigante gasoso com 150 vezes a massa do nosso planeta, metade da massa de Júpiter e que orbita uma anã vermelha a 50 milhões de quilómetros dela. É um planeta demasiado grande a circundar uma estrela demasiado pequena e a uma distância demasiado curta. GJ3512b simplesmente “não devia existir”, escreveram os cientistas.
Até agora, julgava-se que os gigantes gasosos como Júpiter ou Saturno — os maiores planetas do Sistema Solar — se formavam nos primórdios do nascimento de uma nova estrela, quando as rochas e os gelos se acumulavam em blocos tão grandes que atraíam para si enormes quantidades de hidrogénio e hélio.
Mas esta teoria não se pode aplicar a GJ3512b. É que a estrela que ele orbita, a GJ3512, tem apenas um sétimo do tamanho do nosso Sol, ou seja, é demasiado pequena para, quando nasceu, ter expelido material suficiente para criar um núcleo rochoso capaz de atrair uma atmosfera tão grande como a deste mini-Júpiter. GJ3512 é apenas 250 vezes maior que o gigante gasoso descoberto pelos espanhóis. Já Júpiter, por exemplo, é 1.050 vezes mais pequeno que o Sol.
Em vez disso, os cientistas acreditam que GJ3512b dá sustentação a outra teoria sobre a formação de planetas gasosos gigantes. Segundo o modelo da instabilidade, há determinadas características de órbita e temperatura que permitem aos gases acumularem-se num planeta sem um núcleo rochoso. Esta é uma teoria mais renegada porque nunca foram encontrados exemplos de gigantes gasosos como esses dentro ou fora do Sistema Solar. Até agora.
Segundo Juan Carlos Morales, astrofísico do mesmo instituto, “as estatísticas de exoplanetas encontradas até agora parecem indicar que estrelas de baixa massa geralmente hospedam pequenos planetas como a Terra ou mini-Neptunos”: “O modelo mais aceite de formação de planetas, o modelo de acreção, também aponta nessa direção. Mas aqui, demonstramos o contrário. Encontrámos um planeta gigante gasoso a orbitar uma estrela de massa muito baixa”, conclui, em entrevista ao Space.com.
O planeta foi descoberto pelo telescópio Calar Alto, na província de Almería. Inicialmente, os cientistas tencionavam saber mais sobre as anãs vermelhas porque são as estrelas mais comuns em todo o universo — 70% de todas as estrelas do universo são parecidas com a GJ3512, que é 50 vezes mais ténue que o Sol —, mas também porque podem albergar planetas rochosos com água no estado líquido.
Em declarações ao El País, Ignasi Ribas, astrónomo do Instituto de Ciências do Espaço em Barcelona, sublinhou que “é a primeira vez que se encontra um planeta deste tipo em uma estrela assim”. Mais: o cientista sugere que a estrela GJ3512 ainda deve albergar mais dois planetas gasosos, cuja atração gravítica influencia a órbita elíptica deste novo (e estranho) gigante: “Um deles ficou à deriva pouco depois da sua formação, há milhões de anos, e agora é um planeta solitário que viaja pelo espaço interestelar”.