Numa sala do belíssimo hotel Corinthia, em Londres, seis jornalistas estão a ter um espetáculo privado. O que deveria ser uma entrevista depressa derrapa para um número cómico quando Aisling Bea e Paul Rudd respondem a perguntas com o bom humor que os tornou famosos. A química entre ambos é notória, levando a que um dos jornalistas pergunte se a parelha se conhecia antes de “Living with Yourself”, a nova série da Netflix com estreia marcada para dia 18 de Outubro.
“Viajei até Nova Iorque para fazer um teste de química com o Paul e passámos uma hora e meia a ler cenas e a trabalhar um com o outro e no fim eu estava naquela ‘bem pessoal, obrigada por tudo, adeus’ e o Paul vai e diz ‘Não gostei’. Lembras-te de fazer essa piada? Soube então que, ou tinha corrido muito bem, ou muito mal”, explica Aisling Bea. “Esperei até a porta estar meia fechada antes de dizer isso?”, riposta Paul Rudd. Entre um e outro, a química foi testada e resulta. As gargalhadas pela sala comprovam isso mesmo. Mas desengane-se quem pensar que “Living with Yourself” é uma série onde esta cumplicidade toma o primeiro plano.
Em vez de uma comédia romântica estruturada à volta da vida de um casal, a série é apresentada pela Netflix como uma comédia existencial e conta a história de um homem que vai a um spa para ser a melhor versão possível de si mesmo e acaba por ser duplicado. Em “Living with Yourself”, o co-protagonista de Paul Rudd é ele mesmo. “Percebi finalmente o pesadelo que é trabalhar comigo!”, brinca Rudd a propósito da série onde desempenha duas personagens.
[o trailer de “Living with Yourself”:]
https://www.youtube.com/watch?v=5w54yW2Ur50
O conceito de duplicidade não é novo — só este ano já tivemos “Gemini Man”, onde Will Smith desempenha dois papéis diferentes no mesmo filme – mas ainda assim Rudd quis trabalhá-lo à sua maneira.
“Liguei ao Sam Rockwell para pedir ajuda porque acho que ele fez um trabalho fantástico no filme ‘Moon’ e perguntei-lhe como é que ele tinha feito. Mas a grande lição que aprendi ao falar com outras pessoas que já fizeram este tipo de coisa é que não há só uma forma de o fazer”, explica Rudd.
Para criar o seu doppelgänger, uma versão duplicada de si mesmo, Rudd não seguiu a fórmula de Rockwell e “atuou para o ar”, explica. Em vez de ter alguém no set consigo para dar uma referência de espaço e movimentar-se de acordo com a ação, um stand in para ajudar Rudd a orientar-se, a estrela de “Living with Yourself” fez tudo sozinho. “Gravei os dois papéis e depois ouvia-me a mim próprio através de um aparelho no meu ouvido e fazia a cena sem ter lá ninguém. Havia uma pessoa no set que, sempre que eu dizia uma fala, carregava num botão para eu ouvir as falas da outra personagem e depois trocávamos e eu gravava a parte da outra personagem”.
Um processo que parece ter impressionado a equipa de “Living with Yourself”. “O Paul tem uma capacidade incrível para memorizar a posição do seu corpo e até o volume com que tinha falado na atuação anterior. Às vezes estava a movimentar-se e era quase um fantasma do que o tínhamos visto fazer momentos antes”. Quando Aisling Bea fala o seu entusiasmo é evidente. Não só pelo desempenho do seu colega, mas pelo seu próprio papel numa produção a esta escala. Ao contrário de Rudd que conta com uma carreira de mais de 25 anos e cuja última aventura foi pelo franchise Marvel no papel de Homem-Formiga, Aisling Bea será maioritariamente desconhecida do grande público fora do Reino Unido, onde a comediante irlandesa escreveu e protagoniza a série “This way Up”. Talvez por essa experiência enquanto guionista, Bea valorizou a história de “Living with Yourself”.
“O guião já estava finalizado quando começámos a gravar e o facto de haver todo um episódio da perspetiva da mulher quando ela nem é uma das protagonistas para mim foi… Obrigada Deus! Havia uma pessoa completa naquelas páginas e isso significou muito para mim”.
Em “Living with Yourself”, Bea é Kate, uma arquiteta de sucesso que acaba de se mudar para uma casa grande nos subúrbios para começar uma família com Miles, o marido, interpretado por Paul Rudd. Todos os ingredientes para a felicidade parecem estar reunidos, mas a vida de ambos é virada do avesso quando Miles procura a solução para a sua falta de paixão num spa fora do normal.
A primeira temporada agrupa um total de oito episódios onde vemos a história evoluir a partir dos olhos das diferentes personagens. Cada episódio de “Living with Yourself” dura cerca de meia-hora e a maioria acaba com um cliffhanger onde o espectador é deixado em suspense, desesperado por saber o que vai acontecer a seguir. Em resumo, uma daquelas séries perfeitas para ver de rajada. “Pensámos na série como um longo filme. Há definitivamente algo de fantástico no facto de podermos assistir à série toda de uma vez”, afirma Rudd quando questionado sobre o processo de criar algo especificamente para a Netflix. Por outro lado, o Homem-Formiga não esconde a sua nostalgia por um tempo em que o próximo episódio não começava 10 segundos depois.
“Lembro-me de quando estava a dar ‘Os Sopranos’ na televisão e eu ficava ansioso por chegar a domingo. Encomendávamos pizza e assistíamos todos juntos, ao mesmo tempo. Já não há esse tipo de antecipação. Ter de esperar por algo tem o seu quê de bom”, afirma Rudd.
Depois da participação em “Wet Hot American Summer”, este ano Paul Rudd regressou à Netflix para uma curta aparição em “Between Two Ferns”, onde é um dos vários convidados de Zach Galifianakis no talk-show mais desconfortável de sempre. Contudo, em “Living with Yourself”, Rudd tem pela primeira vez o papel de protagonista numa série televisiva. Um facto surpreendente tanto pela longa carreira do ator como por já ter sido o protagonista de vários filmes como super-herói da Marvel — este verão vimos o seu Homem-Formiga regressar em “Vingadores: Endgame”.
Um dos motivos que parece ter sido determinante para o salto de Rudd do grande para o pequeno ecrã foi os realizadores:
“O Jon e a Val trouxeram uma onda muito fixe para a série. Há muitos elementos divertidos como a música e o tom que quando vi pensei logo que eram muito bons. E sempre assumi que seria bem dirigido porque eles são tão bons diretores”.
A série é também a estreia de Jonathan Dayton e Valerie Faris para televisão. O casal de “indie rockers”, como Rudd os apresenta, é responsável pela maioria dos vídeos dos Smashing Pumpkins, mas também de outras bandas e músicas que marcaram os últimos 30 anos como “Californication”, dos Red Hot Chilli Peppers, ou “More than Words”, dos Extreme.
Na sua estreia como realizadores de cinema com Little Miss Sunshine (2006), a música foi um dos fatores que fez do filme um sucesso – quem não se lembra da cena com Abigail Breslin a dançar ao som de “Superfreak”? Em “Living with Yourself”, Jonathan Dayton e Valerie Farris trazem outra canção de Rick James para o centro da história e fazem da música novamente um elemento vital da história. “O Jon e a Val são muito centrados na música. É uma parte tão importante de como trabalham!”, afirma Rudd que na nova série da Netflix também mostra o seu talento como dançarino.
“Living with Yourself” estreia-se dia 18 de Outubro na Netflix.