Os embaixadores na União Europeia (UE) dos 27 Estados-membros decidiram esta sexta-feira conceder um adiamento da data de saída do Brexit, mas não chegaram a conclusões quanto à duração desse adiamento, citando o possível cenário de eleições antecipadas no Reino Unido como um fator de incerteza.

O anúncio foi feito pelo negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel Barnier, à saída da reunião, que classificou de “excelente”, mas cujo resultado foi inconclusivo: “Não há decisão”, acrescentou Barnier, de acordo com o Guardian.

A decisão deverá ser tomada para a semana, possivelmente na segunda ou na terça-feira, consoante a decisão da Câmara dos Comuns face à moção para provocar eleições antecipadas. Em causa está a decisão de conceder um adiamento de curta duração, até meados de novembro, para finalizar a ratificação do acordo para o Brexit ou um adiamento mais longo, até ao final de janeiro.

Em causa está a convicção do Presidente francês, Emmanuel Macron, de que um adiamento prolongado até janeiro não seria uma boa solução. Para os franceses, o cenário preferível seria um adiamento muito curto, para forçar os britânicos a aprovar o acordo que está em cima da mesa e evitar um cenário de eleições antecipadas, como explica a editora europeia da BBC, Katya Adler. Ainda esta quinta-feira a ministra francesa dos Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, disse que Londres tem de ser clara sobre o que pretende fazer, a fim de se tomar uma decisão “nas próximas horas e dias”.

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Do outro lado do Canal da Mancha, o Governo britânico anunciou que irá propor uma moção para convocar eleições antecipadas na segunda-feira, que necessita dos votos de dois terços da Câmara dos Comuns para ser aprovada. Isso coloca pressão sobre o Partido Trabalhista, que terá de decidir se apoia ou não a ida às urnas agora. Oficialmente, o Labour tem sublinhado que aceita eleições assim que estiver afastado totalmente o risco de no deal. 

Com a decisão da UE de adiar a decisão face ao adiamento, os trabalhistas podem considerar que esse risco se mantém. Por outro lado, Jeremy Corbyn fez declarações numa entrevista esta manhã à ITV onde afirmou que terá de ser o primeiro-ministro a afastar um cenário de saída sem acordo no Parlamento, na segunda-feira. Sobre o cenário de eleições antecipadas, garantiu não ter medo de um confronto eleitoral e disse-se confiante de que poderá sair por cima numa ida às urnas antes de 2022: “Nas últimas eleições em 2017 também todos já nos tinham descartado e vejam o que acabou por acontecer”, disse, referindo-se ao resultado das eleições antecipadas convocadas por Theresa May. Nessa votação, o Labour ficou em segundo lugar, mas conseguiu um resultado melhor do que o esperado, de tal forma que tirou a maioria absoluta aos conservadores e os obrigou a coligarem-se com o DUP no Parlamento.

Esta sexta-feira, o primeiro-ministro Boris Johnson deu uma entrevista à Sky News onde sublinhou que uma saída a 31 de outubro seria ainda possível se os parlamentares ratificassem o acordo que trouxe de Bruxelas. Tendo em conta que esse não é o cenário mais provável, Boris propõe então eleições e lança o seguinte desafio a Corbyn: “É altura de Corbyn se fazer homem e termos uma eleição a 12 de dezembro”, atirou na entrevista, depois de aludir às divisões dentro do Partido Trabalhista sobre essa matéria.