Pedro Taborda, ou Tatanka, nasceu em Sintra e foi lá que se criou, “numa quinta enorme da qual os meus pais tomavam conta.” O nome ganhou-o do Vasquinho da Vila, um amigo que, por brincadeira, começou a tratá-lo assim e que acabou por colar. A sua infância foi passada em comunhão com a Natureza e foi para ali perto que regressou, depois de ter conquistado o mundo com a sua música e a dos Black Mamba, grupo do qual é fundador. No ano em que lança dois álbuns – um a solo e outro com a banda – revela a sua história e a forma como aproveitou as oportunidades para crescer como músico e como pessoa.
Partida…
“Comecei a tocar guitarra muito pequeno, com cerca de sete anos. Andava numa escola de música e dei o primeiro concerto aos 10 anos. Pode dizer-se que tenho uma carreira de 25 anos!”, brinca. Uma vez que a música não era, na época, um interesse em comum com a maioria dos seus amigos, aos 12 anos começa a jogar futebol. “Naquela altura, era uma loucura. Ainda hoje sou doido por futebol, ferrenho pelo Porto”, confessa. Alguns anos mais tarde, “os meus amigos começam a engatar-me para ir de boleia para a praia, depois das aulas. Um dia, alguém me emprestou uma prancha e fiz a minha primeira onda. Fiquei viciado! É uma das melhores sensações que há na vida”. E foi precisamente nesta fase que a música voltou a cruzar-se no seu caminho. “Havia uma grande ligação ao reggae. A comunidade do surf é muito pacífica, lava a alma, deixa o pessoal numa boa “vibe” e o reggae trazia essa onda”. Fez, em conjunto com os amigos do liceu, uma banda chamada “Malta Rude”, com a qual teve algum sucesso na zona da Praia das Maçãs, o seu sítio de eleição para atuar. “Aquilo representava uma coisa muito importante para mim, tornava-me mais sério, mais responsável. Mas rapidamente percebi que queria seguir um novo caminho e, em conjunto com alguns elementos dessa banda, criámos os “Bambolé”.” Mais tarde, entra para a primeira banda do Richie Campbel, e sente que é, finalmente este o seu futuro.
…Largada…
“Depois, aconteceu uma coisa na minha vida que mudou tudo: o Ciro Cruz, baixista, precisava de um guitarrista para criar um grupo que iria tocar no Speak Easy – era a Easy Speak Band. Alguém recomendou o meu nome e, quando fui falar com ele pela primeira vez, pediu-me também para cantar. Nesse dia do ano de 2010 a minha vida mudou, tornei-me vocalista, fui viver para Lisboa e comecei a tocar com eles. Entretanto, o Ciro, eu e o Miguel Casais, pensámos em fazer algo mais pequeno, que fosse mais fácil levar para tocar em bares, o que origina o Black Mamba Trio. Vamos fazer precisamente agora uma tournée chamada “Good Times Band Tour”, para relembrarmos esses tempos fantásticos”.
No ano de 2011 fazem o primeiro concerto…o primeiro dos 260 que fizeram nesse ano. “Foi aqui que me tornei profissional, a viver em Lisboa e da minha música. Esse início foi uma loucura: em 2012 lançámos o primeiro disco, fomos tocar ao Rock in Rio e fomos aos Estados Unidos. Em 2013, fomos ao Rock in Rio no Brasil e a Inglaterra. Aconteceu muita coisa num curto espaço de tempo, como ter-me tornado no primeiro artista português da Fender, a marca de guitarras de músicos como o Eric Clapton, Jimy Hendrix, entre outros, num contacto que foi feito na conferencia de imprensa do Rock in Rio! Uma loucura”, conta Pedro Taborda.
Em 2014 lançam novo álbum, onde a cantora Áurea e António Zambujo marcam presença. “No ano seguinte, começo a sentir vontade de mostrar as minhas músicas em português e de fazer coisas diferentes das que fazia para os Black Mamba, mais pesadas e conotadas com a noite urbana. Queria voltar-me para as minhas raízes mais campestres”. O nascimento da minha filha surgiu como a altura perfeita para fazer a mudança: “decidi sair da cidade e voltar para o campo, para ela poder correr e brincar à vontade, como eu o tinha feito. Toda esta mudança alterou também a minha forma de estar no mundo, com mais responsabilidade, mas também mais altruísta”. Passaram, entretanto, mais quatro anos, nasceu mais um filho e “as coisas mudaram muito”.
….Fugida!
Em 2019 lançou dois discos, um a solo (“Pouco Barulho”) e outro com os Black Mamba (“The Mamba King”), e é a essa promoção que se tem dedicado nos últimos tempos. “A produção é um processo longo, feito com muita dor e que nos cansa a alma. Mas é também muito gratificante: estou hoje onde quero estar, tenho o meu estúdio, um sonho de sempre, e montei a minha editora, a “La Resistance”. O facto de se ter afastado da capital não o limita. “A tecnologia permite que não fiques isolado. Daqui a Lisboa são cerca de 35 minutos e há alturas em que nem precisas de te deslocares, a comunicação à distância funciona perfeitamente. Nesta rua, que tem apenas um vizinho e uma estrada de acesso em terra batida, a internet chega pela rede de fibra, consigo descarregar e enviar documentos pesados muito rapidamente. Daqui, posso gravar, misturar e enviar o meu trabalho para o mundo”.
É claro que aquilo que agora o inspira é a vida pacata no campo. “Tenho tido mais dificuldade em compor para os Black Mamba, por exemplo. Mas estivemos a tocar em Amsterdão e começámos a trabalhar a ideia de ir escrever e gravar lá o nosso próximo álbum: o “Another night in Amsterdam”. Vou poder inspirar-me nas personagens urbanas e meio loucas, como um homem que vi, vestido com um escafandro, com pés de pato e que batia em toda agente com um vibrador que levava na mão! É a história destas personagens que eu quero contar.”
…Várias chegadas
A Pedro Taborda, aka Tatanka, falta muito caminho ainda para percorrer. Aos 34 anos tem, no entanto, uma noção muito clara do que já andou e do que aprendeu nesta viagem. “Quando comecei a tocar a sério em Lisboa, vi-me rodeado de músicos mais velhos e com carreiras extraordinárias. Senti que não conseguia acompanhá-los. Mas tive de correr atrás, de aprender, e isso fez-me evoluir. Eu tive aulas de música em miúdo, mas isto é que é a verdadeira formação. São masterclass mesmo sem perceberes que o são. Uma coisa é ouvir estes músicos em concertos ou nos discos, outra é trabalhares com eles. Como o Skyler Jett, um músico americano fantástico galardoado com Grammys, que já tocou connosco nos nossos concertos e que traz consigo a experiência de cantar com os melhores do ramo – desde os Commodores, com quem começou, quando foi substituir o Lionel Richie, à Celine Dion, James Brown, Sting, Barbra Streisand, Aretha Franklin, e tantos outros. As dicas que ele me deu foram preciosas, mas melhor ainda foi a possibilidade de o ver e ouvir a cantar aqui ao pé de mim. Isso não tem preço e não se aprende na escola.”
Tatanka assinala 2010 e 2015 como anos de viragem. Se houver aqui um padrão, acredita que 2020 poderá apresentar cruzamentos no caminho igualmente desafiantes e estruturantes. Nós estaremos cá para ver.
Saiba mais sobre este projecto em https://observador.pt/seccao/feeling-the-movement/