Quente: Edward Snowden, que só teve um ligeiro problema de feedback

Era o grande cabeça de cartaz — daqueles que fazem os fãs correr sem fôlego para as bilheteiras, em dezembro, para esgotar passes diários de festivais que só acontecem em julho do ano que vem. Edward Snowden tinha tudo para pôr a Web Summit a escaldar na sessão de abertura desta segunda-feira, mas não conseguiu, sequer, que tirássemos os casacos — foi como aquele sol de maio que já cheira a verão, mas que, enfim, todos sabemos que ainda não é. Os mais de 4.500 quilómetros que separam Lisboa de Moscovo não evitaram, contudo, que o Sr. Ex-CIA, o senhor-que-expôs-o-maior-programa-de-vigilância-da-história-dos-EUA enchesse o Altice Arena numa videoconferência que foi quase irrepreensível do ponto de vista técnico. Exceto um pequeno problema com o feedback no início, os 20 minutos seguintes passaram-se como se o ex-analista (que está há seis anos exilado na Rússia) estivesse mesmo ali em palco. Para quem estava à espera de umas guitarradas a solo, não houve. Nem tão pouco um encore — tivemos pena.

Numa viagem pelo que foi a decisão de expor o programa de vigilância que encontrou na NSA e na CIA, Snowden fez os alertas que a atualidade tecnológica e o poder empresarial merecem e chamou às pessoas a responsabilidade pelas suas vidas online. O grande poder da tecnologia, os dados explorados e manipulados, os governos que usam as ferramentas que têm para lutar contra crimes contra os próprios cidadãos e a necessidade de legislar a privacidade dos dados — algo que nem sequer o RGPD (regulamento geral sobre a proteção de dados europeu) conseguiu bem. E lançou um alerta: “A pergunta é: como é que policiamos a expressão do poder quando ele é usado contra nós?” Não temos resposta. A Snowden o que é de Snowden e Snowden foi o ponto alto da noite. Mas estávamos à espera de mais.

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Morno: Daniela Braga a mostrar em palco a tecnologia que se faz por cá

Se Edward Snowden não fosse o cabeça de cartaz desta segunda-feira, teria sido a portuguesa Daniela Braga a aumentar (para o máximo) a temperatura da noite. E não, nem o filho de Will Smith, o artista Jaden Smith esteve perto de lhe roubar o palco — ainda que Paddy Cosgrave tenha tentado subir a fasquia com um anúncio mais irreverente, a meio do Altice Arena, que trouxe poucos resultados.

A fundadora e CEO da DefinedCrowd esteve em palco com Michelle Zatlyn, cofundadora e diretora de operações da Cloudflare e a apresentadora Filomena Cautela. Daniela Braga foi um duplo orgulho em palco: “Primeiro, porque sou portuguesa”, disse. O resto acrescentamos nós: porque é uma mulher em tecnologia que consegue empregar “41% de mulheres” na startup que já captou a atenção de meios como a Forbes. “Venho de um mundo de engenheiros, sou sempre a única mulher na sala desde que tenho 22 anos. A minha empresa tem 41% de mulheres e não estamos a fazê-lo de propósito.”

Duas portuguesas entre as 50 startups de inteligência artificial mais promissoras para a Forbes

Frio: o gelo veio da China, ainda que o futuro do 5G também

Era um dos nomes mais esperados, mas as piores expectativas confirmaram-se: o chairman (presidente rotativo da Web Summit) mostrou no Altice Arena por que é que a Huawei se quer posicionar como a empresa líder no fornecimento dos componentes 5G… E pouco mais. No palco da Web Summit, Guo Ping falou sobre as maravilhas que o 5G vai trazer à vida das pessoas, como vai revolucionar as indústrias de forma transversal, como vai tornar todas as ligações mais rápidas, mas da desconfiança política e da recente crise com os EUA não se ouviu nem uma palavra. E sobre os problemas de segurança que a tecnologia levanta? Nada, apenas o cenário otimista. Foi, no mínimo, aborrecido.

Na Web Summit, o líder da Huawei falou de 5G, mas não de política

Apesar de, nos EUA, a Huawei estar numa lista negra criada pelo governo e de as empresas norte-americanas estarem proibidas de negociar com a tecnológica chinesa, o assunto não existiu. Não foi sequer mencionado. A intervenção de Ping foi mais um pitch empresarial do que outra coisa, como fazem as startups — mas a Huawei não é uma startup e, se fosse para isso, tínhamos visto a abertura pelo YouTube, em casa. Muito frias foram, no geral, as durações das talks. Edward Snowden soube-nos a pouco, mas a intervenção abrupta do painel dedicado à sustentabilidade, no qual participou Jaden Smith, também — a música calou (literalmente) e mandou embora todos os que estavam em palco. No final, o ministro da Economia Pedro Siza Vieira subiu ao palco com Fernando Medina, mas já nada aquecia no Altice Arena. Pela primeira vez, António Costa falhou a sessão de abertura. Para a próxima, levamos mantas.

Web Summit: Esperávamos mais da abertura