A ex-embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Marie Yovanovitch, disse ao Congresso norte-americano que se sentiu “ameaçada” por Donald Trump e que até foi aconselhada a publicar tweets a elogiar o presidente, de forma a proteger-se.
Segundo a imprensa norte-americana, que cita o testemunho dado por Yovanovitch ao comité do Congresso que está a analisar o processo de destituição de Donald Trump, a ex-embaixadora disse acreditar que foi afastada do cargo devido a “alegações falsas” de que estaria a perturbar as relações do governo norte-americano com Kiev.
Yovanovitch é uma das pessoas no centro do processo de impeachment a Donald Trump que decorre no Congresso norte-americano — e que se baseia em acusações, por parte dos Democratas, de que Trump terá abusado do seu poder, ao pedir ao governo ucraniano que investigasse Hunter Biden, filho do ex-vice-presidente Joe Biden que passou pela administração da empresa energética ucraniana Burisma.
Impeachment? 5 respostas para perceber o caso que ameaça Donald Trump
Os democratas argumentam que Trump usou o seu poder em benefício pessoal, para prejudicar Joe Biden, candidato democrata às eleições presidenciais de 2020.
No centro do caso estão vários contactos entre a administração norte-americana e o governo ucraniano, particularmente um telefonema entre Donald Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Nessa conversa, Trump terá dito que a embaixadora iria “passar por umas coisas” quando regressasse aos EUA e classificado Marie Yovanovitch como “bad news“.
A embaixadora terá recusado um visto ao procurador ucraniano Viktor Shokin por haver indícios conhecidos de corrupção à volta de Shokin — que era o procurador a investigar o caso do filho de Joe Biden.
Mas o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, tentou obter um visto para Shokin e acusou a embaixadora de estar a proteger Joe Biden ao proibi-lo de entrar nos EUA para continuar a sua investigação a Hunter Biden.
A embaixadora disse, numa audição no Congresso, que se sentiu “ameaçada” por aquelas declarações e lembrou que antes já tinha sido avisada pelo ministro da Justiça ucraniano para ter cuidado. Marie Yovanovitch acabaria por abandonar a Ucrânia em maio deste ano, vários meses antes do final oficial da sua missão diplomática — que os seus superiores hierárquicos justificaram com motivos de “segurança”.
Na sequência do telefonema, Yovanovitch procurou aconselhar-se junto do embaixador norte-americano na União Europeia, Gordon Sondland, próximo de Trump, que lhe sugeriu que escrevesse no Twitter um elogio público ao presidente. “Precisas de escrever no Twitter que apoias o presidente, que isso são tudo mentiras”, ter-lhe-á dito Sondland. “Ele disse: ‘Conheces o presidente. Bem, talvez não o conheças pessoalmente, mas sabes o tipo de coisa de que ele gosta.”
Juntamente com o testemunho de Marie Yovanovitch, o Congresso divulgou também a transcrição da audição de Michael McKinley, antigo assessor do secretário de Estado Mike Pompeo que se demitiu antes de prestar testemunho.
McKinley disse que sugeriu a Pompeo uma mensagem de apoio à ex-embaixadora, mas o secretário de Estado recusou e explicou: “O timing da minha resignação foi resultado de duas preocupações primordiais: a incapacidade, na minha opinião, do departamento de Estado de dar apoio aos funcionários da diplomacia apanhados no processo de destituição; e em segundo lugar aquilo que aparenta ser a utilização dos nossos embaixadores no estrangeiro para alcançar objetivos políticos internos.”