Esta quinta-feira, o dia da visita do FC Porto ao Young Boys, a equipa de Sérgio Conceição viu-se impedida de realizar o habitual passeio matinal em dia de jogo pelas ruas de Berna. O motivo, compreensível e até expectável dado que estamos no mês de novembro, foi a chuva intensa que se fazia sentir na capital suíça. Plantel e restante staff ficaram no interior do hotel, abrigados da intempérie até à hora marcada para a saída em direção ao estádio; mas Sérgio Conceição, o treinador, não optou por essa solução.

Ao contrário dos colegas da estrutura azul e branca e de todos os jogadores, Sérgio Conceição decidiu aparecer na entrada do hotel, distribuir autógrafos e selfies pelos adeptos presentes e ausentar-se durante breves instantes da unidade hoteleira. O pequeno episódio, aparentemente insignificante, parece ainda assim ser o espelho da realidade atual que o FC Porto vive: enquanto jogadores e restante staff ficam abrigados da tempestade, da chuva e do vento, é Sérgio Conceição quem segura no leme e dá a cara pela equipa. É o treinador que responde quando as coisas correm mais mal do que bem — e, de repente, casos como os do quarteto sul-americano que se deitou demasiado tarde parecem responsabilidade de Sérgio Conceição porque foi ele o único a dar realmente a cara pelo tópico.

Ficha de jogo

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Young Boys-FC Porto, 1-2

Fase de grupos da Liga Europa

Stade de Suisse, em Berna, na Suíça

Árbitro: Tamás Bognar (Hungria)

Young Boys: Von Ballmoos, Janko (Hoarau, 81′), Sorensen, Zesiger, Garcia, Fassnacht, Lustenberger (Lotomba, 69′), Aebischer, Moumi Ngamaleu, Assalé (Martins Pereira, 57′), Nsamé

Suplentes não utilizados: Wolfli, Spielmann, Burgy, Mambimbi

Treinador: Gerardo Seoane

FC Porto: Marchesín, Mbemba (Manafá, 45′), Pepe, Marcano, Alex Telles, Corona (Diogo Leite, 83′), Loum (Luis Díaz, 73′), Danilo, Otávio, Marega, Aboubakar

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Sérgio Oliveira, Soares, Fábio Silva

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Fassnacht (6′), Aboubakar (75′ e 79′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Ngamaleu (1′), Mbemba (8′), Manafá (57′), Alex Telles (88′)

À parte tudo isto, o FC Porto jogava esta quinta-feira na Suíça uma etapa importante para as ambições europeias do clube. Contra o Young Boys, os dragões estavam obrigados a vencer se quisessem continuar a depender apenas e só de si mesmos para continuar na Liga Europa — e os antecedentes até eram favoráveis. Com o FC Porto a realizar uma campanha longe de perfeita na competição europeia, a verdade é que o Young Boys foi mesmo o único dos três adversários do grupo que os dragões conseguiram vencer (perderam com o Feyenoord, empataram um jogo com o Rangers e perderam o outro). E talvez por isso Sérgio Conceição tenha dito logo na antevisão que era necessário “fazer melhor do que nas duas deslocações anteriores”, até porque o FC Porto entrava nesta jornada ainda sem qualquer golo marcado fora do Dragão.

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O treinador dos dragões fazia quatro alterações face à equipa que goleou o V. Setúbal para a Taça de Portugal: saíam Diogo Costa, Diogo Leite, Wilson Manafá e Fábio Silva, entravam Marchesín (que voltava ao onze depois da polémica festa), Pepe (também de regresso mas de lesão), Marcano e Aboubakar (titular pela primeira vez esta época e pela primeira vez desde setembro do ano passado). Mbemba era então o lateral direito, Otávio jogava à frente de Alex Telles no corredor esquerdo e Corona aparecia no lado contrário, à procura de espaços interiores para desequilibrar e servir Marega e Aboubakar.

O FC Porto entrou praticamente a perder graças a um golo de Fassnacht, logo aos seis minutos, na sequência de um livre batido praticamente junto à linha lateral do lado esquerdo: o médio dos suíços apareceu a cabecear nas costas de Pepe e Marcano e bateu Marchesín, que se esticou mas não conseguiu chegar à bola. Os dragões precisavam então de realizar um jogo em formato remontada, para evitar a eliminação da Liga Europa quando ainda faltava disputar uma jornada, mas a adaptação ao relvado artificial do estádio do Young Boys ia dificultando a ligação entre os setores e os lances rendilhados que a equipa de Sérgio Conceição privilegia — ao contrário da profundidade, beneficiada pelo solo, que não é natural aos dragões.

Corona, na direita, e Otávio, na esquerda, iam sendo os melhores do FC Porto — ainda que o mexicano estivesse sempre mais sozinho e isolado nas investidas ofensivas, já que Mbemba não avança da mesma forma que Alex Telles. Talvez por isso mesmo, a melhor ocasião que os dragões criaram para empatar apareceu precisamente no lado esquerdo, com Otávio a recuperar uma bola para assistir Marega, que rematou para uma enorme defesa do guarda-redes dos suíços (25′). O lance do avançado maliano acabou por servir enquanto pontapé de saída do melhor período da equipa portuguesa na partida, que conseguiu assentar no meio-campo adversário e impedir as transições ofensivas do Young Boys que foram frequentes durante o 20 minutos iniciais e tiveram quase sempre Fassnacht enquanto principal impulsionador.

Antes do intervalo, e depois de uma primeira parte em que a exibição sofrível dos dragões ficava particularmente visível nas dezenas de duelos individuais perdidos, Marega caiu na grande área, aparentemente carregado em falta por Zesiger, e pediu-se grande penalidade para os azuis e brancos. O árbitro húngaro nada assinalou, Sérgio Conceição protestou e viu cartão amarelo, o primeiro tempo terminou e o FC Porto tinha 45 minutos para evitar a eliminação precoce das competições europeias.

Na segunda parte, Sérgio Conceição tentou compensar a disparidade ofensiva entre as duas laterais e trocou Mbemba por Manafá, para impulsionar a boa exibição que Corona já estava a realizar. O médio mexicano respondeu ainda dentro dos primeiros dez minutos do segundo tempo, com um lance individual que obrigou Von Ballmoos a duas boas defesas (55′), e o FC Porto foi subindo progressivamente as linhas e os blocos, de forma a empurrar o Young Boys para a respetiva grande área.

Com maior posse de bola, maior número de remates e o aparente controlo das ocorrências, os dragões não conseguiam transformar esse domínio em oportunidades de golo e iam perdendo tempo precioso com lances rendilhados à volta da grande área. Gerardo Seoane, o treinador suíço, percebeu que era pela faixa central que Marega e Aboubakar estavam a conseguir ir buscar jogo atrás para levar para a frente e decidiu tirar Assalé, um avançado, para colocar Martins Pereira, um médio defensivo.

A reviravolta portuguesa acabou por aparecer a partir do banco e a partir das alterações de Sérgio Conceição: não de forma direta mas de forma estrutural. O treinador do FC Porto decidiu tirar Loum — que, por muito que o técnico vá insistindo, continua a estar muitos níveis abaixo dos restantes colegas e está longe de ser tão influente como Uribe — e lançar Luis Díaz. Com a entrada do colombiano, Otávio passou para o corredor central, para atuar à frente de Danilo, e acabou por garantir a criatividade que não é intrínseca ao médio senegalês e que faltou aos dragões durante toda a partida. Num dos primeiros lances logo depois da entrada de Luis Díaz, o colombiano desbloqueou um lance, solicitou Otávio ao meio e o brasileiro desmarcou Marega, que assistiu Aboubakar para o empate (75′).

Com o Young Boys totalmente desnorteado, longe de estar à espera do golo do empate numa altura em que parecia ter bloqueado de vez as investidas dos dragões, Aboubakar apareceu totalmente sozinho ao segundo poste na sequência de um canto, bisou e colocou o FC Porto a ganhar na Suíça (79′). Até ao fim, Sérgio Conceição ainda trocou Corona por Diogo Leite, para colocar as trancas na porta, e os suíços não conseguiram anular a desvantagem.

O FC Porto venceu pela primeira vez fora na Liga Europa, marcou pela primeira vez fora na Liga Europa e depende agora apenas de si mesmo para seguir em frente na Liga Europa. Mesmo com uma primeira parte abaixo daquilo que era esperado, os dragões conseguiram dominar por completo a segunda e chegar à vitória através das alterações de Sérgio Conceição: que mais uma vez provaram que Loum não é Uribe, que Luis Díaz faz muita falta à equipa e que Otávio e Corona são as fontes criativas do conjunto. Pelo meio, Aboubakar voltou aos golos mais de um ano depois, coroou com um bis a primeira titularidade da época e deu, agora de forma definitiva, um reforço ao FC Porto.