O ministro do Ambiente defende que a conferência do clima da ONU será um sucesso se mais países se comprometerem com a neutralidade carbónica, defendendo o papel do ativismo jovem como motor para influenciar decisões.
“Esta será relevante se mais países assumirem o compromisso da neutralidade carbónica, se se perceber que as contribuições que cada país vai entregar para o ano seguinte vão ser mais ambiciosas, se conseguirmos um compromisso expressivo de projetos em continentes como África”, para que os países se possam desenvolver “preservando os seus recursos e não apostando em combustíveis de origem fóssil”, disse João Pedro Matos Fernandes em entrevista à agência Lusa, antes da cimeira da ONU sobre o clima (COP25), que começa na segunda-feira em Madrid.
“Todos os bancos têm que perceber que estes jovens são os seus futuros clientes, todas as empresas têm que perceber que estes jovens são os seus futuros trabalhadores, clientes e acionistas e vão ser certamente cada vez mais exigentes com todos os comportamentos”, declarou.
Por isso, considerou, o ativismo e as manifestações que irão acompanhar a COP25 não são ruído, mas uma forma importante de “sensibilizar e, a partir daí, comprometer não só as gerações mais jovens como todas as outras”, com a questão ambiental que estará no centro do debate da 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
“Esta é uma questão que vai ocupar muitas das nossas preocupações durante um bom par de anos“, referiu, considerando que pessoas como a jovem sueca Greta Thunberg, que dinamizou as greves estudantis pelo clima, fazem “um ativismo culto, que lança as questões certas“.
O ministro do Ambiente e Ação Climática afirmou que Portugal, que tem um Roteiro para a Neutralidade Carbónica para cumprir até 2050, está alinhado com a Europa, mas salientou que “é pena” que os atrasos na tomada de posse da nova Comissão Europeia impeçam que a União vá a esta COP25 “com outro estatuto, já com os anunciados “Novo Pacto Verde” e fundo de transição aprovados e tornados públicos.
Para João Pedro Matos Fernandes, a “emergência climática” declarada há dias pelo Parlamento Europeu é indiscutível.
“Em Portugal, não precisamos de nenhuma declaração de ninguém para sabermos que estamos em emergência climática. Perdemos 13 quilómetros quadrados de costa nos últimos anos, o mar está a subir e a seca deixou de ser uma coisa que acontece para ser estrutural no sul do país”, salientou.
Por isso, Portugal vai aparecer em Madrid como um país que reduziu em 18% as suas emissões desde o pico atingido em 2005, que aumentou a eletricidade produzida a partir de fontes renováveis e que conseguiu este ano aumentar em 12% a procura dos transportes públicos.
As duas centrais a carvão existentes em Portugal, Pego e Sines, vão encerrar em 2021 e 2023 respetivamente, mas “na União Europeia não se pode dizer o mesmo”, com países como a Polónia ainda a “viverem energeticamente do carvão”, uma das razões pelas quais a União “ainda não assumiu a uma só voz o compromisso da neutralidade carbónica em 2050”, como Portugal.
“O mundo fala a quase uma só voz, mas ainda há muitos países onde as emissões vão crescer”, como a China, indicou João Pedro Matos Fernandes, considerando que os Estados Unidos são “a maior preocupação neste momento”, com a saída anunciada pela administração do Presidente negacionista Donald Trump do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa.
Mas mesmo os Estados Unidos, uma federação de estados, têm vozes divergentes, com a Califórnia a assumir-se como “um dos líderes na descarbonização”.
“Não sei o que é preciso mostrar mais em face do que são as consequências das alterações climáticas já hoje sentidas”, disse, acrescentando que ainda que haja líderes mundiais a desconfiar da ciência – “e fazendo-o, fazem mal” -, “já não é preciso haver nenhuma metafísica, o positivismo é suficiente” e “a constatação destes factos devia levar necessariamente a um compromisso maior”.
Num evento lateral integrado no programa da COP25, que tem fim marcado para dia 12 de dezembro, Portugal vai voltar a apresentar o seu Roteiro e o Pacto de Financiamento Sustentável, “assinado pelas 16 mais importantes instituições financeiras” nacionais, incluindo a banca, seguradoras e entidades reguladoras.
Para que Portugal produza tanto dióxido de carbono como o que as suas florestas têm capacidade para absorver “vai ter que se investir mais dois mil milhões de euros por ano do que seria expectável”, reiterou, indicando que 85% desse dinheiro virá das famílias e das empresas.
Implica “substituir 4,5 milhões de automóveis a combustão por 4,5 milhões de elétricos”, reduzir em 60% as emissões no setor industrial e fazer com que cada prédio seja energeticamente neutro até 2050, com o investimento público a centrar-se nos transportes e mobilidade, indicou.
Quanto a questões centrais da cimeira, como o mercado das licenças de emissões, Matos Fernandes defende que “o preço do carbono e o robustecimento do preço do carbono são fundamentais para uma sociedade produtiva que aposte noutras formas de produzir e se afaste da utilização dos combustíveis fósseis”.
“Esta não é uma COP de grandes decisões. As COP são sobretudo importantes nas decisões concretas a cada cinco anos”, admitiu, considerando que a conferência que começa na segunda-feira tem sobretudo “relevância política”, destacando questões como a igualdade de género, “que vai ter uma fatia importante na discussão e no debate”.