O fim de semana foi quase perfeito para o Liverpool. Para lá da vitória fora de portas frente ao Bournemouth, com golos de um renovado Oxlade-Chamberlain, um regressado Naby Keïta e um quase inevitável Salah, os reds festejaram a derrota do Manchester City. Que foi bem mais do que uma derrota: foi uma derrota num dérbi, em casa, perante um Manchester United de Solskjaer que estava longe de ser favorito à vitória. O único desmancha-prazeres acabou por ser o Leicester, que goleou o Aston Villa e continua a perseguir a liderança. Ainda assim, tudo correu bem ao Liverpool este fim de semana. E a equipa de Jürgen Klopp só queria que assim continuasse durante a semana.
Depois de perder com o Nápoles em Itália na primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões e de permitir um empate aos italianos em Anfield, o Liverpool entrava para a derradeira partida do período inicial da competição sem o apuramento garantido. Ainda assim, as contas pareciam simples para o clube inglês: uma vitória perante o Salzburgo, na Áustria, garantia o primeiro lugar do grupo e a qualificação enquanto cabeça-de-série; um mero empate, porém, assegurava desde logo a passagem aos oitavos.
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A matemática não pressionava por demais, portanto, o Liverpool. Contudo, e em competitive mode como sempre — modo competitivo, como o próprio referiu –, Jürgen Klopp mostrou-se alerta e atento desde a conferência de imprensa de antevisão da visita ao Salzburgo. Ao lado do capitão Henderson, Klopp criticou o tradutor presente quanto à tradução de uma resposta do jogador inglês e afirmou que “é uma m… quando um tradutor se senta ao lado de um treinador que fala alemão”. “Devias ouvir bem, senão eu também posso fazê-lo, não é assim tão difícil”, concluiu o técnico. Competitive mode: era assim que o Liverpool se ia apresentar esta terça-feira na Áustria.
Klopp lançava Keita no meio-campo, no lugar do lesionado Fabinho e em vez de James Milner, e à exceção da integração do guineense não existiam quaisquer surpresas no onze inicial dos ingleses. Do outro lado, o destaque ia por inteiro para Erling Haaland, o jovem avançado norueguês que marcou oito golos na temporada de estreia na Liga dos Campeões, marcou nos cinco jogos da fase de grupos e podia igualar Cristiano Ronaldo, que em 2017/18 se tornou o único a marcar nos seis jogos fase inicial. Ainda assim, a verdade é que não o perigo do Salzburgo não aparecia apenas por intermédio de Haaland — tal como Klopp referiu na antevisão — e a equipa austríaca apressou-se deixar isso bem claro ao campeão europeu, chegando muito perto da baliza de Alisson duas vezes ainda no primeiro minuto.
Ao longo de dez minutos iniciais totalmente frenéticos, o jogo demorou a assentar e as oportunidades apareceram em ambas as balizas: Salah poderia ter marcado depois de um passe longo de Lovren (5′) e Alisson evitou o golo do Salzburgo após um lance brilhante rendilhado por Minaminu e Hwang (7′). Ainda que o Liverpool criasse perigo sempre que se adiantava no terreno, graças à qualidade dos três elementos da frente, a verdade é que eram os austríacos a transmitir maior dinamismo e criatividade à partida — muito graças à exibição do japonês Minaminu, que atuava nas costas de Hwang e Haaland e estava com muito espaço para construir e criar situações de profundidade entre Lovren e Van Dijk. O central holandês — a par de Robertson, o lateral esquerdo — ia sendo o melhor dos reds, esvaziando oportunidades dos austríacos e impulsionando uma equipa que parecia algo desligada dos acontecimentos.
A pressão alta e veloz do Salzburgo acabou por ir caindo com o passar dos minutos e o Liverpool ficou mais confortável na partida, não só por não estar a ser atacado constantemente mas também por conseguir reter com maior facilidade a posse de bola, de forma a lançar Mané, Salah ou Firmino nas costas da defesa adversária. Salah teve uma segunda oportunidade clara para abrir o marcador, já por volta da meia-hora e com assistência de Keita, mas o jogo foi mesmo para o intervalo sem golos. Em Nápoles, no outro jogo do grupo, os italianos estavam a vencer o Genk com um hat-trick de Milik e esta conjugação de resultados colocava o Liverpool nos oitavos de final da Liga dos Campeões e o Salzburgo na Liga Europa.
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Já na segunda parte, Klopp decidiu alterar o sistema na fase mais ofensiva da equipa face às dificuldades sentidas na primeira parte: Henderson e Wijnaldum formavam a linha mais recuada do meio-campo, Mané e Keita caíam nas alas e Firmino jogava nas costas de Salah, à procura de lançar o egípcio na profundidade. Os primeiros minutos da segunda parte — mesmo depois da saída forçada de Lovren para a entrada de Gomez — mostraram desde logo que as mudanças táticas e estratégicas no Liverpool tornavam a equipa mais coesa, mais preparada para a perda de bola e menos frágil defensivamente. Salah teve mais duas oportunidades para abrir o marcador mas foi Keita, servido por Mané, que acabou por confirmar a superioridade inglesa depois do intervalo. O avançado senegalês surgiu na esquerda, atraiu e ultrapassou o guarda-redes Stankovic e assistiu Keita, que cabeceou sem oposição para uma baliza praticamente deserta e pediu desde logo desculpa às bancadas, já que representou o Salzburgo no início da carreira (57′).
Se sem golos o Liverpool estava apurado, se com um golo o Liverpool estava apurado, a verdade é que a equipa de Jürgen Klopp se apressou a aumentar a vantagem para não abrir espaço a dúvidas. Salah, que estava estranhamente perdulário, aproveitou um passe longo de Henderson para driblar Stankovic à saída do guarda-redes e rematar na diagonal, já praticamente sem ângulo, para fazer um grande golo (58′). Até ao final, mesmo com meia-hora para jogar, o Liverpool geriu de forma confortável a vantagem e o Salzburgo raramente voltou a aproximar-se da baliza de Alisson, desistindo progressivamente da partida com o passar dos minutos.
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O Liverpool, campeão europeu, garantiu a presença nos oitavos de final da Liga dos Campeões (a par do Nápoles, que goleou o Genk) e o primeiro lugar do grupo que assegura o estatuto de cabeça-de-série. Jürgen Klopp, que teve problemas com o tradutor na antevisão, não precisou de traduções para explicar a Erling Haaland que (pelo menos ainda) não é Cristiano Ronaldo: até porque o avançado norueguês acabou por ser substituído antes do apito final e falhou a meta de marcar em todos os jogos da fase de grupos e igualar o registo do português há duas temporadas. Ainda assim, vai para a Liga Europa à boleia do Salzburgo, onde pode continuar a mostrar-se aos gigantes europeus.