“O meu pai estava tão bêbado que não deveria ter sido capaz de caminhar e entrar em casa com uma arma.” Charlize Theron, a atriz de 44 anos, numa entrevista dada na segunda-feira à norte-americana NPR (National Public Radio) relembrou a noite em que a mãe matou o pai com um tiro. Na entrevista, dada a propósito do seu novo filme Bombshell — que conta a história de várias mulheres da Fox News que acusam o CEO Roger Ailes de assédio sexual — a atriz relembra o momento em que ela própria foi assediada por um realizador e o momento em que o seu pai morreu baleado, quando Charlize era adolescente. 

“A minha mãe e eu estávamos no meu quarto, encostadas contra a porta, porque ele estava a tentar empurrar a porta”, conta. “Ele deu um passo atrás e deu três tiros na porta. Nenhuma dessas balas nos acertou, o que foi um milagre. Em legítima defesa, ela terminou com a ameaça”, relata Charlize Theron, que tinha na altura 15 anos. A mãe, Gerda Maritz, nunca chegou a ser formalmente acusada por ter sido um caso de legítima defesa.

A atriz, que hoje tem cidadania norte-americana, nasceu na África do Sul onde viveu até aos 16 anos. Depois de vencer um concurso de modelos viajou para Itália, com o apoio da mãe.

Charlize Theron com a mãe Gerda Maritz na cerimónia dos Óscares de 2013

“O meu pai era um homem muito doente. O meu pai foi um alcoólico toda a sua vida… Era uma situação sem esperança. A nossa família estava presa a isso. E a imprevisibilidade do dia a dia de viver com um viciado é aquilo que se agarra ao teu corpo para o resto da tua vida, mais do que aquele evento único que aconteceu numa noite”, acrescenta a atriz, que diz que a sua família era muito pouco saudável. “Tudo aquilo deixou-nos com cicatrizes.”

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No final, diz que deseja que aquela noite nunca tivesse acontecido, mas garante que não tem vergonha de falar do assunto. “Este tipo de violência familiar, esta violência que aconteceu com a minha família, é algo que partilho com muita gente. Não tenho vergonha de falar nisso, porque quanto mais falamos destes assuntos, mais percebemos que não estamos sozinhos em nada disto.”

Charlize Theron conclui a história da morte do pai, que já tinha revelado com alguns detalhes em 2017 numa entrevista ao The New York Times e em 2004 à ABC News, dizendo que, para si, esta história sempre foi sobre crescer com um viciado e o que isso faz a uma pessoa. 

Sobre o caso de assédio sexual que viveu, e sobre o qual já falou noutras alturas, lembra que de todas as vezes que disse o nome do realizador em questão, os jornalistas optaram por não publicá-lo. Neste momento, e para não eclipsar a estreia do filme, Charlize Theron diz que não irá mencionar o nome, por agora: “Haverá um momento certo para falar sobre este assunto de novo, e nessa altura direi o nome dele.”