18 de outubro de 2016. Terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Alvalade. Aubameyang, então ainda no Borussia Dortmund, foi o primeiro a bater Rui Patrício e abriu o marcador a favor dos alemães. A dois minutos do intervalo, com um remate certeiro de fora de área, Julian Weigl aumentou a vantagem da equipa que era orientada por Thomas Tuchel e levou o Sporting de Jorge Jesus a perder por dois para o intervalo. Bruno César ainda reduziu na segunda parte mas o Borussia não deixou escapar a vitória a noite estava feita para Weigl: aos 21 anos, marcou em Alvalade o primeiro golo enquanto jogador profissional.
Julian Weigl é jogador do Benfica com cláusula de rescisão de 100 milhões de euros
Passaram pouco mais de três anos. E daqui a duas semanas, Weigl vai muito provavelmente voltar a jogar em Alvalade. Desta vez, porém, terá vestida uma camisola vermelha e estará a disputar o mais importante dérbi lisboeta e um dos jogos mais antecipados da temporada portuguesa. O médio alemão mudou-se do Borussia Dortmund para o Benfica a troco de 20 milhões de euros, está desde já blindado com uma cláusula de rescisão de 100 milhões e foi convencido por Rui Costa e Tiago Pinto a relançar a carreira na Luz e na Primeira Liga.
Weigl chegou ao Borussia em 2015, com apenas 20 anos mas já com a bagagem de ter sido o capitão de equipa mais novo da história do 1860 Munich, o clube onde se formou e onde se estreou enquanto profissional. O treinador, na altura, era Thomas Tuchel, o alemão que está nesta altura ao leme do PSG: e Weigl, de forma quase premonitória, disse logo na apresentação que um dos principais atrativos para ter aceitado a proposta do Borussia tinha sido o alemão. “Já tive ótimas conversas com o Thomas Tuchel. Vai ser uma honra trabalhar com ele. O projeto convenceu-me e acho que não preciso de recordar ninguém do quão grande o Borussia Dortmund é. Agora, quero fazer parte disso”, atirou o médio.
A verdade é que foi mesmo com Tuchel que Weigl acabou por ter o melhor período no clube alemão. Fez mais de 30 jogos para todas as competições nas duas primeiras temporadas que passou em Dortmund e o bom rendimento acabou por garantir-lhe a estreia na seleção alemã em maio de 2016. A saída de Tuchel, no final da época 2016/17 e meses depois do jogo em Alvalade, acabou por significar para Weigl a saída do habitual onze titular e a queda para uma zona de limbo no plantel que também foi influenciada pelas breves passagens de Peter Bosz e Peter Stöger pelo comando técnico da equipa. A chegada do suíço Lucien Favre, em julho de 2018, parecia ser finalmente uma aposta numa solução a longo prazo que podia beneficiar o médio — mas o rumo da história pouco ou nada se alterou.
Nos dois últimos anos, Weigl esteve longe das preferências de Favre — foi sempre preterido a favor de Witsel e chegou a jogar a central, posição que também desempenha mas onde não se sente confortável –, raramente foi titular e chegou a cair para a equipa B para não perder ritmo. Em janeiro do ano passado, numa altura em que a pouca utilização do médio começou a abrir espaço a rumores de uma saída no mercado de inverno, Weigl não escondeu a vontade de procurar um novo destino onde tivesse mais espaço. E nem sequer hesitou em explicar que o rumo preferido era um reencontro. “Quero melhorar a minha situação desportiva. Não é segredo que trabalho bem com o Thomas Tuchel. Já disse o que quero aos dirigentes do Borussia Dortmund”, chegou a dizer Weigl. Semanas depois, já com o mercado fechado e com a manutenção garantida, o médio explicou que teve uma conversa com Favre e que decidiu dar uma segunda oportunidade à carreira em Dortmund.
O panorama, contudo, pouco se alterou. A meio de uma temporada onde levava 13 jogos e um golo marcado na Bundesliga mas está longe de ser opção inicial para o meio-campo, Weigl decidiu mudar-se para Lisboa e para o Benfica e relançar um percurso que aos 24 anos parece algo estagnado. Tuchel queria-o no PSG, Guardiola identifica-se com ele enquanto jogador e aprovava uma ida para o Manchester City, Roma e Valencia fizeram um forcing final para tentar desviar o médio para Itália ou Espanha mas a decisão estava tomada: Weigl é mesmo reforço do Benfica e é também prova da diferente e superior capacidade financeira dos encarnados (que já tinha ficado patente com a contratação de Raúl de Tomás no verão).
Polivalente, já que pode jogar a central, ‘6’ ou ‘8’, Julian Weigl é normalmente descrito como uma “máquina de passes” e assume um papel primordial na construção da equipa: no final da temporada de 2016, tocou 218 vezes na bola contra o Colónia, um máximo histórico na Bundesliga. Lothar Matthäus, antigo internacional alemão que foi Bola de Ouro em 1991, não poupou nos elogios a Weigl logo depois da primeira época do médio no Borussia e garantiu que o jogador o recordava de “Pep Guardiola no meio-campo do Barcelona”. Na Luz, Weigl vai tentar reencontrar a felicidade e a qualidade que impressionou a Europa quando Tuchel estava em Dortmund — e esquecer dois anos de quase marasmo que o afastaram da seleção alemã, do Mundial da Rússia e da alta ribalta do futebol europeu.