A eventual candidatura de André Ventura à Presidência da República está a dividir o Chega. Este fim de semana, na reunião do Conselho Nacional do partido, na Nazaré, vários dirigentes opuseram-se à entrada do líder na corrida a Belém com o argumento de que isso poderia fragilizar a posição do Chega no Parlamento.
“Se a estratégia do partido assenta na prestação do André no Parlamento — e se está a correr tão bem —, sou contra tudo o que possa pôr isso em causa”, afirma José Dias, vice-presidente do Chega e presidente do Sindicato do Pessoal Técnico da PSP. Apesar dessa posição, e apesar de não ter conseguido marcar presença neste último Conselho Nacional, José Dias manifesta o seu total apoio ao líder “qualquer que seja a sua opção”. Mas, para o sindicalista, o papel de “primeiro-ministro” é o que melhor assenta a André Ventura.
Outro vice-presidente do Chega, Nuno Afonso, admite que as divergências de opinião que ficaram expostas durante este fim-de-semana se prendem com a estratégia a seguir pelo partido. E, para ele, essa estratégia assenta, principalmente, na capacidade de André Ventura interpelar o Governo enquanto deputado. Por isso mesmo, ninguém quer arriscar dar um passo em falso com uma candidatura a Belém.
“A nossa estratégia está a resultar”
“O partido está muito ligado ao líder e fundador. E a nossa estratégia, que passa pela Assembleia da República, está a resultar. Os números assim o mostram. A eventual candidatura à Presidência não pode fazer com que o partido perca impacto no Parlamento”, afirma Nuno Afonso, que não quer revelar a sua posição mas confessa que “não é muito diferente” da de Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente e ideólogo do partido.
Ao mesmo tempo, Nuno Afonso reconhece as vantagens de uma eventual candidatura presidencial. “Precisamos de alguém que enfrente o sistema político. E não há ninguém mais bem preparado para enfrentar o professor Marcelo Rebelo de Sousa, caso se recandidate, do que André Ventura, que seria capaz de levar a disputa da eleição a uma segunda volta”.
Segundo o Observador apurou, os conselheiros nacionais que apoiam uma candidatura de André Ventura a Belém fazem-no por defenderem também uma mudança para um sistema presidencialista, em que o Presidente da República seria também o chefe do Executivo.
De fora parece ficar o argumento da idade — André Ventura tem 37 anos, apenas mais dois do que os exigidos pela Constituição para uma candidatura presidencial —, apesar de esse fator também ter sido abordado na reunião dos conselheiros nacionais. Para Nuno Afonso, “a juventude do líder até agora nunca foi um entrave”.
Caso a candidatura presidencial de André Ventura não avance, os conselheiros nacionais admitem apoiar uma figura de fora do partido. O juiz Carlos Alexandre é o candidato preferido do líder do Chega, mas fonte do partido garante que o convite nunca foi formalizado.
A decisão final do deputado do Chega vai ser conhecida em Fevereiro, num novo Conselho Nacional — trata-se do órgão máximo entre os congressos e nele têm assento 79 dirigentes.
Pode ouvir aqui neste Direto ao Assunto da Rádio Observador a entrevista de Sousa Lara, que explica a sua saída do cargo de porta-voz do Chega: “Ninguém me dá tau tau”.