O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá ordenado diretamente a demissão da ex-embaixadora norte-americana na Ucrânia, Marie Yovanovitch, de acordo com uma gravação obtida e noticiada esta sexta-feira pela ABC News, na qual é possível ouvir Trump dizer claramente: “Livrem-se dela!

Marie Yovanovitch é uma das figuras centrais nas acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso pelas quais Donald Trump está a ser julgado pelo Senado norte-americano, no âmbito de um processo de impeachment.

Em causa está a suspeita de que Trump terá pedido ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, que anunciasse publicamente uma investigação aos negócios de Hunter Biden — filho do ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden — naquele país. O objetivo, de acordo com a acusação produzida em dezembro, seria prejudicar a imagem pública de Biden, que atualmente é um dos principais candidatos democratas à Presidência dos EUA, e beneficiar a sua própria candidatura à reeleição, este ano.

A investigação à empresa Burisma, de cuja administração Hunter Biden fazia parte, já decorria, na verdade, há alguns anos na Ucrânia, ainda na altura da presidência de Obama nos EUA. À frente desse inquérito estava o procurador Viktor Shokin, à volta do qual surgiam indícios de corrupção.

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Mais recentemente, já com Trump à frente da Presidência dos EUA, a equipa de Donald Trump terá pedido à Ucrânia que retomasse a investigação, entretanto adormecida, e a anunciasse publicamente, de forma a obter benefícios eleitorais para o Presidente norte-americano.

O advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, tentou obter um visto para Shokin e acusou a embaixadora de estar a proteger Joe Biden ao proibi-lo de entrar nos EUA para continuar a sua investigação a Hunter Biden. A embaixadora Marie Yovanovitch, porém, argumentou que foram os indícios de corrupção em torno de Shokin que a levaram a recusar um visto de entrada nos EUA ao procurador.

Yovanovitch acabaria por ser afastada da missão diplomática. Em maio de 2019, o Departamento de Estado dos EUA informou Yovanovitch de que teria de regressar imediatamente a casa por motivos de “segurança”.

No depoimento que prestou na Câmara dos Representantes, Marie Yovanovitch disse que se sentiu ameaçada por Donald Trump e contou que foi aconselhada por outro diplomata norte-americano, Gordon Sondland, a publicar tweets a apoiar Donald Trump para assegurar o seu lugar.

Agora, a gravação obtida pela ABC News vem corroborar a tese de que Donald Trump quis que Marie Yovanovitch fosse retirada do lugar. “Livrem-se dela! Tirem-na de lá amanhã. Não quero saber. Tirem-na amanhã. Tirem-na de lá. Ok? Façam-no”, terá dito Trump a um pequeno grupo de empresários próximos da Presidência dos EUA, durante um jantar em abril de 2018 — um ano antes do despedimento de Yovanovitch.

No grupo estavam os empresários Lev Parnas e Igor Fruman, dois homens de negócios próximos do advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani. Parnas, aliás, tem dado uma série de entrevistas nos últimos dias em que garante que Donald Trump estava “ciente” de tudo o que estava a acontecer — ou seja, os esforços norte-americanos de pressionar a Ucrânia a investigar Biden em troca do desbloqueio de ajuda militar àquele país.

Trump tem repetido, por seu turno, que não conhece Lev Parnas — algo que esta gravação de som aparenta desmentir.

Na gravação, segundo a ABC News, é possível ouvir Lev Parnas afirmar que “o grande problema” é que os EUA têm de “se ver livres da embaixadora”. “Ela já lá está desde a administração Clinton“, diz Parnas na conversa.

Donald Trump é o quarto presidente dos EUA a enfrentar um processo de impeachment e o terceiro a ser julgado pelo Senado (Richard Nixon demitiu-se antes do julgamento). A gravação surge precisamente na semana em que os congressistas democratas estão a apresentar perante o Senado os argumentos que justificam, no entendimento da Câmara dos Representantes, que Donald Trump seja considerado culpado de abuso de poder e obstrução do Congresso e seja destituído.