O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disparou esta quarta-feira uma série de ataques pessoais ao seu ex-conselheiro de segurança nacional, John Bolton, numa altura em que é cada vez mais provável que Bolton seja convocado para testemunhar no julgamento de impeachment do Presidente e revele perante os senadores que Trump usou o seu poder presidencial para pressionar a Ucrânia a prejudicar o seu adversário político Joe Biden.
Também a Casa Branca, de acordo com a CNN, enviou uma carta a John Bolton com uma ameaça formal para o impedir de publicar um livro no qual revela detalhes sobre o funcionamento interno da Casa Branca e, em particular, sobre a relação com a Ucrânia, no centro do julgamento de impeachment de Trump.
Através do Twitter, Donald Trump classificou John Bolton como “um tipo que não conseguiu ser aprovado como embaixador na ONU há vários anos, que desde essa altura não foi aprovado para nada” e que “implorou” a Trump por um cargo na Casa Branca que não precisasse de aprovação do Senado. Cargo esse “que eu lhe dei, apesar de muitos dizerem ‘não o faça, senhor'”, acrescentou Trump, acusando Bolton de “muitos erros de avaliação” durante o tempo que esteve na Casa Branca.
Donald Trump foi ainda mais longe e disse que se não o tivesse despedido (embora Bolton continue a dizer que foi ele que se demitiu) “já estaríamos, nesta altura, na Sexta Guerra Mundial“.
….many more mistakes of judgement, gets fired because frankly, if I listened to him, we would be in World War Six by now, and goes out and IMMEDIATELY writes a nasty & untrue book. All Classified National Security. Who would do this?
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 29, 2020
O Presidente Donald Trump está por estes dias a ser julgado pelo Senado norte-americano por duas acusações que lhe foram movidas pela Câmara dos Representantes: abuso de poder e obstrução do Congresso.
Em causa estão os contactos entre a administração Trump e a Ucrânia. De acordo com a acusação, Donald Trump terá pressionado o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, a anunciar publicamente investigações a suspeitas de corrupção que envolviam a empresa energética ucraniana Burisma, de cuja administração fazia parte Hunter Biden, filho do ex-vice-presidente dos EUA e candidato democrata à Presdiência Joe Biden.
O objetivo de Trump seria prejudicar a imagem pública de Biden, que se posiciona como um dos principais candidatos democratas à Presidência dos EUA nas eleições deste ano.
Para pressionar a Ucrânia, Trump teria usado duas vantagens. Segundo os democratas, o Presidente dos EUA congelou o financiamento do apoio militar atribuído pelos norte-americanos à Ucrânia para depois apenas o desbloquear quando a Ucrânia anunciasse as investigações; e também fez depender a realização de uma reunião entre os dois presidentes na Casa Branca (que era desejada por Zelenski para consolidar a sua legitimidade a nível interna) do anúncio das investigações.
Os advogados de Donald Trump têm argumentado que não houve nenhum quid pro quo, ou seja, que não houve nenhuma relação entre o desbloqueio da ajuda militar ou a possível reunião na Casa Branca e a investigação aos Bidens.
Desde o início do processo que os democratas têm pretendido ouvir o testemunho de John Bolton, que devido ao seu anterior cargo de conselheiro de segurança nacional teve conhecimento direto das circunstâncias em que o apoio militar à Ucrânia foi congelado e depois desbloqueado, mas os republicanos têm bloqueado todas as tentativas de chamar novas testemunhas para o julgamento.
Isto mudou no último fim de semana, quando o jornal norte-americano The New York Times divulgou excertos do manuscrito de um livro que John Bolton pretnede publicar nos próximos tempos e no qual, de acordo com aquele jornal, Bolton revela que Trump lhe disse que iria manter a ajuda militar à Ucrânia bloqueada enquanto não fosse anunciada a investigação ao filho de Joe Biden.
A divulgação do conteúdo do livro fez mudar o rumo do julgamento e neste momento são vários os senadores republicanos que equacionam votar favoravelmente a convocatória de John Bolton para testemunhar perante o Senado. Depois da sessão de terça-feira, os senadores republicanos estiveram reunidos à porta fechada durante várias horas e o líder da bancada, Mitch McConnell, chegou à conclusão de que não tem, neste momento, votos suficientes garantidos para bloquear a intimação de John Bolton.
Num momento em que parece cada vez mais provável que John Bolton venha a testemunhar no Senado, Donald Trump atacou também o livro do ex-conselheiro. “Sai [da Casa Branca] e IMEDIATAMENTE escreve um livro vil e falso“, com informação “classificada”. “Quem faria uma coisa destas?”, perguntou Trump.