É sempre difícil imaginar o fim das carreiras dos melhores de sempre. Era complicado conceber que, um dia, Michael Schumacher iria deixar as pistas. Era impensável pensar na NBA sem Jordan e sem Bryant tal como agora é complexo pensar nela sem James. É quase impossível antecipar o dia em Messi e Ronaldo vão anunciar que vão deixar os relvados. No MotoGP, no mundo das motas, é o fim da carreira de Valentino Rossi que vai atormentando os adeptos da modalidade.

Aos 40 anos, o piloto italiano vai realizar este ano a 18.ª temporada no MotoGP e a 15.ª com a Yamaha, ainda que ao longo de dois períodos distintos. Símbolo maior da modalidade e do motociclismo, Valentino Rossi tornou-se uma figura de culto e permanece um dos favoritos dos adeptos e dos entusiastas — mesmo estando arredado das principais decisões há vários anos e sem ganhar o Mundial desde 2009. Segundo piloto da história com mais títulos (sete, menos um do que Giacomo Agostini, cinco deles consecutivos e todos conquistados na primeira década do milénio), Rossi tem perdido espaço para os jovens talentos que têm subido do Moto 2 para a principal categoria — Márquez, Viñales, Quartararo, entre outros — e o dia da despedida pode ter ficado esta semana mais próximo do que aquilo que se pensava.

Num duplo comunicado, a Yamaha anunciou que a dupla de pilotos para 2021 será formada por Maverick Viñales e Fabio Quartararo. Se o primeiro renovou contrato, o segundo vai subir da Yamaha SRT para a equipa-mãe no final da temporada deste ano, promovido depois de uma época de estreia impressionante em que se conseguiu manter na luta pelo pódio em quase todas as corridas. As contas são simples: se em 2021 fica Viñales e entra Quartararo, sobra Rossi. A Yamaha adiantou desde logo que 2020 será “a última temporada completa” do italiano com a equipa mas Il Dottore, como é carinhosamente tratado pelo fãs, garantiu que ainda não quer apressar qualquer decisão quanto à continuação ou ao fim da carreira.

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“No início do ano, a Yamaha pediu-me para tomar uma decisão quanto ao meu futuro. De acordo com aquilo que disse durante a temporada passada, confirmei que não quero apressar qualquer decisão e preciso de mais tempo. A Yamaha atuou de acordo com isso e concluiu as negociações que já estavam em curso”, disse o piloto italiano. As “negociações que já estavam em curso”, neste caso, dizem respeito à subida de Quartararo da equipa-satélite para a equipa principal — que, entretanto, anunciou também que o recém-retirado Jorge Lorenzo vai integrar a marca como piloto de testes.

O piloto italiano não é campeão mundial desde 2009

A decisão da Yamaha deixa Valentino Rossi a braços com uma decisão que terá de tomar até ao fim do ano civil de 2020: ou termina a carreira no final desta temporada, ou mantém-se no ativo na equipa-satélite e no lugar que Quartararo vai deixar vago, já que o grupo japonês garantiu “total apoio de fábrica” ao piloto. Rossi, aos 40 anos, terá de optar por uma espécie de despromoção oficial à segunda metade do pelotão do MotoGP ou o definitivo fim da carreira. Uma terceira opção, a possibilidade de integrar outra equipa que não a Yamaha SRT, parece por agora uma solução pouco viável e quase impossível.

Uma decisão que, de acordo com o próprio Rossi, irá depender de “algumas respostas que só as primeiras corridas” poderão dar. “As últimas mudanças técnicas e a chegada de um novo chefe de equipa visam o objetivo de ser competitivo este ano. Quero continuar como piloto de MotoGP em 2021 mas antes preciso de ter algumas respostas que somente as primeiras corridas da temporada me podem dar”, garantiu o piloto italiano. Valentino Rossi vai esperar para perceber se ainda consegue ser competitivo para decidir o próprio futuro: até lá, o dia do fim da carreira de um dos melhores de sempre, o dia que era impossível de conceber, torna-se cada vez mais uma imagem nítida.