A Urbinveste, empresa de gestão de projetos de Isabel dos Santos, recusa ter recebido 500 milhões de dólares em contratos celebrados com o Estado angolano para participar no plano de renovação da zona da Areia Branca e, com isso, ter desalojado três mil pessoas.

Num pedido de esclarecimento enviado a vários jornais, entre os quais o Observador, a Urbinveste garante que “é falsa a informação que o ‘Projeto Marginal Corimba’ [da Urbinveste] rendeu 500 milhões mas desalojou três mil pessoas.”

Os dados do Luanda Leaks, divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas e citados pelo Observador a 21 de janeiro, davam conta de que a empresa teria recebido centenas de milhões de dólares do Estado angolano para pôr em marcha o Projeto Marginal Corimba, um projeto de renovação da zona da Areia Branca que implicaria ilhas artificiais, ligadas umas às outras e a penínsulas já existentes, por uma sofisticada auto-estrada que nasceria, também ela, em terra conquistada ao mar. No mesmo artigo, que citava os novos dados divulgados sobre os Luanda Leaks, era referido que três mil pessoas teriam sido desalojadas para que o projeto avançasse.

Porém, em comunicado, a Urbinveste nega a informação e diz que os documentos entregues ao consórcio de jornalistas e reproduzidos por vários meios de comunicação social estavam “descontextualizados e inclusive alguns obsoletos”. A Urbinveste garante não ter sido responsável pelo despejo dos moradores da Areia Branca porque essa ação foi feita 1 de junho de 2013 por outra empresa — a brasileira Odebrecht — e devido a outro projeto — “Marginal de Sudoeste”.

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“A obra foi adjudicada à Odebrecht pelo Governo Angolano em 2010 e não tem nenhuma relação com o projeto ‘Marginal Corimba’ promovido pela Urbinveste em 2016”, frisa, adiantando que a zona da Areia Branca “foi intervencionada pela Odebrecht, em 2012-2013, para construir uma estrada ligando a zona da Chicala à Corimba ao longo dos terrenos da marginal já existente”.

Já o projeto da Urbinveste, a “Marginal da Corimba”, trata-se, refere a empresa, de “um aterro marítimo” em que “a terra seria dragada e reclamada ao mar, e sobre o qual seria construída uma estrada”. O projeto não teria “impacto em terrenos existentes, nem impacto sobre as populações existentes, nem necessidade de realojamentos”.

“Em junho de 2013, data que foram feitos os despejos da zona da Areia Branca, o projeto Marginal da Corimba não existia”. O projeto foi “aprovado pelo Governo Angolano apenas em 2016, com início de trabalhos previsto para 2018”, mas acabou anulado e “nunca chegou a ser construído”.

É assim inteiramente falso que a Urbinveste tenha recebido centenas de milhões de dólares para participar num qualquer plano de renovação da zona da Areia Branca.

A Urbinveste refere ainda que “ficou chocada e consternada com a reportagem emitida, em particular com as condições em que em junho de 2013 foi feito este despejo da população”. E que, embora nada tenha que ver “com esta obra, com este despejo e com este assunto, encontra-se disponível em apoiar as famílias que foram sujeitas a esta situação”.