Um estudo sobre causas do cancro, que contou com a colaboração de um investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), mostra que comunidade científica está “mais perto de catalogar as vias biológicas envolvidas” na doença.

O estudo, publicado na revista científica Nature, surgiu no âmbito do “Pan-Cancer Analysis of Whole Genomes”, um projeto iniciado há cerca de seis anos que juntou mais de 1.300 cientistas e especialistas clínicos de 37 países para analisarem “causas de cancros anteriormente inexplicados”.

Em declarações à Lusa, Nuno Fonseca, investigador do CIBIO-InBIO que esteve incluído na investigação, explicou que o projeto analisou mais de 2.600 genomas de 38 tipos de tumores “dispersos em vários projetos”. “O projeto tentou aumentar a quantidade de dados e ter uma visão mais holística do problema”, referiu o especialista, referindo que no âmbito do projeto foram publicados 23 artigos científicos.

Com o objetivo de “compreender melhor as causas e consequências das alterações genéticas nos genomas”, mas também nas regiões “não codificantes [ADN lixo]”, o estudo permitiu “ampliar e aperfeiçoar os métodos de análise”.

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Entre as várias conclusões desta investigação, Nuno Fonseca destacou que o “cancro é um problema complexo”, mas os resultados apontam que a comunidade científica está “mais perto de catalogar todas as vias biológicas” envolvidas na doença. “O cancro é um problema complexo. Foram encontrados mais de 80 padrões de alterações no ADN que causam a doença, desde uma única base de ADN a grandes reorganizações de cromossomas. Além disso, foi identificada uma mutação causal em 95% dos casos analisados, o que significa que estamos mais perto de catalogar todas as vias biológicas envolvidas no cancro”, explicou.

Paralelamente, o estudo mostrou que o sequenciamento do genoma do cancro, quando combinado com um conjunto de ferramentas de análise, permite “caracterizar cada alteração genética encontrada num cancro e todos os processos que originaram essas mutações e, até mesmo, a ordem dos principais acontecimentos durante o seu ciclo de vida”.

À Lusa, Nuno Fonseca adiantou que os resultados obtidos no âmbito deste projeto vão “facilitar e acelerar novas descobertas relacionadas com a deteção e tratamento de cancro”. “Além dos dados disponibilizados, os novos programas computacionais e infraestruturas desenvolvidas para processar e analisar os dados genómicos, incluindo ferramentas para explorar os dados produzidos, deverão ser muito úteis nos próximos anos, em particular, à medida que novas amostras são recolhidas e sequenciadas em todo o mundo”, disse.

O investigador acrescentou que “este trabalho deverá beneficiar os pacientes a médio e longo prazo, sendo que é necessário mais trabalho para transformar o que foi aprendido em soluções com impacto imediato para os pacientes”.