Começou por ser anunciada como uma manifestação extra uma primeira manifestação que se realizaria antes do jogo com o Marítimo, ganhou outro mediatismo quando a claque Juventude Leonina anunciou que se iria juntar ao protesto, aumentou as proporções quando começou a ser falado que os outros Grupos Organizados de Adeptos iam igualmente expressar uma posição, multiplicou o contexto por “colar” com o dérbi do futsal no João Rocha que terminava pouco antes da hora marcada (e que tinha lotação esgotada há muito). Em termos internos de universo Sporting, o dia 9 de fevereiro era há muito esperado. O que iria acontecer, isso, ninguém sabia ao certo.

Sporting rescinde protocolos com Juve Leo e Directivo XXI. “É altura de dizer basta” a “comportamentos violentos”

“Chegou a hora de refletirmos e nos unirmos por um bem comum,o bem do nosso amor! (…) Chegou a hora de nos unirmos e nos manifestarmos em prol do clube que amamos e lutarmos contra o amadorismo desta direção e a belenização do nosso clube! Pelo amadorismo, pelo Rogério [Alves], pelo péssimo planeamento desportivo no futebol, pela vergonhosa comunicação, pela apatia, pela forma como adeptos têm sido desprezados e maltratados e rivais quase abraçados, pelo abandono total das modalidades…”, defendia uma das mensagens que foi passando nos últimos dias, pedindo para que, de forma ordeira, todas as sensibilidades se pudessem juntar para deixar uma ideia de relevo em relação ao atual momento do clube verde e branco, entre climas de tensão crescente sobretudo entre o atual Conselho Diretivo e os Grupos Organizados de Adeptos (mas não só).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Apesar das duas taças conquistadas no futebol na última temporada (algo que fez de 2018/19 a melhor época no plano das vitórias desde 2002) e dos feitos nas modalidades, nomeadamente os títulos europeus de futsal e hóquei em patins, a relação entre Frederico Varandas e algumas franjas de adeptos de maior ou menor dimensão nunca foi propriamente fácil, tendo como ponto chave de rutura o fim do protocolo com a Juventude Leonina e o Directivo Ultras XXI no seguimento dos acontecimentos no encontro de futsal com os Leões de Porto Salvo que levaram o presidente leonino a sair do Pavilhão na sua viatura sob escolta policial (sendo que antes já se tinham registado alguns episódios) – e muito do que aconteceu depois decorreu sobretudo dessa quebra.

Sporting acabou protocolo com claques mas isso foi tudo menos o fim de guerra: as últimas 120 horas em Alvalade

A isso acrescentava-se um outro contexto desportivo, com o futebol a ter uma das piores épocas em termos internos (longe dos dois primeiros lugares, a lutar pela terceira posição, afastado da Taça de Portugal de forma precoce, a perder a meia-final da Taça da Liga e a ser goleado na Supertaça), e, em paralelo, o pedido de realização de uma Assembleia Geral Extraordinária para votar a destituição do atual elenco diretivo que deverá ter a resposta final (ao que tudo indica negativa, como o Observador há muito anunciou) no início da semana. Mais uma vez, o Sporting entrava na sua habitual espiral autofágica na fronteira da crise institucional e com uma grande entrevista ao jornal Record do número 1 verde e branco que, na blogosfera, pareceu ter o condão de suscitar mais clivagens do que propriamente aproximações perante a radiografia geral apresentada a vários níveis.

Depois do dérbi de futsal, que os leões venceram por 2-0, a manifestação terá juntado mais de mil adeptos mas ficou marcada em paralelo por uma agressão a Miguel Afonso, vogal da Direção com o pelouro das modalidades, no interior do Multidesportivo, naquele que foi o único incidente numa tarde que decorreu sem incidentes. De acordo com o que apurou o Observador, o dirigente, que se encontrava com a filha e com o vice-presidente Filipe Osório de Castro (que foram alvo de insultos no meio da confusão que se criou naqueles momentos), terá sido reconhecido por um pequeno grupo de elementos alegadamente ligados à Juventude Leonina e foi alvo de uma agressão. O Sporting irá apresentar queixar, não se percebendo ainda o porquê de não haver policiamento numa zona “sensível” onde se concentrariam centenas de pessoas, como se veio a confirmar, quando houve um reforço não só no Pavilhão João Rocha como no exterior do Multidesportivo. Depois do encontro da equipa de futebol com o Portimonense, o clube viria a reagir em termos oficiais através de comunicado.

De recordar que Miguel Afonso, que antes da entrada no elenco de Frederico Varandas em setembro de 2018 tinha sido conselheiro leonino eleito no sufrágio de março de 2011 (que teve nove listas para o Conselho Leonino) e é associado do clube há quase 50 anos, já tinha visto também a sua viatura danificada no final do encontro de futsal entre o Sporting e o Leões de Porto Salvo quando estava parada perto da rampa do Pavilhão João Rocha, numa noite que obrigou o presidente verde e branco a deixar o local sob escolta policial e funcionou como gatilho final para o fim do protocolo existente entre o clube e as claques Juventude Leonina e Directivo Ultras XXI.

Juve Leo invade central do Pavilhão em jogo de futsal, Varandas sai escoltado do recinto

Sobre a manifestação em si, a mesma levou mais de um milhar de pessoas a passar pela zona do Multidesportivo sobretudo entre as 16h15 e as 17h15, sendo complicado perceber ao certo quantos adeptos marcaram presença no local porque muitos optavam apenas por transitar no local, pararem por breves momentos e seguirem depois para outro local. Entre as muitas tarjas e cartazes, destaque para um na parte de cima do varandim perto da entrada do Multidesportivo que dizia “Varandas Out, eleições livres sem excluídos” entre muitas críticas ao líder leonino. As claques, primeiro a Juventude Leonina e depois do Directivo Ultras XXI, chegaram numa espécie de desfile com bandeiras grandes (aquelas que hoje estão proibidas de entrar no estádio).

“O Sporting vem por este meio repudiar mais um episódio de violência ocorrido nas instalações de Alvalade. Esta tarde, depois da vitória da equipa de futsal frente ao Benfica, e quando fazia o corredor de acesso aos elevadores, já dentro do Estádio José Alvalade, Miguel Afonso, vogal da direção do Sporting, foi agredido ao pontapé por pessoas identificadas com adereços da Juventude Leonina. A filha adolescente, que o acompanhava, foi cuspida e insultada. Também Filipe Osório de Castro, vice-presidente do Sporting, foi alvo de insultos e tentativa de agressão. Os episódios cobardes e lamentáveis ainda se repetiram com um Assistente de Recinto Desportivo que foi alvo de agressões”, destacaram os leões através de comunicado colocado no site oficial do clube.

“Numa altura que ainda decorre o julgamento de Alcochete e que o Sporting tenta ultrapassar os momentos extremamente violentos e traumáticos a que foi sujeito é, mais uma vez, atacado. Desta vez, até uma menor é insultada, cuspida, humilhada. Perante as agressões, a violência, as ameaças e os insultos o Sporting não irá ceder. Isto não é o Sporting. Tomaremos as medidas necessárias e defenderemos os sócios, as famílias e todos aqueles que, sob o signo do leão, vivem e apoiam sempre o seu clube, com os valores que fazem parte do ADN do Sporting Clube de Portugal”, concluiu a missiva publicada pouco depois do final do jogo com o Portimonense.

Varandas diz que “Sporting não tem futuro” se a direção for destituída

“A seguir ao ataque de Alcochete, já presenciámos uma invasão de garagem, uma invasão de bancada, ao arremesso de pedras que atingiram e danificaram o carro de um elemento do Conselho Diretivo. Hoje, dois elementos e a filha de um deles sofreram uma emboscada por cerca de seis elementos cobardes. Pontapearam um elemento do Conselho Diretivo, pontapearam um segurança, insultaram e cuspiram uma miúda de 16 anos”, começou por referir Frederico Varandas na zona mista, onde falou com todos os elementos do Conselho Diretivo a seu lado.

“Isto é o que se tem vindo a passar há mais de dez anos e até fez com que um presidente caísse. Já a direção da claque mantém-se, sempre. Saímos de Portimão líderes do Campeonato e fui insultado. O que mudou? Os privilégios que estes senhores não têm, que com esta Direção nunca mais voltam a ter. E se pensam que vamos recuar, não. Nós amamos o clube que não é deles, é dos sócios. Não está em causa nenhum resultado desportivo porque estes senhores julgam que mandam no Sporting mas não mandam mas nunca mais voltam a mandar”, concluiu o presidente verde e branco, recusando depois responder a questões da imprensa.

Sporting aguarda decisão sobre ação de despejo, claques já não têm água e luz nas sedes

De referir que a zona onde tudo aconteceu (piso 0 do Multidesportivo, na zona perto dos elevadores, onde se pode aceder pela entrada principal do Multidesportivo que hoje estava com reforço policial por causa da manifestação ou pelo elevador vindo do -1 ou -2 das garagens) tem câmaras internas que deverão permitir a identificação de tudo o que se passou e dos próprios agressores. Além do Sporting, também Miguel Afonso e Filipe Osório de Castro irão apresentar queixa e será nesse momento que a PSP deverá solicitar essas imagens ao clube.