São quatro brinquedos sexuais, devidamente acondicionados e encaixotados e entregues ao domicílio — a ideia é portuguesa e chega a fazer lembrar os tempos da maleta vermelha. Nada a ver. As reuniões de senhoras à volta de um trolley cheio de dildos e vibradores fazem parte do passado. A Playbox fala para casais, a nova consciência sexual assim o exige. “Há ene opções para procurar a cara metade, conhecer novos parceiros e ter encontros, mas não há nada para casais. E a vida não é assim tão simples — existem rotinas, os filhos tiram imenso tempo ao relacionamento do casal, embora sejam uma coisa boa. Não há nada que apimente a relação”, explica ao Observador Mikaela Silva, uma das mentoras deste serviço de subscrição que chegou ao mercado em setembro do ano passado.
A lacuna era dupla — estava no mercado, onde o modelo típico de sex-shop não é eficaz a satisfazer as necessidades de todos os perfis de consumidor, e no seio dos próprios casais, onde a empresária continua a identificar vergonha, pudor e falta de comunicação no que ao sexo diz respeito. A curiosidade está lá, o negócio só tinha de atacar as duas frentes e, para isso, enviar uma caixa de sex toys de três em três meses não era suficiente. “Existem outros serviços mas nenhum como este. É mais do que uma caixa, é uma ajuda para apimentar a relação. Lá dentro, enviamos quatro artigos que são sempre surpresa, mas depois também enviamos uma média de três desafios por semana. Mesmo que as pessoas encontrem os mesmos objetos numa sex-shop, muitas vezes nem sabem para que servem ou como se usam. Aí é que está a grande diferença”, esclarece.
Em suma, ao mesmo tempo que fornece o material, a Playbox certifica-se de que o casal lhe dá uso e com diferentes níveis de criatividade e ousadia. Os desafios podem simplesmente incentivar o clima de romance, focar-se nos preliminares, ter em vista o orgasmo ou chegar mesmo a sugerir que o casal experimente uma novas possibilidades de prazer sexual. Pelo meio, depois de fazer chegar os objetos a casa dos clientes com a maior discrição, o serviço cumpre a segunda metade da missão: pôr marido e mulher a falar sobre sexo. “Muitas vezes, nem têm coragem de detalhar um com o outro o que gostavam de experimentar. Alguns nem sabem”, comenta.
Aos 31 anos, Mikaela é uma estratega legítima no seu próprio negócio. Marketeer de formação e com um mestrado em Empreendedorismo, é casada e mãe de dois filhos. Foi precisamente durante a segunda licença de maternidade que decidiu ter a própria empresa. Deixou o cargo de gestão numa multinacional e dedicou-se integralmente à Playbox, trazendo mais dois sócios — Nelson Pereira, profissional da área financeira e seu marido, e um terceiro elemento, o único com experiência em sexual wellness.
Ao trio, juntaram-se dois sexólogos, peças essenciais na hora de formular desafios e escolher os objetos a incluir em cada caixa, no que toca à qualidade, mas também à função. Mais do que apontar a mira ao hardcore, o serviço quer aguçar a curiosidade de homens e mulheres. “Um dildo é uma peça tão básica que não dá gozo nenhum pô-lo na caixa”, admite a empresária. Já uma pluma deixa à criatividade de cada um (embora haja orientações precisas de como, quando e onde usá-la). O mesmo se espera dos desafios — o explícito nem sempre é o mais estimulante. Alguns são enviados para os dois, outros só para ele ou só para ela, só para semear o elemento surpresa.
Os portugueses à descoberta do Tenga Egg
Sabe o que é o Tenga Egg? Ao que tudo indica, o mais simples, discreto e eficaz masturbador masculino alguma vez inventado. Uma obra-prima cheia de elasticidade, criada em 2008 por uma empresa japonesa da especialidade, a Tenga, que entretanto já replicou o engenho para produzir várias versões. Uma coisa é certa: depois de um exemplar ter destronado Kylie Jenner, aprendemos que não é boa ideia subestimar um ovo e este tem surpreendido muito boa gente. Tem um orifício para inserir o pénis, um pacotinho de lubrificante e diz quem já fez o test drive (internautas afoitos, sobretudo) que é elástico o suficiente para cobrir uma garrafa de meio litro, embora também se ajuste a um Favaíto de 55 mililitros.
De versão para versão, muda a textura do interior, aparentemente, uma forma de diversificar as sensações. O procedimento é do mais intuitivo que há e marca e utilizadores apenas discordam na durabilidade do artigo. A Tenga defende que o seu ovo está pensado para uma única utilização, em fóruns, tutoriais e caixas de comentários muitos dos homens que o usam admitem lavá-lo e reutilizá-lo várias vezes, sem qualquer prejuízo para o desempenho.
Mikaela não tem dúvidas: este é mesmo um dos artigos que mais sucesso têm feito em quase seis meses de serviço de subscrição. O ovo já surpreendeu dezenas de casais, até porque uma boa parte deles não conhecia as valências desta massa gelatinosa. E como o serviço não passa só pelo conteúdo das caixas, também os desafios lançados aos casais incluem o brinde pascal. Um dos primeiros exigia uma boa dose de audácia, mais do que a generalidade das propostas da Playbox — os casais eram desafiados a usar o Tenga Egg dentro do provador de uma loja, prevendo sempre a alternativa menos arriscada, ou seja, a masturbação no aconchego do lar.
Vamos falar sobre sexo?
“A sexualidade continua a ser um tabu. As pessoas fazem piadas, mas não conversam de forma aberta e com naturalidade. Ninguém fala sobre usar ou não brinquedos sexuais. Percebemos isso até mesmo falando com amigos”, acentua. A empresária fala em dois tipos de clientes: os casais relativamente arrojados, que se querem divertir e que já usam brinquedos (apenas 25% dos clientes da Playbox nunca tinham usado nenhum) e até alinham em desafios mais ousados, e os casais tímidos, mesmo um com o outro, que ainda têm vergonha de falar do que quer.
“Há casais tão fechados que é muito importante que esta informação lhes chegue da forma certa — através de um amigo ou de um artigo credível. A verdade é que a comunicação e a intimidade melhoram, porque o sexo faz parte da vida do casal, para o bem e para o mal. E este não é um negócio de sexo, é um negócio de relacionamentos”, conclui Mikaela. Abordar o tema sexo tem implicações até ao nível da publicidade. Sem possibilidade de promover o serviço em plataformas como o Facebook ou o Instagram, precisamente pelo teor sexual, o crescimento fica totalmente dependente do passa-a-palavra.
A maioria dos clientes está entre os 30 e os 40 anos e, embora homens e mulheres estejam em pé de igualdade no despique de quem é que dá o primeiro passo para receber a dita caixa, quando se trata de quem está à frente do negócio, as reações não são indiferentes ao género. “Quando percebem que a Playbox foi criada e é gerida por uma mulher, mudam completamente. Confiam mais, perdem algumas reservas que tinham inicialmente”, admite.
Mercado espanhol, uma app e casais homossexuais
Há quase seis meses no mercado, com cerca de 80 subscritores e a crescer entre 15% e 20% todos os meses, a empresa tem motivos para estar otimista. O crescimento de um negócio nesta área pode ser lento, mas os dados recolhidos junto dos clientes fazem transparecer a satisfação — 70% considera os desafios adequados e quase 80% diz que melhorou a vida sexual. A mesma fatia afirma que recomendaria o serviço, enquanto a taxa de retenção anda perto dos 90%. Isto, sem contar com o feedback não quantificável que, segundo Mikaela, envolve francas melhorias na comunicação do casal e uma plenitude na vida conjugal que até já levou clientes a suspenderem a subscrição.
Agora, o futuro depende de um novo investimento, uma ambiciosa injeção de 250.000 euros, muito superior à maquia inicial avançada pelos três sócios, algures entre os 15.000 e os 20.000 euros. O reforço destina-se, em primeiro lugar, à criação de uma aplicação própria. Por enquanto, a Playbox utiliza uma já existente para enviar os desafios aos clientes, algo que tenciona alterar nos próximos seis meses. Uma plataforma própria permitirá aperfeiçoar o diálogo com os casais, esclarecendo dúvidas com maior celeridade e, sobretudo, registando gosto e preferências para personalizar ainda mais a interação.
Aos desafios à medida de cada casal, há que somar o crescimento no que toda à inclusão. Ter caixas e desafios pensados para casais homossexuais é outra das metas, mas passará por criar um serviço de raiz e não redirecionar o já existente para relações entre pessoas do mesmo sexo. A médio prazo, o trio planeia entrar no mercado espanhol, passo que certamente trará outra escala ao negócio. Altura em que as caixas da Playbox vão deixar ter ter brinquedos para adultos para se encherem de juguetes sexuales.
Nome: Playbox
Data: 2019
Ponto de venda: loja online
Preço: 22 euros por mês (a subscrição inclui uma caixa de três em três meses e os desafios semanais e pode ser cancelada a qualquer momento)