(Artigo em atualização)

Morreu Jack Welch, o norte-americano conhecido por “gestor do século” que era filho de um maquinista e que se tornou o “chairman” e CEO da General Electric (GE). Welch tinha 84 anos e a notícia da sua morte, que aconteceu no domingo causada por falha na função renal, foi confirmada esta segunda-feira pela sua mulher, Susy, a vários órgãos americanos.

Jack Welch liderou durante duas décadas a GE aumentando o seu valor de mercado de 12 mil milhões de dólares para 410 mil milhões de dólares, quase 3000% Abandonou o cargo dias antes do atentado às Torres Gémeas, a 11 de setembro de 2001. Foi a revista Fortune que em 1999 lhe deu a distinção do melhor gestor do século pela sua performance como presidente executivo da General Electric durante 20 anos.

Tratado por Jack pelos milhares de colaboradores do gigante industrial americano, tornou-se o principal executivo da General Electric em 1981 quanto tinha 45 anos. Enquanto esteve à sua frente, a GE consolidou-se como um conglomerado da área industrial, que sob o seu comando expandiu para os serviços e setor financeiro, tendo-se destacado pelos resultados, mas também pelo retorno dado aos acionistas em dividendos e valorização acionista.

A GE tornou-se a empresa mais valiosa a seguir à Microsoft de Bill Gates, mas a exposição ao negócio financeiro acabou por ter um retorno menos feliz para os seus acionistas. “Jack Neutrão” (Neutron Jack) foi outra alcunha menos elogiosa e que aludia às reestruturações que promoveu com a eliminação de postos de trabalho.

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Portugal visto do exterior em 2006, parecia estar “em contínua degradação”

Depois de gestor, Welch prosseguiu a carreira como comentador, conferencista e consultor. Um dos canais que ajudou a lançar foi a televisão de negócios da cadeia NBC, comprada pela GE durante o seu consultado, a CNBC, onde apareceu com a regularidade

Foi já nesta sua segunda carreira que a lenda do mundo empresarial americano passou por Portugal, numa conferência promovida pelo Fórum da Competitividade em 2006, onde deixou vários avisos sobre a postura do país, das pessoas e das empresas. Numa conferência sobre “Os desafios das empresas e da economia portuguesa no contexto competitivo atual”, o gestor deixou uma imagem pouco inspiradora da forma como o pais era então visto lá fora.

“É humilhante para os portugueses a perceção que do exterior se tem de Portugal como em contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos”. Isto numa altura em que a economia portuguesa crescia, no início do primeiro mandato de José Sócrates, e ainda não tinha chegado o resgate internacional. Numa plateia onde se sentavam gestores como António Mexia, João Talone, Paulo Fernandes e Rodrigo Costa. bem como o então diretor-geral de impostos, Paulo Macedo, Jack Welch disse ainda que as empresas portuguesas eram muito estáticas e pouco abertas à experimentação. Mas também alertou para a necessidade do país ser mais otimista, cabendo ao Governo criar um ambiente favorável ao empreendedorismo e à produtividade sustentada”.

O lema: “Fix it, close it or sell it”

John Francis Welch JR nasceu em 1935 em Massachussetts de um casal de origem irlandesa. O seu pai trabalhava nos caminhos-de-ferro e o jovem Jack licenciou-se em engenharia química e entrou para a GE em 1960 para a divisão dos plásticos. Tornou-se vice-presidente em 1972 e nove anos depois foi o presidente executivo (CEO) mais jovem da empresa americana. Um dos seus lemas como gestor foi a ambição de que a GE fosse líder nos segmentos em que operasse, sintetizado na máxima: “Fix it, close it or sell it” (Se alguma operação não está a correr bem, “resolve, fecha ou vende”).

A CNBC lembra um artigo do New York Times escrito após a sua saída do cargo em que Welch foi retratado como um “revolucionário de colarinho branco” por impor a mudança radical contrariar a ordem estabelecida nos valores empresariais que trocou os princípios da estabilidade, lealdade e permanência pelos da agilidade, velocidade e regeneração.

A sua sucessão revelou-se difícil, e não só porque era difícil de substituir, mas também porque a GE teve de enfrentar a maior crise financeira, seguida de uma recessão que castigaram o braço financeiro, a GE Capital. Jeffrey Immelt que substituiu Jack Welch na viragem do milénio ainda aguentou até 2017. Desde então, a General Eletric teve mais dois presidentes executivos e viu-se envolvida em dúvidas sobre a auditoria das suas contas.

Republicano histórico, o antigo executivo era apoiante de Donald Trump, que já reagiu à sua morte.

Welch, aliás, desferiu um ataque mordaz contra Barack Obama em outubro de 2012, um mês antes das eleições presidenciais que o democrata haveria de ganhar, derrotando estrondosamente Mitt Romney.

O empresário e gestor acusou a equipa de economistas de Obama, então presidente, de “martelar” os números do desemprego. O Departamento do Trabalho tinha adiantado uma queda do desemprego abaixo da marca dos 8% em setembro de 2012, algo que não acontecia desde a Grande Recessão de 2008.

Welch recorreu ao Twitter para atacar estes dados.

O comentário deu origem uma pequena guerra nas redes sociais. Welch não virou a cara. Pelo contrário: na mesma tarde insistiu, em entrevista ao Wall Street. “Não estava a brincar”, disse o gestor.

Três casamentos e um divórcio milionário

Jack Welch casou-se três vezes. A primeira vez foi em 1959, com Carolyn Osbum, que viria a ser a mãe dos seus quatro filhos: Katherine, John, Anne e Mark.

Divorciou-se de Carolyn em 1987 e voltou a casar-se dois anos depois, com Jane Beasley, uma advogada que trabalhava para um escritório de Nova Iorque chamado Sherman and Sterling. Jack tinha 54 e Jane 37.

Em 2003 surgiram notícias na imprensa de que Jack Welch estaria envolvido numa relação com uma jornalista da CNBC, Suzy Wetlaufer. Os dois conheceram-se em outubro de 2001, quando Suzy estava a escrever uma história sobre o gestor para a Harvard Business Review.

Jack Welch meteu os papéis do divórcio, mas quatro dias antes de ir a tribunal por causa do processo, chegou a um acordo com Jane Beasley num valor estimado em 180 milhões de dólares.

Um ano depois, em 2004, acabaria por casar com Suzy Welch. Ele tinha 68 e ela 45. “Mais do que tudo o resto – líder, ícone dos negócios, génio da gestão – mais do que todas essas coisas, apesar de serem todas verdade – o Jack era uma força da natureza feita de amor. Um amor puro, brilhante, inigualável”, declarou esta segunda-feira Suzy Wetlaufer, em comunicado. Também Suzy tinha quatro filhos de um anterior matrimónio.

“Ele mudou o mundo ao tocar as pessoas, profundamente e de forma autêntica, ajudando-as a ver e a alcançar sonhos que não poderiam imaginar apenas por si sós. E, no entanto, de alguma forma, também conseguiu ser o melhor marido e padrasto que jamais viveu, dando à nossa família 20 anos fantásticos de aventuras, alegria e felicidade. Os nossos corações, muito maiores e mais cheios por o terem conhecido e amado, estão partidos”.