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Rúben e uma mudança de chip que ainda só começou na cabeça de Sporar (a crónica do Sporting-Desp. Aves)

Este artigo tem mais de 4 anos

Sporting jogou contra 9 durante muito tempo mas esteve longe de ser demolidor. Rúben Amorim, na estreia, mostrou que quer mudar muita coisa nos leões mas ainda não conseguiu chegar a toda a gente.

O avançado esloveno marcou o primeiro golo do jogo
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O avançado esloveno marcou o primeiro golo do jogo

LUSA

O avançado esloveno marcou o primeiro golo do jogo

LUSA

A estreia de Rúben Amorim como novo treinador do Sporting trazia desde logo à conversa uma curiosidade. No final de setembro, depois de substituir Leonel Pontes no pós-Marcel Keizer, Silas estreou-se no comando técnico leonino na Vila das Aves, contra o Desp. Aves. Na altura, há pouco mais de cinco meses, o Sporting ganhou com um golo de Bruno Fernandes de penálti e voltou às vitórias um mês depois do último resultado positivo. Agora, já sem Bruno, já sem Silas, Rúben Amorim estreava-se também contra o Desp. Aves. Mas em Alvalade e já sem objetivos práticos para a temporada, como se se jogasse desde já a pré-época de 2020/21.

A última semana do Sporting acabou por espelhar em toda a linha aqueles que os novos timings do futebol. Na semana passada, Rúben Amorim foi eliminado da Liga Europa pelo Glasgow Rangers na Pedreira e com o Sp. Braga e ainda foi à Madeira ganhar ao Marítimo; pelo meio, o Sporting também caiu nas competições europeias, mas com o Basaksehir, e perdeu em Famalicão num jogo que ditou a 15.ª derrota da temporada leonina. Dias depois, Amorim despediu-se dos minhotos, Silas disse adeus a Alvalade, Custódio assumiu o comando técnico do Sp. Braga e o mesmo Amorim foi apresentado em frente à porta 10A — a mesma porta 10A que Silas tinha invocado pouco antes — como novo treinador do Sporting. Tudo culminava este domingo, um domingo que também albergava uma manifestação dos adeptos leoninos contra a administração de Frederico Varandas, na receção dos leões ao Desp. Aves, o último classificado.

Ficha de jogo

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Sporting-Desp. Aves, 2-0

24.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Sporting: Maximiano, Ilori, Coates, Mathieu (Francisco Geraldes, 45′), Ristovski (Jovane, 24′), Wendel, Battaglia, Acuña (Rosier, 78′), Plata, Sporar, Vietto

Suplentes não utilizados: Diogo Sousa, Camacho, Borja, Doumbia

Treinador: Rúben Amorim

Desp. Aves: Beunardeau, Mato Milos, Buatu, Afonso Figueiredo (Yamga, 75′), Diakhite, Mangas, Luiz Fernando, Macedo, Estrela (Tshibola, 84′), Ruben Oliveira, Welington (Banjaqi, 54′)

Suplentes não utilizados: Aflalo, Pedro Delgado, Reko, Bruno Morais

Treinador: Nuno Manta Santos

Golos: Sporar (62′), Vietto (gp, 68′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Luiz Fernando (12′), a Francisco Geraldes (88′); cartão vermelho direto a Rúben Macedo (11′), por acumulação a Luiz Fernando (12′ e 20′)

Tudo isto resume-se, porém, a um número: 10. Ou melhor, 10 milhões de euros. Os 10 milhões de euros que o Sporting pagou pela equipa técnica liderada por Rúben Amorim, os 10 milhões de euros que tornaram o treinador de 35 anos o terceiro mais caro de sempre (apenas atrás de André Villas-Boas e Brendan Rodgers) e os 10 milhões de euros que motivaram críticas públicas de nomes como Luís Figo. 10 milhões de euros que são, de acordo com Frederico Varandas, um investimento claro no futuro — um futuro que passa obrigatoriamente pelas próximas temporadas e nunca pela atual.

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No primeiro jogo enquanto treinador do Sporting, cujo objetivo principal era voltar a ficar a quatro pontos do pódio e da antiga equipa, o Sp. Braga, Rúben Amorim deixava Eduardo e Pedro Mendes de fora da convocatória. Com Mathieu de regresso depois de lesão e Neto castigado, o técnico apostava numa defesa com três centrais, com Ilori e Coates ao lado do francês, e oferecia a Gonzalo Plata o lugar que tem sido de Jovane Cabral na frente de ataque. O contexto para a estreia, 10 milhões à parte, manifestações à parte, competitividade desportiva à parte, não podia ser melhor: em casa, contra o último, a meio de uma tarde de domingo em que Alvalade mais facilmente estaria bem composto.

Os primeiros minutos mostraram precisamente que Rúben Amorim tentava espelhar no Sporting aquele que foi o sistema que mais vezes usou no Sp. Braga: três centrais, aqui Ilori, Coates e Mathieu, e dois pseudo laterais muito subidos que assumiam quase todo o corredor, Ristovski e Acuña. Plata e Vietto, no ataque, estavam longe de ser extremos e atuavam muito perto de Sporar, no apoio direto à referência ofensiva leonina. A primeira ocasião mais perigosa apareceu por intermédio de Battaglia, que cabeceou por cima na sequência de um canto (6′), mas o jogo sofreu a primeira alteração relevante ao passar dos 10 minutos iniciais.

Rúben Macedo teve uma entrada muito forte sobre Wendel, Manuel Oliveira começou por mostrar o cartão amarelo ao médio do Desp. Aves mas mudou de ideias depois de ser chamado pelo VAR para analisar as imagens. Macedo viu vermelho direto e a equipa de Nuno Manta Santos ficou reduzida a 10 elementos ainda no começo da partida — mas era só o início. Cerca de dez minutos depois, Luiz Fernando, que tinha visto amarelo por protestos no lance de Rúben Macedo, agarrou Wendel quando o brasileiro já corria para o contra-ataque e foi expulso por acumulação de cartões. Aos 20 minutos de jogo, o Desp. Aves jogava em Alvalade com apenas nove elementos.

Rúben Amorim reagiu à dupla expulsão na equipa do Desp. Aves ao arriscar, tirando Ristovski para lançar um mais ofensivo Jovane — o lateral macedónio, surpreendido pela substituição, saiu diretamente para o balneário e nem pediu satisfações ao novo treinador leonino. De forma absolutamente natural, o Desp. Aves recuou por completo no relvado e fechou-se no próprio meio-campo, com todos os jogadores atrás da linha da bola e a formar uma quase muralha que tentava servir de tampão às investidas adversárias. Sporar teve duas oportunidades para abrir o marcador, incluindo uma ocasião em que ficou na cara do guarda-redes Beunardeau, mas o primeiro remate enquadrado só apareceu já nos últimos dez minutos antes do intervalo, por intermédio de Battaglia (37′).

O Desp. Aves até poderia ter marcado, beneficiando de um lance em que Maximiano arriscou em demasia, Vietto acertou com estrondo na trave já nos descontos (45+1′) mas o jogo foi mesmo para o intervalo sem golos. A jogar contra o último, a jogar contra nove e a jogar em casa, o Sporting mostrava muitas dificuldades para surpreender a defensiva avense e tinha uma gritante escassez de criatividade: apesar do absoluto controlo, a bola circulava muito devagar, sempre mais pelas vias laterais do que pela faixa central, não existiam movimentos de rotura e, de forma mais do que atípica, os leões causavam sempre mais perigo de bola parada do que de bola corrida.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Sporting-Desp. Aves:]

Na segunda parte, Rúben Amorim voltou a colocar mais fichas na mesa e tirou Mathieu para lançar Francisco Geraldes, ficando Battaglia na posição que era ocupada pelo francês na defesa. As dificuldades do Sporting, porém, mantinham-se: os leões tinham quase a totalidade da posse de bola mas só conseguiam trocá-la nas imediações da grande área do Desp. Aves, com poucas desmarcações e sem forma de romper a proximidade dos elementos da equipa de Nuno Manta Santos. A tranquilidade dos jogadores leoninos ia diminuindo, até porque a exigência das bancadas de Alvalade se tornava cada vez maior à medida que os minutos passavam, e a ansiedade começava a preocupar Rúben Amorim, que passou o jogo sempre muito sério no banco de suplentes.

O golo, o tão procurado golo, acabou por surgir já depois da hora de jogo. Acuña abriu muito bem da faixa central para a esquerda, Wendel recebeu e tirou um bom cruzamento e Sporar, mais alto do que todos os outros, cabeceou para abrir o marcador (62′). O lance do golo do avançado esloveno acabou por ser o culminar daquela que parecia ser a estratégia do Sporting para a partida — lances do meio para a ala, um cruzamento tenso e a busca por um cabeceamento. Um pensamento que difere do ADN leonino, pelo menos ao que esta temporada diz respeito, mas que teve sucesso com Sporar. Apenas cinco minutos depois, Vietto converteu uma grande penalidade cometida por Afonso Figueiredo (68′), que intercetou com o braço um cruzamento de Jovane, e o Sporting resolveu uma partida que não estava propriamente fácil em escassos momentos.

Até ao fim, Rúben Amorim ainda tirou Acuña para lançar Rosier, passando Jovane para o lado esquerdo da defesa, e Alvalade assistiu a vários pedidos de demissão de Frederico Varandas, que vinham da zona onde ficam as claques leoninas e que surgiam principalmente quando o estádio estava quase em silêncio, como durante as substituições do Desp. Aves. Manuel Oliveira optou, numa decisão sensata, por terminar o jogo sem necessidade de tempo extra e a partida acabou com a confirmação da vitória do Sporting.

Os leões voltaram às vitórias, carimbaram mais três pontos e aproximaram-se novamente do pódio e do Sp. Braga. Na estreia de Rúben Amorim, o novo treinador leonino acabou por conseguir vencer um jogo muito marcado pelas duas expulsões na primeira parte mas que também se dificultou por isso mesmo, com o Desp. Aves a demonstrar uma resistência inesperada e a cortar os caminhos para a própria baliza, principalmente através do quebrar do ritmo da partida. Amorim chegou, impôs uma estratégia de três centrais e mostrou nitidamente que quer empreender uma mudança de chip na equipa: uma mudança de chip que, por agora, ainda só chegou à cabeça de Sporar e ao golo que desbloqueou o jogo.

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