14 de abril. De acordo com os modelos matemáticos consultados pelos especialistas, será esse o dia em que os casos de infeção pelo novo coronavírus atingirão o seu pico em Portugal, revelou este sábado Marta Temido, na habitual conferência de imprensa conjunta com a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas.

“De acordo com a evolução do número de casos Covid-19 em Portugal e com as estimativas epidemiológicas estima-se que a data prevista para a ocorrência do pico da curva se situe à volta do dia 14 de abril.”

De acordo com a ministra da Saúde, fruto das várias medidas de contenção do surto tomadas entretanto, será visível um “abrandamento da inclinação da curva” — este sábado o número de casos confirmados em relação ao dia anterior aumentou 25,5%, o valor mais baixo dos últimos dias; são já 1280 os infetados e 12 as mortes registadas no País.

Questionada sobre este último número, Graça Freitas respondeu que a taxa de mortalidade associada em Portugal ao novo coronavírus, de “cerca de 1%”, até “está aquém dos valores registados noutros países”, mas que isso poderá mudar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ainda pode acontecer que alguns destes doentes venham a morrer. Temos de ser cautelosos, e de aguardar, sabemos que esta é uma doença de evolução longa”, avisou a diretora-geral de Saúde.

A partir da próxima semana, anunciou Marta Temido, haverá uma nova abordagem ao doente com Covid-19. O modelo, que “pretende agilizar e reforçar a possibilidade” de mais doentes serem tratados e seguidos no domicílio, já está a ser comunicado aos profissionais de saúde mas só vai começar a ser aplicado a partir de quinta-feira, para que os serviços possam adaptar-se e para que seja possível reunir mais equipamentos de proteção e testes.

Sobre a questão dos testes de diagnóstico, Graça Freitas explicou que, neste momento, estão a ser realizados entre 1400 e 1500 por dia, mas que é expectável que esse número suba, juntamente com o número de casos confirmados. “Se virem pelo boletim, 1.059 aguardam resultado e 260 deram positivo [de ontem para hoje], o que dá um valor mínimo aproximado de pelo menos 1400 testes”, exemplificou. “À medida que a epidemia cresce este valor vai aumentar, tem aumentado todos os dias”.

[O essencial da conferência de imprensa:]

Preparada para essa necessidade, Marta Temido avançou que o Governo está a trabalhar nesse sentido, através do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, e revelou que o Serviço Nacional de Saúde tem neste momento um stock que permite a realização de 9 mil testes — a que se somam cerca de 17 mil testes mais, disponíveis no setor privado. Para além disso, acrescentou, estão ainda a ser feitos contactos com empresas e fornecedores para comprar mais kits: “Deveremos adquirir uma quantidade significativa que nos permita maior fôlego”.

A ministra confirmou ainda que existe uma nova orientação para que os profissionais de saúde sejam um “grupo prioritário” para a realização de testes, num esforço para que estejam “em segurança” e “tranquilos para o trabalho que têm de fazer”. E, no mesmo sentido, revelou que nas próximas horas será publicada uma nova norma, desta vez sobre o uso de máscaras.

“É importante que se perceba que os bens de proteção individual são um bem escasso”, disse a ministra, lembrando que as doenças não se transmitem por “olharmos uns para os outros”. “Compreendo a ansiedade de quem trabalha nos mais variados setores – lojas, farmácias, indústrias – em usar uma máscara mas temos de perceber que temos um número limitado de máscaras”, reforçou.

Esta sexta-feira, dia 20 de março, concretizou Marta Temido, havia mais de 2 milhões de máscaras tipo 2 em stock e pelo menos duas entregas programadas, “uma no dia 23, outra dia 30”.

“O que estamos a fazer é garantir que tudo aquilo que é capacidade de aquisição é concretizada, que a reserva estratégica não tem baixas, que a distribuição para as instituições do SNS é feita por articulação com a ARS competente e o Infarmed.”

Questionada sobre se existe algum arrependimento em relação às medidas que foram sendo tomadas, nomeadamente no Norte do País, onde surgiram os primeiros focos de propagação e onde há 644 casos registados e 4 mortes, a ministra da Saúde respondeu que “ao longo daquele que tem sido o combate ao surto, todos temos feito uma aprendizagem. Temos sempre seguido as orientações da OMS, temos olhado para os outros países”.

“Arrependimento é algo que… podemos sempre olhar para trás e pensar que aqui ou ali podíamos ter feito de uma forma diferente. Fizemos sempre aquilo que eram as orientações existentes a cada momento, por parte dos técnicos e das autoridades de saúde”, reforçou a ministra, garantindo que as autoridades têm lidado com o surto de forma “exemplar”.

Graça Freitas não disse menos: “Os hospitais e as equipas de saúde pública trabalharam brilhantemente no Norte e no Centro”.