Suspenderam as adoções, as ações de resgate e de esterilização e, perante a pandemia, associações de proteção e abrigo de animais avizinham agora um cenário “inevitável” de redução de donativos, aumento de abandonos e nascimento de ninhadas vadias.

À semelhança de tantas outras atividades em Portugal, também as associações de proteção e abrigo de animais decidiram fechar portas. Contudo, por entre grades e dispersos em colónias selvagens, os animais permanecem, todos os dias, à espera dos voluntários.

Ana Ceriz, presidente da Associação CãoViver, na Maia, monitoriza uma equipa de 36 voluntários. Por forma a salvaguardá-los do surto de Covid-19, reduziu a equipa a 10 elementos que, por estes dias, se vão “revezando”.

A seu encargo, Ana Ceriz tem 60 animais, entre eles, oito bebés, e vê-se agora impossibilitada de participar nas “habituais” campanhas de sensibilização em escolas e lares. Mas não só. Vê-se também impossibilitada de continuar ou iniciar processos de adoção.

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“Neste momento, está tudo suspenso. Recebíamos, regularmente, imensos grupos de empresas, escolas e faculdades e tivemos de parar tudo”, contou.

Da mesma forma que recebia a visita de inúmeros grupos, recebia também, regularmente, donativos. Mas, quando fechou portas, “a conta bancária da associação ficou a zeros”.

“Acho que não é por mal, mas as pessoas pararam de nos ajudar. Tínhamos donativos regulares, mas quando fechamos, a conta da associação ficou a zeros. Nunca tivemos tantos dias, cerca de 13, sem entrarem donativos”, admitiu Ana Ceriz, confessando que a manter-se a situação, a gestão da associação vai tornar-se “difícil”.

“Dependemos totalmente da sociedade, o que é grave porque, neste momento, e de forma compreensível, as pessoas estão assustadas, não sabem como vai ser o dia de amanhã, não sabem se vão ter dinheiro para elas, quanto mais para ajudarem as associações”, confidenciou.

Ana Ceriz vai continuar, juntamente com a sua equipa de voluntários, a tratar dos animais, mas sabe que a associação “não consegue viver” sem apoios, nem campanhas de sensibilização.

Maria Pinto Teixeira preside a Associação Animais de Rua, fundada em 2005 com o propósito de fazer o “controlo populacional de animais errantes [vadios]”.

A associação, que trabalha em parceria com 19 municípios de norte a sul do país e já esterilizou mais de 30 mil gatos, avizinha agora um cenário “desastroso”.

A redução para os serviços mínimos dos gabinetes médico-veterinários municipais e clínicas privadas com quem trabalham, coincidiu com época de cio das centenas de colónias que controlam.

“Temos inúmeras fêmeas que estão prenhas e que vão acabar por ter as ninhadas porque nós tivemos de suspender as atividades de captura no terreno, o que vai ter consequências desastrosas”, explicou Maria Pinto Teixeira.

No terreno, Maria e os voluntários da associação continuam apenas a alimentar as colónias de gatos, mas, desde que a pandemia assolou Portugal já sinalizaram “15 animais domésticos” que foram abandonados naqueles locais.

“As pessoas estão em pânico e abandonam gatos domésticos nas colónias, pensando que, como são pontos de alimentação controlados, que os animais ficam protegidos. Mas não ficam, os gatos domésticos não estão preparados para viver na rua e não têm qualquer meio de providência”, sustentou.

Apesar de continuar a alertar as pessoas para o facto de os animais não serem transmissores de Covid-19, Maria prevê um cenário “dramático” para os próximos tempos com o número de abandonos e nascimentos a aumentar.

À semelhança de Maria, também Catarina Almeida, presidente da Associação Causas de Caudas, sediada no Porto, considera que estão “reunidas as condições para a tempestade perfeita”.

“A incerteza quanto à data em que vamos poder retomar as capturas determina, desde logo, o inevitável nascimento de imensas ninhadas”, afirmou, adiantando que também para a associação as consequências vão ser “negativas”.

“Muitos dos esforços e recursos empregados no trabalho já desenvolvido considerar-se-ão, para todos os efeitos, desperdiçados, uma vez que iremos ser confrontados com imensas situações de começar do zero”, admitiu.

Além do aumento do número de colónias, Catarina Almeida teme ainda que “o abandono de animais aumente em grande número”.

Conscientes do cenário “inevitável” que vão enfrentar, as associações tentam, no entanto, minimizar alguns danos, ajudando os donos de animais de companhia, cuja situação económica ainda que difícil, pelas consequências da pandemia, foi agudizada.