Apesar de o Governo já ter explicado, Luís Marques Mendes considera que “devia explicar melhor” a decisão de libertar 1.200 presos das cadeias portuguesas na sequência da epidemia do novo coronavírus. Considerando que, de facto, “tinha de ser feito alguma coisa nas prisões” e admitindo que compreende a medida tomada, o comentador alertou, contudo, para a necessidade de prestar novos esclarecimentos para que se evite três males: “Alarme, populismos políticos e revoltas dentro do sistema prisional”.
Esta foi a única crítica que Marques Mendes dirigiu durante o seu habitual comentário na SIC ao Executivo de António Costa, que disse ter agido bem “nas medidas que anunciou ao país”, algumas delas “duras, mas necessárias”, sobretudo nesta altura da Páscoa, um “período de tentações”. Na opinião do comentador, o Presidente da República “agiu” igualmente “bem” ao decidir promulgar o estado de emergência e também pela comunicação “realista”, mas esperançosa, que fez ao país.
De igual modo, também estiveram bem “aqueles que reconheceram que o estado de emergência foi bom”, depois de, há 15 dias, terem dito que não era assim tão necessário, apontou Marques Mendes.
Sobre as opiniões divergentes sobre o uso de máscara para ajudar a prevenir a contaminação por Covid-19, Marques Mendes chamou a atenção para, neste domingo, “outro organismo”, o Conselho de Escolas Médicas, ter dito exatamente o contrário do que tem sido afirmado pela Direção-Geral de Saúde (DGS), ao defender o uso generalizado de máscara por parte da população como medida de controlo da transmissão de infeções respiratórias, reduzindo o risco de contágio.
“Não sou especialista e não vou dar palpites — seria um abuso —, mas recomendava uma coisa: estes dois organismos mais um terceiro ou um quarto, deviam reunir, discutir, chegar a conclusões e dar uma orientação clara”, apelou o comentador na SIC.
Governo de salvação nacional: “Acho que não é uma boa solução para a democracia”
Esta semana, Rui Rio mostrou-se disponível para formar um governo de salvação nacional. “Mas que governo é esse? Ninguém sabe”, apontou Marques Mendes, acrescentando que a sugestão “pode soar bem, mas tem pouco conteúdo”. Apontando que esse governo só poderia ser de Bloco Central, o comentador disse que, “sinceramente”, isso não lhe parece “uma boa solução”. “Acho que não vai acontecer e acho que não é uma boa solução para a democracia”, afirmou.
As razões são várias: primeiro, as divergências internadas de PS e PSD, iam fazer-se sentir dentro do Governo; depois, “se os dois partidos centrais do regime estiverem juntos no Governo, quem é que faz oposição? Os extremos. Haveria um risco de crescimento exponencial do Chega e do Bloco de Esquerda”. “Acho que isso seria perigoso para a democracia”, apontou. Além disso, “um Bloco Central acabava com a ideia de alternativa. Se os dois principais partidos estão de mão dada, juntos dentro do Governo, acaba a alternativa”, frisou.
Na opinião de Marques Mendes existe, no entanto, um problema que se vai colocar no futuro, que é o da aprovação dos orçamentos, de Estado e retificados.
“PS e PSD terão de fazer um esforço para se entenderem. Isso é do interesse nacional e deve estar acima de tudo. Não precisam de estar juntos no Governo para aprovarem orçamentos”, concluiu.
Eurogrupo está “atarantado” e “incapaz de tomar uma decisão de grupo”
No comentário deste domingo na SIC, Marques Mendes abordou ainda a reunião do Eurogrupo da próxima terça-feira, onde se procurará encontrar uma nova linha de defesa contra os efeitos do novo coronavírus na economia. Na opinião do comentador, o Eurogrupo, “atarantado e incapaz de tomar uma decisão de fundo”, provavelmente não conseguirá fazer muito mais além do que tem sido feito.
“Ou não haverá decisões ou haverá decisões que são um pouco mais do mesmo”, que passarão pela utilização de “meios tradicionais” para lidar com uma situação que é de exceção, afirmou Marques Mendes. Trata-se, de certa forma, de “receitar aspirinas para uma doença grave que precisa de um antibiótico”, frisou.
O comentador apontou ainda a “falta de visão política e estratégica de alguns dirigentes europeus”. “Alguns deles estão felizes porque estão em alta nas sondagens, mas se não tomarem decisões de fundo, vão cair que nem todos nas eleições”, afirmou, acrescentado que poderá ainda acontecer uma “coisa perigosíssima” se os líderes não souberem reagir: “Com a crise económica que aí vem, o populismo pode subir, ganhar eleições e influenciar cada vez mais os governos. Gostava que os líderes europeus pensassem nisto antes que seja tarde de mais”, apelou.