A cidade chinesa de Wuhan, onde teve origem o primeiro surto do novo coronavírus, reabriu oficialmente esta quarta-feira, permitindo aos residentes saírem, desde que comprovem estar saudáveis. O fim do lockdown acontece depois de 11 semanas em que a cidade da província de Hubei esteve totalmente selada face ao mundo exterior.
A Associated Press dá conta de que os primeiros comboios partiram esta manhã. O The New York Times acrescenta que a empresa ferroviária nacional estima que mais de 55 mil pessoas irão sair da cidade — onde vivem 11 milhões — de comboio ao longo da manhã. O mesmo jornal garante que ao início da manhã já se registavam filas nas portagens rodoviárias dos limites da cidade.
A decisão de levantar o cerco foi tomada depois de se terem registado três semanas com apenas três novos casos em Wuhan. Ao todo, a cidade chinesa registou 50 mil casos de infeção por Covid-19. Mais de 2.500 pessoas morreram e, segundo o South China Morning Post, há ainda 500 internados.
O fim oficial do bloqueio tem um significado político importante ao permitir ao regime chinês declarar vitória na luta contra o surto, que começou no país, numa altura em que a Europa e os Estados Unidos são os novos centros da doença.
Em editorial, no entanto, o jornal do Partido Comunista Chinês alertou para comemorações prematuras. “Este dia, esperado há muito, será naturalmente celebrado pelas pessoas. Porém, não se trata da vitória final”, nota o Diário do Povo. “Temos que nos lembrar de que, apesar de satisfeitos com o fim do bloqueio, não podemos relaxar”.
O regresso à normalidade, mas com uma app que tudo sabe
Para Rui Severino, um português que recusou abandonar Wuhan durante o período de isolamento, apesar da oferta de repatriamento por Portugal, o fim do bloqueio constitui uma motivação para o futuro. “É um sentimento de grande alívio”, conta à agência Lusa o treinador de cavalos de corrida. “Já podemos ver a luz ao fundo do túnel”, diz.
Severino conta que, “sobretudo para pessoas que têm crianças pequenas [o período de bloqueio] foi bastante desgastante”, pelo que se “nota agora um grande alívio por poderem sair à rua”.
O regresso à normalidade no ponto original da pandemia, porém, ainda irá demorar. As escolas continuam fechadas e a recomendação à população é para que fique em casa, se possível. As saídas à rua só são possíveis mediante a apresentação de uma avaliação positiva numa app aprovada pelo governo, que classifica o risco de contágio de cada pessoa, avaliado em verde, amarelo e vermelho. Apenas os cidadãos que apresentem verde podem circular.
A aplicação, contudo, levanta dúvidas quanto à sua eficácia e há suspeitas de que possa vir a ser utilizada pelas autoridades chinesas como uma forma de vigilância aos seus cidadãos em outras áreas para lá da Covid-19. Esta terça-feira, por exemplo, o South China Morning Post apresetava o caso de um homem que fez um período de isolamento de 28 dias, que está totalmente saudável, mas que continua a ter a cor vermelha na sua app, estando impedido de circular. “Em teoria, deveria já ser verde a esta altura. Sem isso, não posso ir a lado nenhum”, afirmou ao mesmo jornal.