Começou como um rumor, chegou aos programas televisivos, foi falado por algumas personalidades ligadas ao desporto, acabou confirmado pelo próprio. Quando as eleições à liderança da Real Federação Espanhola de Futebol parecia tomar um caminho pela estrada política, com o antigo primeiro-ministro Mariano Rajoy a surgir como uma forte possibilidade na corrida e o ex-líder do Ciudadanos, Albert Rivera, a aparecer na sua sombra, Iker Casillas apresentou-se oficialmente na luta contra Luis Rubiales, o atual presidente. E foi o único. No entanto, as coisas não começaram a correr da melhor forma para o guarda-redes do FC Porto (que não se “reformou” oficialmente).
Tendo em conta o calendário que tinha a breve prazo a fase final do Campeonato da Europa, os Jogos Olímpicos e o arranque da qualificação para o Mundial, o Conselho Superior dos Desportos de Espanha anunciou que aceitara o pedido de antecipação do sufrágio feito por Rubiales para a segunda semana de junho. Casillas sabia que isso ia jogar contra si, pela falta de tempo. Depois, a pandemia parou Espanha. E agora há um novo dado que pode dar outro fôlego ao antigo guardião do Real Madrid numa corrida que parecia quase perdida.
Luis Rubiales, de 42 anos (apenas quatro anos mais novo que Casillas), fez também uma carreira no futebol em Espanha, passou até nas camadas jovens do Valencia e do Atl. Madrid mas jogou sobretudo em clubes da Segunda Liga como o Guadix, o Lleida, o Zerez, o Levante ou o Alicante, antes de terminar a carreira com um par de jogos no modesto conjunto escocês do Hamilton Academical. Fechou-se um ciclo na vida do Pundonor, como também era conhecido o defesa para coragem com que se entregava ao jogo, abriu-se outro logo um ano depois, em 2010, quando foi eleito para a liderança da Associação de Jogadores de Futebol. Daí, foi para a Federação.
Logo no discurso de triunfo, em maio de 2018, Rubiales, que derrotou então Juan Luis Larrea (interino que ficara na posição após a queda abrupta do todo poderoso Ángel Villar), anunciou que iria trabalhar por “uma Federação para todos”. Menos de dois anos depois, com mais ou menos “culpa”, vai somando conflitos atrás de conflitos.
Começou logo um mês depois, quando decidiu despedir o treinador Julen Lopetegui e “promover” ao banco o então diretor Fernando Hierro (que umas semanas depois iria também sair da esfera que antes ocupava) na véspera da estreia da Espanha no Mundial da Rússia frente a Portugal ao saber que o ex-técnico do FC Porto tinha contrato assinado com o Real Madrid. Ainda na parte técnica, foi muito criticado pela forma como liderou o processo de regresso de Luis Enrique à Roja, após a saída por motivos pessoais que deixou o então número 2 Robert Moreno no comando antes de um divórcio com muita polémica e acusações à mistura.
Lopetegui despedido da seleção espanhola depois de anúncio de saída para o Real Madrid
Não foram os únicos casos da liderança, entre a “guerra” que ganhou para levar a Supertaça de Espanha para a Arábia Saudita, o constante clima de tensão com o presidente da Liga, Javier Tebas, as polémicas com a Mediapro ou a RTVE devido às transmissões televisivas ou outros processos pessoais, como a acusação de desvio de fundos da Casa do Futebolista da Associação de Jogadores de Espanha ou uma outra denúncia por agressão da arquiteta que projetou obras na sua residência em Valência, processos entre 2015 e 2017. Agora surge novo foco.
Segundo o ABC, Luis Rubiales e o braço direito na Federação, o secretário geral Andreu Camps, estarão acusados de falsificação de documentos públicos e terão de ir a tribunal no próximo dia 21 de maio, tendo ainda a magistrada do Juízo de Instrução número 10 de Madrid pedido a ata oficial da Assembleia Geral Extraordinária da Federação realizada a 16 de dezembro e a comunicação feita antes ao Conselho Superior de Desportos. Motivo? De acordo com a acusação, terá havido uma modificação na missiva que foi enviada e que dizia que essa AG aprovara a introdução de 19 membros escolhidos pela Federação a que se juntavam mais 120 eleitos não correspondia ao conteúdo da reunião, onde nem sequer terá sido discutida a situação. Por outras dúvidas legais, a intenção acabou por não avançar mas o atual presidente do órgão terá na mesma de responder à acusação que é feita.