O Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga (CHEDV), em Santa Maria da Feira, transfere esta segunda-feira o seu hospital-de-dia de oncologia para uma clínica privada, para garantir maior segurança aos doentes e libertar mais 25 camas para várias patologias.

Em declarações à Lusa, o presidente do conselho de administração dos três hospitais, Miguel Paiva, sustenta que a transferência dos tratamentos de cancro tem por base as orientações da própria Direção-Geral da Saúde para fazer face à pandemia de covid-19.

A medida é temporária e deve-se ao facto de esse centro médico e de investigação privado, localizado a cerca de dois quilómetros de distância do Hospital São Sebastião, poder assegurar maior isolamento profilático às sessões de quimioterapia e a outros tratamentos oncológicos que estão indisponíveis nos hospitais de Oliveira de Azeméis e São João da Madeira, apesar de esses também integrarem o CHEDV – num universo de 350.000 utentes de sete municípios no Norte do distrito de Aveiro.

“A incidência do surto na nossa região tem sido muito elevada, o que nos obrigou a um enorme esforço de reorganização de toda a infraestrutura hospitalar. Somos, por exemplo, o quinto hospital do Serviço Nacional de Saúde com maior número de camas de cuidados intensivos e tivemos de preparar o Hospital São Sebastião para tratar doentes em cinco dos seus nove pisos”, declara o administrador.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esse responsável cita, aliás, a Norma Nº. 9/2020, para referir que, no presente contexto, as unidades que tratam doentes com cancro devem ser “isoladas daquelas que prestam cuidados assistenciais a doentes não-oncológicos para minimizar o risco de infeção cruzada” e também “reorganizadas para permitir uma diminuição do número de vezes que o doente oncológico se desloca” ao hospital.

Procurando que isso se verifique “sem comprometer a segurança clínica” de nenhum utente, esteja ele diagnosticado com cancro ou com outra doença, o administrador do CHEDV já transferiu para o centro médico privado Lenitudes os equipamentos e materiais médicos necessários para tratar cerca de 30 doentes que vinham sendo acompanhados no São Sebastião, deslocalizando também a equipa médica que lhes estava associada.

É por esse motivo que, embora sem referir valores, Miguel Paiva afirma que o CHEDV só terá que assumir os encargos “com a cedência de instalações” por parte do centro Lenitudes, uma vez que os recursos técnicos e humanos para viabilizar os tratamentos continuam a ser os do próprio hospital da Feira.

“O espaço em que os nossos profissionais continuarão a tratar os doentes do CHEDV será totalmente autónomo, estando separado da restante atividade do Lenitudes. Não haverá cruzamento de profissionais nem de utentes das duas instituições, pelo que poderemos oferecer aos nossos doentes melhores condições de segurança, uma vez que esses ficarão completamente isolados dos muitos portadores da infeção por SARS-CoV-2 que o CHEDV está a tratar”, diz o administrador.

Há outro aspeto de ordem técnica que Miguel Paiva realça como importante na concretização do presente acordo: “É a existência de uma câmara de fluxo laminar no centro Lenitudes, o que permite que continuemos a ter condições de preparar os medicamentos de quimioterapia para os nossos doentes, fazendo-o com total segurança na proximidade do local onde os mesmos serão administrados”.

Quanto às 25 camas libertadas por essa reorganização, vão reforçar a capacidade de internamento do São Sebastião, que atualmente já tem hospitalizados 80 infetados pelo vírus SARS-CoV-2 e está apto a aumentar essa lotação até 120, pelo que, na prática, poderá gerir até 145 internamentos em simultâneo.

Miguel Paiva antecipa, contudo, que, desse total, as últimas 25 camas devam destinar-se a outras patologias que não a covid-19, uma vez que já se está a notar no CHEDV um aumento de casos cuja urgência se agravou recentemente devido ao receio dos utentes em procurarem ajuda hospitalar durante a pandemia, para não arriscarem o contágio pelo novo coronavírus.

O Bloco de Esquerda pediu hoje explicações ao Governo sobre esta transferência, através de uma pergunta dirigida à ministra da Saúde, questionando os fundamentos da decisão.

Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados se registaram a 02 de março, o último balanço da Direção-Geral da Saúde (DGS) indicava 714 óbitos entre 20.206 infeções confirmadas. Entre esses doentes, 1.243 estão internados em hospitais, 610 já recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.

Em Santa Maria da Feira especificamente, a DGS registava hoje 338 infetados entre os mais de 139.000 habitantes do concelho, sendo que a 09 de abril já a autarquia aí contabilizava seis óbitos provocados pelo SARS-CoV-2.