Depois de ouvir falar durante meses dos problemas provocados pelo coronavírus, bem como da facilidade de contágio da Covid-19, não vai ser fácil regressar em força aos antigos hábitos, por mais máscaras e luvas que possamos usar. A população está com receio e os condutores não são excepção, mas há práticas que foram abandonadas e que agora têm de forçosamente regressar, como ir à oficina fazer revisões ou mudar o óleo.
Numa curta sondagem por meia dúzia de marcas com representação no nosso país, foi fácil constatar que “o mal é geral”. Audi, Toyota e Seat avançaram que, “em média, o número de clientes que visitaram as oficinas dos concessionários caiu 70%”. Desde que a pandemia passou a ditar as leis, neste caso quase literalmente, à oficina só vão os carros que estão avariados ou a necessitar de reparações que não podiam esperar mais.
Esta suspensão no tempo a nível da assistência automóvel, tanto mais que o número de quilómetros percorridos nas últimas semanas deverá ter sido o mais reduzido da história, provocou necessários atrasos nas atenções que somos forçados a dedicar aos nossos veículos. Daí que, quando o Governo levantar (parcialmente ou na totalidade) o estado de emergência, muitos automobilistas deverão rumar ao mecânico. Porém, fá-lo-ão provavelmente com o mesmo temor com que se passará a ir ao barbeiro ou cabeleireiro, isto é, pensando se “será desta que eu vou sair daqui infectado”.
A partir de Maio, quando se verificarem as enchentes que muitos esperam, as oficinas têm de não só garantir a saúde dos mecânicos, assegurando que não serão infectados ao manusear o carro de condutores contaminados, como têm de assegurar que os seus clientes, além de sair da oficina com pneus novos, uns filtros e um óleo a estrear, não levam para casa um coronavírus que não pediram e que durante semanas tentaram evitar.
Como proceder para evitar infecções
É difícil prever que tipo de serviço e de cuidados uma oficina pequena pode prestar aos seus clientes, a menos que se conheça – e se tenha confiança – em quem manda. Mas as oficinas oficiais, aqueles integradas na rede de concessionários da marca, estão obrigadas a manter um nível de serviços e de cuidados que é controlado pelo próprio fabricante. É claro que pode sempre alguma coisa correr mal, mas a probabilidade de correr bem é muito maior.
A Mercedes garante, que depois de Maio, “continuará a revestir os bancos e o volante com capas plásticas”, protegendo igualmente os mecânicos, para depois, quando a intervenção estiver terminada e à vista do cliente (ou quase), todo o interior ser devidamente desinfectado. O método passa pela utilização de um produto de limpeza próprio para o efeito, que tem por base álcool a mais de 60%, com que o garante que o vírus não resiste. E nos casos em que o cliente pede a entrega em casa ou no escritório, a operação volta a ser realizada no momento da entrega, com especial atenção para as áreas em que os clientes podem tocar.
A Audi, rival directa da Mercedes, adopta o mesmo standard de serviço, limpando pormenorizadamente todos os locais, os mais visíveis e os menos, onde o cliente pode vir a tocar. E também a Toyota diz praticar o mesmo tipo de cuidados, para garantir que, na eventualidade de um técnico estar infectado, o vírus não chega vivo ao cliente. Que certamente agradecerá a atenção. Contudo, a Audi, como todas as marcas da SIVA, está a estudar uma solução – que na SIVA deverá começar a ser implementada pela Volkswagen – para elevar o patamar da segurança anti-coronavírus.
O truque está no ozono
Limpar o habitáculo com produtos à base de álcool a pelo menos 60% é a solução mais vulgar de desinfecção, podendo ser mais ou menos eficaz consoante o empenho do operário. Mas há outras soluções que garantem que o vírus tem muito menos hipóteses de sobreviver, com uma maior sofisticação tecnológica. Estamos a referir-nos às radiações ultravioletas, através de lâmpadas especiais, mais eficazes em veículos com maior volume interior, tipo autocarro, ou os geradores de ozono. Sendo que estes parecem adaptar-se melhor aos inúmeros interstícios que caracterizam um automóvel moderno.
Das marcas contactadas, a primeira a decidir avançar com esta solução foi a Seat. Na ânsia de tranquilizar os seus clientes, bem como os seus funcionários, o construtor espanhol propôs-se equipar a rede de oficinas com estes equipamentos de desinfecção. Curiosamente, a ideia não partiu da sede, nem sequer do Grupo Volkswagen, mas sim dos responsáveis da Seat Portugal. E a solução parece ter tanto potencial que até a Siva, que representa entre nós as restantes marcas do conglomerado germânico, se interessou em adoptar um protocolo similar, recorrendo ao mesmo fornecedor de geradores de ozono industriais. Veja aqui como funciona um gerador de ozono:
https://www.youtube.com/watch?v=UpF8NNXaP_g
Como funciona o gerador de ozono?
A utilização de geradores de ozono em automóveis, bem como em casas e escritórios, está longe de ser uma novidade. Contudo, até agora a tónica sempre foi colocada na sua capacidade de anular maus cheiros e purificar o ar. Só que com o SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) de 2002, o MERS (Síndroma Respiratória do Médio Oriente) de 2012 e agora o Coronavírus de 2019, o mundo passou a ver com outros olhos a outra “habilidade” de que o ozono é capaz.
Um gerador de ozono aspira o ar da sala ou do carro em que o equipamento for colocado e, através de descargas eléctricas – recorrendo assim ao mesmo princípio dos raios –, converte as moléculas de oxigénio em ozono, ou seja O3. Esta é uma molécula pequena, mas extremamente instável, o que a leva a interagir com tudo o que apanha pela frente. Daí que destrua tudo, de fungos a bolor, passando pelas bactérias e os vírus. O coronavírus é ainda uma novidade, mas resultados provam que não resiste ao ozono, à semelhança do que já acontecia com outros vírus da mesma família, como o SARS e o MERS. O director do pós-venda da Seat Portugal, Eduardo Urbina Martin, sublinha que há muitos equipamentos que fabricam ozono, mas a marca tem de ter garantias do seu funcionamento, pelo que sondou o mercado e optou por um equipamento com um custo aproximado de um milhar de euros, em vez dos 100€ a partir dos quais já se conseguem adquirir sistemas com capacidade de produção inferior na Amazon.
“A nossa opção recaiu num gerador fabricado na Europa, e não na China, com todo o tipo de certificações ISO de que necessitamos, além de garantir uma produção de 5g de ozono por hora”, explica Urbina Martin. “Só assim conseguimos garantir que desinfectamos por completo um automóvel de dimensões médias em 4 minutos”, conclui o técnico da marca espanhola.
Deixe o ozono para os profissionais
Já lhe dissemos que a molécula O3 do ozono é instável e, à excepção de partículas de fumo e pólen, consegue desfazer (no sentido das ligações entre os átomos) tudo o que apanha pela frente. Isto permite-lhe matar pequenos animais e, se estiver presente em grandes concentrações, reage com os olhos, pele, pulmões e qualquer área exposta de um ser humano.
Este nível de perigosidade leva a que, idealmente, seja conveniente deixar este tipo de equipamento para os profissionais. Mas, caso decida avançar para a compra de um destes equipamentos, tente escolher um que seja certificado por uma entidade respeitável. É mais caro, mas depois sai mais barato, ao evitar problemas de saúde.
Acima de tudo, nunca esteja presente na sala ou no carro onde o gerador esteja em funcionamento. É certo que ele anula os cheiros desagradáveis, além dos vírus, deixando no ar um cheiro agradável a fresco, mas não se deixe enganar pois há uma série de órgãos, daqueles que lhe fazem falta, que não vão apreciar partilhar um espaço fechado com um equipamento deste tipo em funcionamento. Por algum motivo a Califórnia baniu a venda de geradores de ozono para residências, onde o objectivo era estarem ligados para continuamente purificarem o ar, reservando-os apenas para profissionais que os sabem utilizar e aproveitar as suas muitas vantagens.
Este foi o tema da Operação Stop da Rádio Observador, cujo podcast pode ouvir aqui.